30 de dezembro de 2011

Feliz Ano Novo


        A festa de passagem do ano envolve rituais simbólicos criados para festejar, ou destacar o fim de uma etapa e a chegada de outra. Fogos, champanhe, lentilhas, abraços, gritos, pulinhos, roupas brancas integram o rito de passagem em que o ser humano faz uma espécie de avaliação de pontos positivos e negativos da sua vida. Com o ritual procura despir-se de crises, vícios, problemas, perdas, angústias e, simultaneamente, projeta sonhos, atualiza projetos, reorganiza a vida e vislumbra um tempo novo e promissor. Alguns rituais e comidas são involuntariamente “religiogizados”, recebem significados mágicos e espirituais, tais como: boa sorte, dinheiro fácil, fartura, afastamento de maus espíritos, e outros.
       Esses rituais de passagens, também as festas de aniversários e jubileus, com a marcação do tempo em ciclos são milenares. Estão ligados à necessidade do ser humano de construir segurança a sua vida, de antecipar certezas que não conhece, mas que espera. Geram bem estar e fortalecem a esperança. Contribuem para a saúde mental.

O “reveillon” tem o poder de tocar milhões de pessoas de diferentes culturas e religiões. Tornou-se um espetáculo humano que subverte e substitui outros rituais com propósitos semelhantes.Em francês, a palavra ‘réveillon’ remete a vigília, ao ato de estar acordado. Afinal é preciso marcar a passagem do velho para o novo com energia e vibração.

        A Igreja cristã, por exemplo, com o seu calendário litúrgico que marca a passagem para o novo ano no quarto domingo antes do natal, perdeu o seu impacto. Pouquíssimas pessoas da Igreja cristã dão valor ao rito eclesiástico e a sua liturgia.  Pro isso, os cristãos, impactados pelo ritual do réveillon, sem perceber alguma contradição com a proposta da sua Igreja, participa da festa do ano novo na virada do dia 31 de dezembro para o dia 01 de janeiro.


Então, mais um motivo de festa: FELIZ ANO NOVO! 

Guilherme Lieven

9 de dezembro de 2011

Água, fonte de vida

Em todos os tempos, as águas foram testemunhas e fonte de vida ao abrigarem de forma privilegiada as relações humanas. Lembramos, por exemplo, do tempo em que, às margens dos rios as mulheres lavavam roupas e utensílios domésticos, trocavam saberes, repartiam os sofrimentos e criavam poesias e melodias.  As águas refrescavam e alegravam as crianças, jovens e adultos. Nelas eles pulavam, nadavam, brincavam, ouviam e repartiam a vida.

Água, fonte de vida
No pé da casa você faz uma cisterna
E guarda a água que o céu lhe enviou
É Dom de Deus, é água limpa, é coisa linda
Todo idoso, o menino e a menina
Podem beber que é água pura e cristalina.

(da poesia “Águas de Chuva” de Roberto Malvezzi)


A ÁGUA, UM MEIO QUE REVELA DEUS À HUMANIDADE

Onde há vida, há água, onde há água, há vida. A água é fonte de vida e meio que facilita a relação do ser humano consigo mesmo e com Deus.
A maioria dos povos crê que a água é fundamental para a manifestação do amor divino. Narrativas religiosas antigas contam que o ser humano foi feito da água, saiu da água para a terra.
Os povos indígenas, herdeiros de culturas antigas, adoram a água como manifestação divina, morada dos Espíritos. Para eles os rios e fontes são lugares sagrados. Também as chuvas são vistas como água sagrada.
Para os povos andinos, a água é o primeiro presente divino, o ser humano é visto como formado mais de água do que de terra.

