27 de dezembro de 2012

Abençoado Novo Tempo! Feliz Ano Novo!


Em 02 de dezembro iniciou o Novo Ano da Igreja, com o Primeiro Domingo de Advento. Neste início, nas comunidades da nossa IECLB, também foi lançado o Tema do ano 2013: “Eu Vivo Comunidade”! Esse Rito de passagem da Igreja, celebrado pelas comunidades de diversas denominações cristãs está fundamentado em profundos conteúdos teológicos, testemunhos, e na preparação para a celebração do Natal. As tradições e a criatividade cercam as mensagens de fé com símbolos, cores, gestos e grande mobilização e envolvimento de pessoas, famílias e comunidades.  Nesses dias e semanas milhares de pessoas são desafiadas, ajudadas, tocadas e transformadas pela ação maravilhosa de Deus, que nesse tempo se movimenta de forma incondicional com pessoas, entre pessoas e apesar das pessoas.  Quase invisível o amor de Deus transita e sobrevive, sem contaminação, em meio ao fenômeno humano e econômico de consumo e festas - antagônico a ação de amor de Deus - que se estabelece nas relações humanas hedonistas, apoiadas na sedução, quase sempre mediadas pelas mesmas cores e luzes inauguradas nos rituais das comunidades cristãs.
Passado o Natal entra em cena, torna-se pauta de agendas, notícias e movimentação de milhões de pessoas a “virada para o novo ano”, que chega acompanhada com sua história e tradições, e transfigurada em comportamentos especiais, atitudes, desejos e visões. Os rituais da “Virada” tem força e legitimidade política, social e, especialmente religiosa.
Mesmo fracas resistem ao tempo as celebrações do dia de São Silvestre que encerra o ano civil. Por muito tempo a lembrança do Papa Silvestre, que faleceu e foi canonizado em 31 de dezembro de 355, após governar a Igreja Cristã de Roma desde o ano 314, serviu de motivação para animar as pessoas a esperarem com confiança e alegria um ano novo melhor, mais próspero.  Mesmo confundido com a corrida de rua mais famosa do País, São Silvestre é lembrado como aquele santo que fez parte, junto com o Imperador romano Constantino Magno, de decisões que inauguraram novo tempo, nova era, através do Edito de Milão que transformou o cristianismo em religião oficial do Império, e do Concílio Ecumênico de Niceia em 325, onde se tornou consenso a divindade de Cristo. As celebrações de São Silvestre aproximaram os cristãos da esperança e da renovação, da visão peregrina de Novo Céu e Nova Terra.

 Com as informações e reflexões acima convido você, leitor, a celebrar a “Virado do Ano”  com uma visão crítica em relação  a exageros e, portanto, com mais simplicidade. Porém, é certo que precisamos de muita fé. Podemos nos inspirar na Palavra do Salmo 16.11: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente”.
Que o amor e a graça de Deus nos permitam passar para o novo ano com esperança e confiança, sem medo do novo, ao saber-nos conduzidos e na presença de Deus.

----------
Aproveito para partilhar com você que eu nunca fui convencido pelos rituais da “Virada para o Ano Novo”.  Minha tímida indiferença Leva em consideração a história dos povos antigos, tais como os egípcios, os habitantes da Babilônia, depois os gregos,  e os de hoje, chineses, judeus e muçulmanos que marcam a passagem de épocas de forma diferente, baseados em outros referenciais. Nós herdamos o calendário solar criado por Julio César (46 d.C), corrigido pelo Papa Gregório XIII em 1582. Sua correção aboliu 10 dias do calendário anterior, retificou os anos bissextos, trazendo a data do início de ano de março para 1º de janeiro e antecipando o Natal de 6 de janeiro para 25 de dezembro. A polêmica criada por esse novo calendário se estendeu até o século XVIII.  Esse é o calendário oficial adotado no mundo ocidental. Mas, existem outros!


