8 de dezembro de 2011

Mateus 3.2, - “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”


Esta palavra bíblica vem do discurso de João Batista, que anuncia a chegada de um novo tempo, do reino dos céus, da presença de Deus no mundo. Pelo ritual do arrependimento propõe a preparação para viver essa novidade, um recomeço de vida em comunhão com Deus.
Os relatos bíblicos indicam que a chegada da nova aliança de Deus ao mundo, realizada em Jesus Cristo, gerou as primeiras comunidades cristãs que, com o tempo, agregaram a sua vivência de fé rituais de recomeço, por exemplo, o batismo, a confissão de pecados acompanhada do anúncio da graça, imposição de mãos, e outros gestos mais tarde incorporados ao calendário das Igrejas cristãs.

 A proposta bíblica de arrependimento e recomeço é como um milagre. Afinal escapa ao controle da razão e remete a uma ação de fé, que se concretiza na realidade existencial da pessoa humana.  Tem a força de um processo que leva ao rompimento e, consequente, adoção de uma novidade, novidade de vida.
O recomeço proposto por João Batista não é um truque, ou um ritual sem sentido.  Não tem semelhança com a repetição da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada novo ano,  criando a impressão de que a vida é cíclica, que recomeça sem a opção e o envolvimento da pessoa humana. O arrependimento conjugado com o recomeço acontece quando a pessoa humana interage com Deus pela fé, e busca, ou aceita, a novidade de vida, o nascer de novo, dádivas do reino dos céus, da ação salvífica de Jesus. Não podemos confundir o recomeço antecipado pelo o arrependimento, com uma visão cíclica dos fatos e dos tempos, equiparada a uma retomada do passado, ou a um retorno.
 A Igreja e suas comunidades propõem, através do seu calendário eclesiástico, envolver cada pessoa no movimento arrependimento e recomeço. Oferece celebrações e rituais que acompanham um processo cotidiano de renascimento, o encerramento de uma etapa e o reinício de outra. No mês de novembro, por exemplo, confronta as pessoas com a escatologia, com o final dessa história e com  a esperança na plenitude do reino que nasceu no mundo em Jesus cristo. E, em dezembro, apresenta a proposta de preparação para o novo, qual seja festejar a chegada de Deus ao mundo, o natal. Para tanto designa os quatro domingos antes do Natal, denominados de Advento, como tempo de preparação, também de arrependimento, para viver um novo recomeço com o Deus que nasceu no mundo.
No natal as pessoas humanas são confrontadas e agraciadas com uma grande mudança, a fantástica revelação de Deus. E elas podem, pela fé, interagir com ela. Deus descobre o jeito definitivo e universal de tocar o mundo e as pessoas, através de um menino humilde e da mensagem do amor incondicional. Deus nasce e o mundo inteiro começa de novo.
Esse é o milagre. Perceber a chegada do reino dos céus no mundo e arrepender-se de todos os projetos e ações que matam. Comprometer-se com o natal da vida, que inclui a renovação, a limpeza, a regeneração – o recomeço.  
Esse fenômeno, de forma similar, faz parte do dia-a-dia de milhares de pessoas, que experimentam os pequenos milagres do recomeço: novo emprego, saída de longos dias no hospital, retorno à realidade após a prisão, divórcio, novo endereço, nascimento de uma neta, ou neto, perda de um ente querido, rompimentos, retorno das férias e tantos outros.
Com essa reflexão dou testemunho da necessidade e da eficácia do arrependimento que leva ao recomeço. É certo que podemos encontrar nesse processo a superação de conflitos, perdas, dores e sofrimentos, participar da construção de espaços onde habitam a justiça, a paz, o amor, a solidariedade, sinais do reino dos céus que estão presentes. E revelam a comunhão com o Deus da graça que, invariavelmente, conduz à liberdade e preparara as pessoas para agirem com criatividade no movimento sagrado que recria a vida e a paz.
O chamado e anúncio de João é como fonte de água viva, que refresca, acalma e anima. Tal como cama, depois de um dia e uma noite sem parar.

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