8 de dezembro de 2011

Ezequiel 34.11-16, 20-24


Neste domingo, denominado Cristo Rei, celebramos o encerramento do Ano Litúrgico. Destacamos o Deus presente no quotidiano, que acompanha e participa da história, que cria sinais do novo que há de vir. O Deus superior aos poderes da morte, que resgata, acolhe e orienta aos dispersos.
As palavras do profeta Ezequiel anunciam a soberania e a autoridade de Deus para um povo derrotado, disperso e desacreditado. Certamente o profeta estava entre os deportados para a Babilônia, pelo rei Nabucodonosor, no exílio de 598 a.C. Ezequiel aponta os erros praticados pelo povo que ouve a palavra, mas não a põe em prática, deturpa e suaviza o juízo, cultiva a ambição e são indiferentes diante das desigualdades. O profeta anuncia a soberania de Deus sem omitir a denuncia da corrupção e das injustiças.
Ainda hoje convivemos com a adulteração da mensagem bíblica, com leituras falsas da presença salvadora de Deus em nosso contexto. Ainda há povos dispersos e no exílio, sem forças para a resistência, dopados por mensagens que escondem os valores da dignidade humana, o juízo, e subvertem a presença salvadora de Deus.
Nos bairros das nossas cidades encontramos comunidades humanas em busca de trabalho, lazer, espaço, saúde, sentido e bênçãos para a vida, marcadas pela dispersão, privadas da sua história e da esperança. Vivem sob o impacto da pluralidade religiosa, revestida de ritos e discursos com base na Palavra de Deus, nem sempre fiéis, ou sob a graça do Deus que tem autoridade, presente na história, vencedor da morte e Criador do reino da vida plena, já sinalizado entre nós.
Da mesma forma, cada um de nós confronta-se diariamente com a mobilidade social e econômica, repleta de ofertas e mensagens, que nos tornam reféns de um messianismo histórico, despido da graça, da misericórdia de Deus e da esperança. Gera angústias, medos, dúvidas, violência e doenças. Mesmo quando a busca é por proteção, segurança e ajuda o que se encontra são falsas propostas e mensagens, que passam por ofertas de benefícios, curas e poderes sagrados, limitados aos recursos e á história humana.
O profeta Ezequiel no contexto de desgraça, desigualdade, injustiça e confusão reapresenta ao povo a soberania do Deus pastor: livrarei as ovelhas dispersas. Cuidarei delas para que tenham lugar, água, alimento, descanso e saúde (– Para Martim Lutero: “o pão nosso de cada dia”). O profeta resgata o Deus pastor que se importa com o seu povo, que se coloca ao seu lado e participa da sua história.
Ao mesmo tempo Ezequiel anuncia o Deus rei e juiz que se defronta com a desigualdade e a injustiça. O Deus que no contexto de violência, opressão e morte, na realidade em que convivem “ovelhas gordas” e “ovelhas magras” cultiva a justiça. O profeta anuncia o Deus Príncipe, promotor da paz, gerador da igualdade, o mesmo que cuida, acolhe, alimenta e salva.
Em nosso tempo somos chamados para ouvir e, pela fé, praticar a mensagem bíblica de Ezequiel. Essa palavra profética não nos é estranha. Conhecemos a obra salvadora do Deus Pastor e Príncipe da Paz, que em Jesus Cristo instaurou no mundo o reino soberano do amor, da graça, da paz e da justiça. O Cristo que agora nos convida: “Vinde, entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.” (Mt 25.34)

Mateus 3.2, - “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”


Esta palavra bíblica vem do discurso de João Batista, que anuncia a chegada de um novo tempo, do reino dos céus, da presença de Deus no mundo. Pelo ritual do arrependimento propõe a preparação para viver essa novidade, um recomeço de vida em comunhão com Deus.
Os relatos bíblicos indicam que a chegada da nova aliança de Deus ao mundo, realizada em Jesus Cristo, gerou as primeiras comunidades cristãs que, com o tempo, agregaram a sua vivência de fé rituais de recomeço, por exemplo, o batismo, a confissão de pecados acompanhada do anúncio da graça, imposição de mãos, e outros gestos mais tarde incorporados ao calendário das Igrejas cristãs.

Deus Pai, Todo Poderoso

Em nosso tempo o Deus Pai, todo poderoso já é um dos mais desconhecidos. A pluralidade, o sincretismo e a mobilidade religiosa relativizam a existência e a revelação de Deus. Religião e fé transformaram-se em uma opção e produto, relacionados ao gosto pessoal. Cada um escolhe o seu deus, o seu ritual, a sua verdade, a sua salvação. Até mesmo em nossas comunidades encontramos pessoas que recitam o Credo dos Apóstolos e confessam sua fé em Deus Pai, todo poderoso, referindo-se a formatação que elas mesmas criaram de Deus.
Por sorte e graça, Deus mesmo se revela. A nossa fé vem da sua ação. Ele vem a nós. Apesar das forças que obscurecem a sua presença no mundo, Ele mesmo proclama as sua glória e anuncia as suas obras (Sl 19.1). A maior revelação do Deus Pai, todo poderoso está em Cristo. O Pai nosso, em Jesus tornou-se pessoa humana. Através Dele nos acolheu como filhos e filhas e revelou o seu amor, a sua misericórdia. E permitiu o uso da categoria humana “Pai” para comunicar a sua proximidade, proteção e autoridade.
A revelação de Deus, através do amor, identifica o seu poder. O Deus Pai, amor e reconciliação é todo poderoso (Rm 5.8). O seu enorme poder se traduz em ação de graça e bondade, que transforma, vence o mal e antecipa para esse mundo os sinais de um novo tempo com uma nova realidade. O poder de Deus se revela na fraqueza (1 Co 1.18). Na arte sagrada de dar carne aos ossos secos, de restabelecer o que, aos olhos e à sabedoria humanos, já estava perdido.
A presença e a ação de amor de Deus no mundo nos ajudam a ver os seus sinais. A sua Palavra e o testemunho articulam o nosso entendimento e a experiência da fé. Assim, o Deus Pai, todo poderoso fala conosco e nos acolhe. Nesse movimento maravilhoso escapamos do limo da relatividade da fé e da sedução de construir o nosso próprio deus, mágico e restrito as nossas vontades, ordens e vaidades.