15 de dezembro de 2012

O amor de Deus nos libertou



Deus cancelou o escrito de dívida, o qual era prejudicial, removeu-o inteiramente. Colossenses 2.14


Para os endividados com Deus essa notícia soou como uma agradável canção. Tornou-se motivo de festa. Eles ouviram e compreenderam que Deus, por amor e doação, anulou todas as dívidas e inaugurou uma nova oportunidade de vida, livre da culpa e dos pecados.
Naquele tempo muitos mensageiros proclamavam que a comunhão com Deus e a santificação somente eram possíveis para poucos. Propagavam uma lista enorme de leis que denunciavam as dívidas e os pecados. Assim inviabilizavam para muitos a liberdade e a comunhão com o Deus da misericórdia, da paz e da justiça. Naquele contexto, motivada por esta Palavra da carta aos Colossenses, a comunidade cristã passou a anunciar e a viver o evangelho, a notícia do perdão das dívidas com Deus, a notícia do inesgotável amor de Deus, revelado em Jesus Cristo.
Com tristeza reconhecemos que também hoje transitam entre nós os mensageiros do terror. Ameaçam crianças, jovens e adultos com a dívida do pecado, com juízos e a morte, com as chantagens da culpa que cria o medo e a angústia. Ensinam o ritual do mercado, do esforço humano como mediador da liberdade, escondem o Cristo da cruz e da ressurreição, a vitória do Deus amor.
Motivados por essa palavra de Colossenses somos fortalecidos na missão de anunciar a notícia do perdão de Deus, que em Cristo primeiro doou a nova vida e depois se colocou ao lado daqueles e daquelas que, com alegria, dançam a música da gratidão e aceitam o seu chamado para a reconciliação e para a missão.
Damos graças a Deus por ter vencido os poderes da morte e a própria morte. Ele nos oferta perdão, nova vida.
(Guilherme Lieven)

Arrependimento é um milagre


“Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”
Esta palavra bíblica vem do discurso de João Batista, que anuncia a chegada de um novo tempo, do reino dos céus, da presença de Deus no mundo. Pelo ritual do arrependimento propõe a preparação para viver essa novidade, um recomeço de vida em comunhão com Deus.
Os relatos bíblicos indicam que a chegada da nova aliança de Deus ao mundo, realizada em Jesus Cristo, gerou as primeiras comunidades cristãs que, com o tempo, agregaram a sua vivência de fé rituais de recomeço, por exemplo, o batismo, a confissão de pecados acompanhada do anúncio da graça, imposição de mãos, e outros gestos mais tarde incorporados ao calendário das Igrejas cristãs.
 A proposta bíblica de arrependimento e recomeço é como um milagre. Afinal escapa ao controle da razão e remete a uma ação de fé, que se concretiza na realidade existencial da pessoa humana.  Tem a força de um processo que leva ao rompimento e, consequente, adoção de uma novidade, novidade de vida.
O recomeço proposto por João Batista não é um truque, ou um ritual sem sentido.  Não tem semelhança com a repetição da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada novo ano,  criando a impressão de que a vida é cíclica, que recomeça sem a opção e o envolvimento da pessoa humana. O arrependimento conjugado com o recomeço acontece quando a pessoa humana interage com Deus pela fé, e busca, ou aceita, a novidade de vida, o nascer de novo, dádivas do reino dos céus, da ação salvífica de Jesus. Não podemos confundir o recomeço antecipado pelo o arrependimento, com uma visão cíclica dos fatos e dos tempos, equiparada a uma retomada do passado, ou a um retorno.
 A Igreja e suas comunidades propõem, através do seu calendário eclesiástico, envolver cada pessoa no movimento arrependimento e recomeço. Oferece celebrações e rituais que acompanham um processo cotidiano de renascimento, o encerramento de uma etapa e o reinício de outra. No mês de novembro, por exemplo, confronta as pessoas com a escatologia, com o final dessa história e com  a esperança na plenitude do reino que nasceu no mundo em Jesus cristo. E, em dezembro, apresenta a proposta de preparação para o novo, qual seja festejar a chegada de Deus ao mundo, o natal. Para tanto designa os quatro domingos antes do Natal, denominados de Advento, como tempo de preparação, também de arrependimento, para viver um novo recomeço com o Deus que nasceu no mundo.
No natal as pessoas humanas são confrontadas e agraciadas com uma grande mudança, a fantástica revelação de Deus. E elas podem, pela fé, interagir com ela. Deus descobre o jeito definitivo e universal de tocar o mundo e as pessoas, através de um menino humilde e da mensagem do amor incondicional. Deus nasce e o mundo inteiro começa de novo.
Esse é o milagre. Perceber a chegada do reino dos céus no mundo e arrepender-se de todos os projetos e ações que matam. Comprometer-se com o natal da vida, que inclui a renovação, a limpeza, a regeneração – o recomeço.  
Esse fenômeno, de forma similar, faz parte do dia-a-dia de milhares de pessoas, que experimentam os pequenos milagres do recomeço: novo emprego, saída de longos dias no hospital, retorno à realidade após a prisão, divórcio, novo endereço, nascimento de uma neta, ou neto, perda de um ente querido, rompimentos, retorno das férias e tantos outros.
Com essa reflexão dou testemunho da necessidade e da eficácia do arrependimento que leva ao recomeço. É certo que podemos encontrar nesse processo a superação de conflitos, perdas, dores e sofrimentos, participar da construção de espaços onde habitam a justiça, a paz, o amor, a solidariedade, sinais do reino dos céus que estão presentes. E revelam a comunhão com o Deus da graça que, invariavelmente, conduz à liberdade e preparara as pessoas para agirem com criatividade no movimento sagrado que recria a vida e a paz.
O chamado e anúncio de João é como fonte de água viva, que refresca, acalma e anima. Tal como cama, depois de um dia e uma noite sem parar.
Guilherme Lieven