Oração: Deus Pai, todo poderoso, pelo poder do Espírito Santo, aumenta a minha fé. Deus de amor, através da tua Palavra e do testemunho de muitos fala comigo e permite que eu veja os teus sinais. Sob a tua graça e em comunhão com o outro quero viver. Amém
Guilherme Lieven

O Apóstolo Paulo e o Ecumenismo

Ecumenismo desafia os cristãos para viverem a fé na pluralidade, na diversidade, na provisoriedade,  unidos no Corpo de Cristo sob a graça do Deus da grande casa.

Podemos dizer que Paulo foi um apóstolo ecumênico?  Sua trajetória pessoal e de apóstolo indicam um perfil ecumênico? Claro que não podemos remeter essa expectativa e conceito para aquele tempo das primeiras comunidades. Mas as comunidades daquele tempo visitadas a partir desse desafio nos surpreendem.
Nasceu em Tarso. No primeiro século, a principal cidade da província da Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. Tarso era uma cidade de fronteira, um lugar de encontro do Leste e do Oeste, e uma encruzilhada para o comércio que fluía em ambas as direções, por terra e por mar.
Foi também cidadão romano. E Judeu, “israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim” (Rm 11:1). Residiu por muitos anos em jerusalém. Um homem das muitas viagens e convivência com as grandes e pequenas cidades. Um homem que conheceu a pluralidade religiosa da cultura grega e do Império.
Foi blasfemo, perseguidor dos cristãos “. . . noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade” (1 Tm 1:13).
Paulo renasceu, foi convertido. Foi aoclhido por um apóstolo residente em Damasco, por nome Ananias, tornou-se amigo e conselheiro, um homem que não teve receio de crer que a conversão de Paulo’ fora autêntica. Mediante as orações de Ananias, Deus restaurou a vista a Paulo.
Sua teologia e sua missão sofreu resistência. Mesmo assim fez muito pela difusão da mensagem do Deus da graça, da cruz  e da ressurreição entre os gentios, E tornou-se o principal apóstolo.
- Paulo participou da revelação de Deus, através da histórica. E ele mesmo a interpretou como apóstolo e  testemunha.

3 de outubro de 2011

Diaconia: Fé e Obras

As Comunidades de Confissão Luterana no Sudeste Brasileiro dão visibilidade à visão teológica e bíblica da fé conjugada como o serviço a Deus. Ao ser traduzido pela rica palavra “diaconia”, essa característica bíblica / confessional destaca a dimensão central da vivência da fé em amor. É a prática da comunhão com Deus e com a sua vontade em relação ao outro e à realidade. (”Toda a lei está contida numa só palavra: amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Gl 5.14).

30 de setembro de 2011

Violência, o que ouvir e o que falar?

A violência é uma ameaça real. Está intensamente disseminada em nosso meio. É raro encontrar alguém que nunca foi vítima de violência ou que não conheça alguém próximo que tenha sido. A violência agora é um fenômeno da terceira pessoa do plural. Quem é ela? De onde ela vem? Que poderes ela tem? Ela tem o poder de nos vender e de nos comprar, de invadir o nosso corpo e de nos matar. Adentra em nossas casas, em nossas escolas, em nossas ruas e em nossas vidas. Violência, o que ouvir e o que falar? “Eles querem te vender, eles querem te comprar. Querem te matar a sede, eles querem te sedar. Quem são eles? Quem eles pensam que são? Vender...comprar...vedar os olhos, Jogar a rede contra a parede. Querem te deixar com sede. Não querem nos deixar pensar. Quem são eles? Quem eles pensam que são?” (3ª Pessoa - Engenheiros do Hawaii) A violência é uma ameaça real. Está intensamente disseminada em nosso meio. É raro encontrar alguém que nunca foi vítima de violência ou que não conheça alguém próximo que tenha sido. A violência agora é um fenômeno da terceira pessoa do plural. Quem é ela? De onde ela vem? Que poderes ela tem? Ela tem o poder de nos vender e de nos comprar, de invadir o nosso corpo e de nos matar. Adentra em nossas casas, em nossas escolas, em nossas ruas e em nossas vidas. Conseqüentemente, um grande segmento da população, na falta de espiritualidade, vazio de valores e de objetivos para a vida, feridos usa a violência como meio de expressão, como um estilo de vida. Como resistir? O que fazer e como ajudar? O que ouvir e o que falar sobre a violência? As imagens e informações sobre a violência em nossas cidades se repetem diariamente. Na mídia a violência já atingiu o ápice da vulgarização, passando a sugerir a própria violência como solução para os conflitos. O poder e o impacto da violência e a forma como ela é apresentada para a população interfere diretamente no quotidiano das pessoas e comunidades, determinando comportamentos, questionando conceitos antes de consenso e, entre outros danos, gerando o medo obsessivo que legitima a fuga, a omissão e a indiferença. Estamos entre a guerra e a morte, entre a polícia e o bandido, entre a agressão e o medo. Convivemos com os abusos em vários níveis, com a injustiça institucionalizada, com as desigualdades cruéis e injustificadas. Trabalhamos e descansamos em meio aos poderes da morte. Aceitamos a violência contra as crianças, contra as mulheres, contra os jovens, contra os idosos, contra as instituições que salvam vidas, contra a natureza e o meio ambiente. Em meio aos medos e angústias, clamores e prantos, aprendemos a conviver com a violência como um fenômeno invencível. Desta forma, aos poucos tudo em volta vai se deteriorando, também os nossos valores, nossas verdades, nossas heranças culturais e espirituais. Perigosamente somos educados e nos educamos para conviver com a violência e suas conseqüências, incorporamos o medo, o sofrimento e a morte. A sensação de insegurança é plena. O medo é, na mesma proporção da violência, brutal. Amputa a vida comunitária, a construção de horizontes e de esperança. Impede o controle da própria vida. A violência e a forma como ela é divulgada, experimentada e assimilada cria e difunde o medo exacerbado, que toma proporção de doença mental, que vai de neurose e paranóia a síndrome do pânico, causando transtornos físicos (úlcera, taquicardia, hipertensão e tensão muscular). Atingidos pela violência, acometidos do medo somos chamados para ouvir e falar sobre a violência como pessoas que confiam no poder do Espírito Santo, aquele que sopra vida para além dos nossos limites, que tem o poder de criar a vida a partir da morte, de perdoar, sarar e reconciliar. O Espírito Santo proclama que a violência será vencida pelo caminho da reconciliação. Ouvimos da Palavra de Deus que a solução não é fugir e construir “ilhas”, não é imitar a maioria, distanciar-se do problema, fugir da realidade e da cruz, silenciar-se, ficar indiferente e fechar os vidros do carro, aumentar as grades e os muros, atualizar os alarmes e as armas. Como parte da comunidade cristã falamos que a cura e a reconciliação com a vida e com Deus não serão atingidas através da força e de leis mais rígidas e vingativas. A nossa espiritualidade que brota da Palavra e da ação de Deus, vivida em comunidade, alimentada pelo Espírito Santo subverte os poderes da violência. Com ela exercemos cidadania como agentes de paz e reconciliação. O que ouvir e o que falar em meio à violência e seus poderes? Não podemos mentir, muito menos imitar os que brincam, simplificam e usam a violência para lucrar, sedar e confundir. Não temos o poder de transformar o mundo, mas confiamos na graça de Deus, na sua presença salvadora e transformadora em nossa realidade de cruz, de violência. Cremos que esta presença de Deus entre nós, através do Cristo que venceu a morte e ressuscitou desperta esperança, vocaciona as Igrejas, as comunidades, as pessoas e as instituições para resistirem à violência, criando espaços para a paz, para a esperança, para a solidariedade, para a educação, para a dignidade, para o consolo e a fraternidade.
(Guilherme Lieven)

15 de setembro de 2011

Eu quero viver em paz

Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou; não lhes dou a paz como o mundo a dá.
Não fiquem aflitos, nem tenham medo. (João 14.27)

A verdadeira Paz é um processo em ação. Paz não convive com a injustiça. 
Temos paz em nosso mundo?  O mundo contém a paz? Temos um mundo e o nosso “mundo”. O nosso “mundo” é sempre do tamanho do nosso umbigo, quando muito, do tamanho do nosso horizonte.  Avaliamos o mundo inteiro com os critérios do nosso pequenino mundo. Percebo que somos limitados na visão de mundo e no entendimento e controle do nosso próprio “mundo”, da nossa própria vida. Essa dificuldade, por exemplo, nos impede de perceber, de receber, o presente anunciado por Jesus Cristo: a paz.  Aquela que elimina aflição, a angústia e os medos, que cria coragem e liberdade.
Porém, cremos na vida e sonhamos com a paz, apesar dos nossos limites, da nossa fragilidade, da nossa condição efêmera.  Convivemos com a dinâmica de vida que pulsa entre os extremos, da morte para a vida.  No dia a dia absorvemos um diálogo controvertido e constante com a realidade do mundo, com a realidade da própria vida, sob os impulsos da resistência contra a morte, sob os estímulos da fé e da esperança, da fé na vida e da esperança na paz. 
Para simplificar nossa reflexão focamos a dicotomia, ou os extremos, entre a paz e a violência.
Paz e violência não são fenômenos naturais ou sobrenaturais. Paz e violência fazem parte das relações humanas e sociais. A violência, por exemplo, não é uma doença ou uma epidemia. Ela é real e é expressão da ação humana. Ela já está incorporada em nós de forma direta, estrutural e cultural. Verificamos que não basta somente resistir à violência, ou à cultura da violência, mas é preciso optar por uma cultura da paz. Trata-se de uma novidade de vida que pode calhar em nossa cabeça, em nossas relações pessoais e comunitárias, em nossas casas,  ruas, comunidades, cidades, em toda a nossa vida.

A verdadeira paz é um processo em ação, um grande movimento de mudança, de transformação, puxado pelas pessoas que são violentadas, ameaçadas, caladas e desclassificadas. A paz é uma grandeza a ser vivida que sobrevive a cultura da paz privatizada. Por exemplo, o jargão; deixe-me em paz... ou,  “Eu quero uma casa no campo, um quintal, um jardim... eu quero viver em paz” – significa eu quero viver isolado, indiferente, protegido de tudo e de todos.
Paz não convive com a injustiça, com a passividade e a indiferença. A paz leva a solução dos problemas, dos conflitos, conduz para a dignidade e a vida em plenitude. A paz desenvolve dentro da pessoa humana, na mente e no corpo, ancorada a um estilo de vida renovado. A paz não é apenas a ausência de conflitos, mas um processo humano que passa por um caminho de entendimento, de respeito, de diálogo, de superação, de espírito bom e de cooperação. O ser humano não nasceu com os valores e a noção da paz. A paz é uma construção individual e coletiva, fruto de um consenso construído no processo de relacionamento das pessoas, nos extremos entre a morte e a vida.
Relacionamos com pessoas que são a favor da cultura da paz. Mas, lhes falta uma interação com grupos e comunidades que caminham no caminho da paz. Conhecemos pessoas desligadas da realidade e indiferentes aos conflitos e à violência.  Também há pessoas entre nós que são a favor da pena de morte, a favor da violência pela violência, caminham tranquilamente pelo caminho do conflito e da guerra. No seu horizonte esse é o melhor caminho. Outras buscam abstrair-se da realidade através da música, da droga, do isolamento e da violência. E muitos, por graça, acreditam no presente de Cristo, na paz. Crêem na vida e vivem no caminho da paz.

Guilherme Lieven

8 de setembro de 2011

Liberdade Cristã

A Reforma do século XVI, liderada por Martim Lutero, foi um poderoso movimento de luta pela liberdade. Lutero promoveu um movimento de renovação da igreja cristã, que atingiu a vida de pessoas e de comunidades. Já em 1520 afirmou que "um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém - pela fé. O cristão é servidor de todas as coisas e submisso a todos - pelo amor." A fé e a graça de Deus libertam todos e todas da lei (para ser salvo deve fazer isso, deve fazer aquilo...), do pecado e da morte. Colocam todas as pessoas no mesmo nível; todos são dependentes da graça de Deus (Romanos 8). A Reforma influenciou e criou novas experiências com Deus; relativizou doutrinas e poderes eclesiásticos; e codificou teologias novas para legitimarem espiritualidades que religam a pessoa humana diretamente com Deus, tornando-a livre para participar da criação de nova vida.

15 de agosto de 2011

Coragem para quê?

Vi crianças, em torno de trinta e cinco, ganharem flautas. Após a cerimônia de doação umas arriscaram alguns sons, outras colocaram o instrumento de lado. Umas demonstraram coragem para aprender, e a esperança de um dia tocar fluentemente aquele instrumento. Outras não conseguiram entender completamente o presente.
Da Palavra de Deus recebemos coragem, paciência e esperança para participar do grande coral que entoa, com liberdade, a música da vida e participa da orquestra da missão de Deus. As dádivas de Deus, seu amor e sua graça, nos impulsionam e, pela fé, nos apaixonamos pela vida revelada em Jesus Cristo.

Tudo que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as escrituras dão. (Romanos 15.4)
Até aqui tudo bem. Concordamos com o apóstolo Paulo. Mas, está faltando algo.
Coragem pressupõe desafio, dificuldades, ameaças. Paciência, por sua vez, indica que acontecerão frustrações, vontade de desistir, dúvidas e controversas. E esperança é resultado da situação fragmentada, incompleta, ainda em processo, sinais são visíveis, mas o fim ainda não chegou.
Há um vazio, as controversas são muitas. Não são poucos os que abandonam seus instrumentos.

O que está faltando é a coragem de ver no outro uma possibilidade de comunhão, de acolher o outro como irmão. Sumiu a coragem e a paciência para dar nomes aos poderes da morte instalados em nós, em nossas CASAS, em nossa comunidade e na cidade. Concluiu-se que os poderes da morte institucionalizados são imutáveis. Assim desapareceu também a esperança. Esperar o quê se há consenso de que tudo pode permanecer como está, ou que não há nada por fazer - a orquestra silenciada não voltará a tocar.
Cristo Jesus nos deu a vida. Os vivos necessitam da Palavra de Deus para nela encontrar coragem, paciência e esperança. Afinal as nossas perdas e desafios são muitos. Estamos ameaçados pela escravidão, e pela idolatria da exclusão e da morte.
Guilherme Lieven

11 de agosto de 2011

A inversão das coisas

Eu aprendi há muito tempo que é fácil inverter as coisas. Por exemplo, odiar quem nos ama. Priorizar as demandas secundárias e empurrar para depois as principais necessidades. Transferir ao outro as próprias responsabilidades. Satisfazer-se hoje para se enlouquecer amanha. Viver movido pelo passado, como se o barro valesse mais do que o oleiro.

Esse perigoso comportamento e visão das coisas seduzem as pessoas humanas ao ponto de comprometer aquilo que lhe é mais sagrado. Remetendo essa questão à Bíblia constatamos que os profetas foram contundentes a respeito da inversão dos valores, também dos conteúdos sagrados. Isaías (29.13;16): “Esse povo ora a mim com a boca e me louva, mas o seu coração está longe de mim”; “Vocês invertem as coisas, como se o barro valesse mais do que o oleiro”. Denunciaram a inversão dos rituais e tradições, tais como, o jejum, os sacrifícios, o dia do descanso, a profecia, a fidelidade a Deus.
Continuamos expostos à inversão das coisas. Até parece que perdemos o “juízo”. Minha mãe sempre alertava: “Menino, você perdeu o juízo?” Fomos convencidos de que a nossa opinião é como barro. Pode ser manipulada pelo mercado, pelas propostas religiosas, pelas mensagens embrulhadas por referencias bíblicas. Também pelos interesses dos poderes constituídos.
Partilho aqui o convite para que recuperemos nossa atenção, nosso zelo pelo fundamento das coisas. Somos oleiros das nossas escolhas, do sentido da vida ou somente barro, massa de manobra, pote vazio que aceita guardar qualquer coisa?

“Esse povo ora a mim com a boca e me louva, mas o seu coração está longe de mim”; “Vocês invertem as coisas, como se o barro valesse mais do que o oleiro”. Isaías 29.13;16

Convido você para refletir. Encontre na coragem e na sabedoria dos profetas que denunciaram a inversão das coisas uma chave para ativar o discernimento e a atenção para os momentos de escolha, opções, adesões e de construção de valores fundamentais livres e sagrados.

Um exercício: O meio ambiente, a Criação de Deus, é barro ou oleiro?

2 de agosto de 2011

Rio Tietê, uma mensagem


A história do Rio Tietê (Em tupi guarani: caudal volumoso) é pouco conhecida e valorizada. Ele se destaca entre os rios de pior qualidade da água que atravessam as grandes cidades do Brasil. As pessoas que transitam próximo ao Tietê ignoram sua história, grandeza, recursos hídricos e a sua milagrosa beleza na nascente.
A situação do Rio Tietê, no entanto, inspira a confirmação da mensagem bíblica de salvação pela fé. Partilho a minha interpretação.
Nasce no município de Salesópolis, São Paulo, a 1.027 metros acima do nível do mar, onde emerge 3 metros cúbicos de água por hora. E dali percorre 1.136 km, corta todo o Estado de São Paulo e segue até a foz com o rio Paraná. Passa por 62 municípios. Um rio com curso contrário. Mesmo nascendo a 22 km do mar segue para o interior, para o oeste, invertendo a lógica de que todos os rios correm para o mar.
A nascente do Rio Tietê tem as características do milagre, beleza e perfeição da Criação de Deus. Podemos afirmar que as pessoas humanas também nascem tal como o Rio Tietê, com exuberância, beleza, potencial, missão, um curso a seguir.

Mas em seu percurso depara-se com a realidade do descaso, do desrespeito, do abuso, da instrumentalização vampira, da destruição e morte. A população das cidades, com sua ordem social, cultural, política e econômica descarta o rio e sua riqueza, missão e mensagem. Crucifica! Crucifica! O rio flui assassinado, morto, por uma expressiva extensão nas mediações da Região Metropolitana de São Paulo.
Essa etapa do curso do rio remete aos relatos da crucificação de Jesus, o Filho de Deus, o Cristo. Pode ser comparada com a situação e realidade humanas, marcadas pela violência, injustiça, desrespeito, desigualdades, guerras, destruição e morte. Destacamos também os aparelhos constitucionais ou não de usurpação, manipulação e exploração, forças que efetivam a morte.
Porém o rio do contrário resiste. Adiante em seu caminho encontra meios naturais de transformação. Alguns quilômetros depois da Região Metropolitana de São Paulo, quase que milagrosamente, vai se limpando. Volta a servir à natureza e aos humanos com seus recursos hídricos.  Uma verdadeira RESSURREIÇÃO.
Esse processo de renovação pode ser comparado com a proposta de salvação de Deus que incluir o renascimento, “a nova criatura”, o “simultaneamente livre e pecador”, o amor e o serviço ao outro, a liberdade e perdão pela fé, e finalmente a ressurreição, a nova vida em plenitude.
A sina do Rio Tietê tem muitas mensagens, uma delas é a confirmação que muitas grandezas da Criação de Deus comunicam a salvação, a graça e o poder de Deus, e os aspectos do seu Reino.

29 de julho de 2011

Salvem as Águas

 
Salvem as Águas - Clipe com imagens tomadas na região de Itacaré - Ba


Salvem as águas, e salvem vidas
Águas benditas, não podem faltar.
Não as poluam, não joguem lixo
Não desperdicem, não deixem faltar.

Salvem os mares. Salvem os rios. Salvem os lagos.
E nossos mangues vamos preservar.

As cachoeiras, os pantanais, mares e rios são essenciais.
Cachoeira do Tijuipe - Itacaré - Ba
Águas sagradas, águas de Deus.
Águas benditas permitem viver.

Salvem as águas. E salvem vidas. Mares e rios, lagos e mangues
Não podem morrer

Salvem os Mares. Salvem os rios. Salvem os lagos.
E nossos mangues precisam viver.

 (Guilherme Lieven)

6 de julho de 2011

Perdas

Perder tempo. Perder o emprego e o dinheiro. Perder amigas e amigos. Perder a paciência e a ternura. Perder a vez, a voz. Perder o lugar e o rumo. Perder a hora. Perder o sentido e a memória. Perder a dignidade e a confiança. Perder a esperança. Perder os filhos e a família. Perder o pai e a mãe. Perder a segurança. Perder a liberdade, a paz e a fé.
Já nos acostumamos a tal ponto com as perdas que não nos damos conta daquilo que nos faz falta. Aprendemos a viver mal, viver menos, viver pouco. Com facilidade nos adaptamos aos limites que nos são impostos e aprendemos a conviver com as perdas do dia-a-dia, como se não houvesse alternativa, ou como afirmou o poeta, como se não houvesse amanhã. Aceitamos a destruição dos recursos vitais.
Convivemos com os abusos em vários níveis, com a injustiça, com as desigualdades, com os poderes da morte. Aceitamos que minorias sejam exploradas e que milhares de crianças no mundo sejam violentadas. Aprendemos a conviver com a violência, as injustiças, com a insegurança. Até a morte já não nos assusta mais. Tudo vai se deteriorando aos poucos, também os nossos valores, nossas verdades, nossas heranças culturais e espirituais. Tem sempre alguém, travestido de sabedoria pós-moderna que ridiculariza e cospe em tudo que para nós foi sempre valoroso e belo. Perigosamente somos educados e nos educamos para o sofrimento, não reclamando mais das perdas.
Atualmente perdemos sempre e mais. Entre tantas perdas, perdemos os critérios que nos ajudariam a identificar os verdadeiros sinais de vida, que também fazem parte do nosso quotidiano. Já não nos damos conta daquilo que é belo e sagrado, daquilo que é eterno, do amor de Deus, derramado de forma incondicional em nosso meio e em nossas vidas. É preciso admitir: estamos perdendo aquilo que nos é mais precioso, a coragem de viver com dignidade e liberdade, a coragem de começar de novo, a coragem de crer e amar.
Não perca esta tarde, esta noite e o amanhã!

5 de julho de 2011

Descanso e Comunhão

Estou certo de que o descanso, a comunhão e o aprendizado não combinam com trabalho, obrigações, regras, controles, exclusão e anulação das emoções, da subjetividade e do espírito das pessoas – dons, identidade, cultura, história, sonhos e experiências de vida. Ao ler sobre o convite de Jesus para descansar, ter comunhão com ele e aprender dele (Mateus 11. 28-30) lembrei-me da Rua 7 de abril do centro de São Paulo, paralela à rua da sede do Sínodo. Durante o dia, a rua e as calçadas estão sempre cheias de pessoas, quase todas paradas ou sentadas, isoladas ou conversando em pequenos grupos. Naquela rua estão situados grandes conjuntos de escritórios de prestadoras de serviços, o maior deles é de uma empresa de telemarketing. Os funcionários dessas empresas, nos momentos de intervalo fogem do seu espaço de trabalho, geralmente pequeno, controlado e individualizado, e vão para a rua, onde encontram um ambiente público que, mesmo precário, oferece oportunidades com traços de liberdade, alternativas ao do ambiente de trabalho.
Estou certo de que o descanso, a comunhão e o aprendizado não combinam com trabalho, obrigações, regras, controles, exclusão e anulação das emoções, da subjetividade e do espírito das pessoas – dons, identidade, cultura, história, sonhos e experiências de vida. Certamente por isso associei o apertado espaço da rua 7 de abril, ocupado por uma multidão sedenta de liberdade, de leveza, de um “novo ar”, de amizade e de comunhão com o convite de Jesus. “Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso. Os deveres que eu exijo de vocês são fáceis, e a carga que ponho sobre vocês é leve.”

O convite de Jesus indica um deslocamento de um espaço carregado, pesado, estonteante, para um outro lugar, onde são possíveis a tranqüilidade, a partilha, a solidariedade, o consolo, a cura, o aprendizado e os compromissos com a vida. Sabemos que nem tudo pode ser deslocado ou separado, também os nossos valores e a nossa espiritualidade não podem ser separados dos ambientes e espaços de trabalho, de tristeza, de doença, de perda e de morte. Mas, espaços alternativos e definidos podem ser criados para facilitar e fortalecer a nossa liberdade, a nossa paz, a nossa esperança e nossa participação no Reino de Deus, na missão de Deus. Às vezes não há alternativa, mas o bom é tomar banho no banheiro e cozinhar na cozinha.
Proponho avaliar os nossos espaços e aspectos do quotidiano da nossa vida. Em nossas comunidades são oferecidos espaços para abrigarem o convite de Jesus? E em nossas casas e apartamentos, ainda permitimos neles um pedacinho da rua 7 de abril? Arrisco mencionar que em algumas residências tudo é tão certinho, organizado e controlado que não há espaço para descanso, comunhão e aprendizado. Geralmente os seus moradores estão sempre em busca de alternativas. Em outras casas tudo está tão apertado, improvisado, congestionado e perigoso, tal como a Avenida Brasil, que também não conseguem abrigar o sublime convite de Jesus. E não podemos esquecer daqueles e daquelas que não tem casas e nem abrigos, que estão sempre em movimento pelos corredores e elevadores, longe do trabalho e da rua 7 de abril.

As estações, a primavera

As Estações, a Primavera
É primavera no hemisfério norte. Para nós ela chegará somente após o inverno. Mesmo que em nosso hemisfério as diferenças entre as estações não são tão nítidas é possível perceber quando uma nova estação chega. Não é primavera. O perfume ainda não mudou. Poucas flores estão por aí. Em muitas circunstâncias e situações e em todas as estações a vida mostra a sua força, ela prossegue. Mas na Primaverá é fácil aguçar a sensibilidade e perceber que a vida está renascendo, está manifestando o seu lado belo e sedutor com suavidade, fragrâncias e cores.
Aprendemos aos poucos a linguagem da natureza. Deixamos de destacar somente a sua fúria, aquela que se manifesta através dos furacões, dos terremotos, das secas e das enchentes, e passamos a olhar com carinho a sua beleza, a sua força vital e os seus fenômenos que, antes, gestam a vida. Compreendemos que a natureza e os seres humanos se interagem, são dependentes um do outro, que a vida e a manutenção dos recursos naturais dependem da qualidade desta interação. Já é consenso em alguns segmentos da comunidade humana que o nosso mundo interno, saúde ou doença psicológica, saúde ou doença emocional, carências, afinidades, sonhos, fantasias, medos, angústias, alegrias e tristezas, sofre influência e interferência direta do mundo externo, da luz, dos aromas, do calor, da fauna, da flora, do ar, da água, das cores, da chuva, do vento e da terra.
Na primavera esta interação entre os seres humanos e a natureza se intensifica, é favorecida pela beleza e exuberância do mundo externo. Podemos festejar: é primavera!
Creio que o louvor à primavera, descrito acima, está de bom tamanho. Mas, na verdade, lembrei-me da primavera para partilhar uma outra reflexão. A nossa vida é uma estação permanente de renovação e crescimento, assim como o é a primavera.
A nossa renovação e crescimento passam pela combinação de várias experiências feitas com o outro, com Deus e com o meio em que vivemos. Crescemos e nos renovamos com  os limites e com as crises. Necessitamos de referências, de valores estruturais e de horizontes, assim como de cuidados, de estímulos e da intervenção formativa do outro, especialmente quando marcados pela liberdade, partilha e fé.
No decorrer do tempo, sempre primaveril, as nossas experiências de vida se refazem. Alguns dos nossos referenciais, conteúdos de fé, fundamentos e horizontes se transformam, outros permanecem os mesmos para responderem, ou corresponderem, à dinâmica da vida que reage todos os dias diante de desafios e perguntas impostas pelas novas situações.
Somos vidas de Deus, dádivas de vida, chamadas por Cristo para viverem, por fé, esta renovação, incondicional e gratuita, que acontece através da dinâmica da vida, regida pelo evento salvífico da cruz e da ressurreição. Por isso, é compreensível dizer que somos, pela fé, pessoas que se renovam pela graça de Deus, que renascem e se transformam através de experiências que acontecem com o outro e com o mundo, mediadas pela vontade e pelo amor de Deus.
E partilho, agora, o mais importante dessa reflexão: numa realidade onde todos estão presos e limitados, feridos e marcados negativamente de várias formas e maneiras, somos desafiados a fazerem novas experiências de vida, que perfumem e embelezem o  mundo. Nossa vocação é esta. Nossos dons e capacidades são dádivas da graça de Deus, criadas para servirem e participarem da dinâmica sem fim da vida, aquela que se renova  e renasce todos os dias. E, para isso, o melhor caminho é a vida comunitária,  a vida em comunidade, porque ela nos oferece a combinação de várias experiências de vida com o outro, com Deus e com o mundo.

Gálatas 5.25-6.10 - Plantar e colher o bem

Gálatas 5.25-6.10 Conforme João 6.68, Pedro diz a Jesus que Ele tem a palavra da vida eterna. Não tem outro a ser seguido. Pedro pergunta a...