25 de outubro de 2012

Comunidades Cristãs na Cidade


Somos parte da Igreja de Jesus Cristo nas cidades do Brasil. Através das comunidades da IECLB estamos presente em dezenas de médias e grandes cidades. Ali somos testemunhas de Jesus Cristo, proclamamos o amor de Deus e a sua presença entre nós, praticamos os sacramentos e somos evangelizadores, missionários e diáconos. Há muitos anos Deus nos confiou a graça de participar da sua missão nesses contextos. Essa vocação não é uma novidade. Muitos nos antecederam nessa tarefa e esperança.
A Igreja na cidade torna-se visível, imagem humana da presença de Deus, serviço da graça, através da comunidade de fé. Ela reúne pessoas e famílias que, ao viverem a fé em Jesus cristo testemunham a presença de Deus no quotidiano urbano. Pela graça e justificação de Deus são comunidades vivas que integram e interagem com o movimento de vida e morte presente na cidade. Essas pessoas e famílias, que formam as comunidades de fé, carregam consigo os limites da sua condição humana, impactadas pelo quotidiano na cidade. Nessa condição e situação de fragilidade optam em ser Igreja de Jesus Cristo, em especial porque procuram algo novo, alternativo às exigências do cotidiano, por terem sede de sentido e da comunhão com Deus. As comunidades cristãs nas cidades são formadas por pessoas de Deus e do mundo (de Deus). Recebem a santificação e vocação de Deus na sua condição humana, marcada pelos limites, desafios e seduções do contexto urbano. As Comunidades cristãs, formadas por pessoas da realidade urbana que se movimentam e interagem com poderes e forças rompidas com Deus, recebem de Jesus o chamado, e do Espírito Santo o carisma, para servir, acolher, despertar a paz com justiça, construir esperança, revelar a fonte da vida e tornarem-se espaço livre e digno de sinais do reino. Nesse contexto a comunhão com Deus também se transforma em movimento. Onde os desafios da existência humana, as contradições e a simultaneidade da presença da vida plena (de Deus) em meio à morte são imponentes e conduzem o ritmo.
As pessoas que formam as comunidades nas cidades carregam consigo as marcas e influencias da vida urbana, onde tudo está em constante movimento.  Mesmo que a maioria observa códigos da urbanidade e aprendem a existir na multidão, quase nada é amistoso. As disputas por espaço e pela sobrevivência são constantes. O enorme fluxo de pessoas, o trânsito, a troca de mercadorias e serviços, o vai e vem em busca pelas necessidades básicas, a dinâmica de trabalho com suas privações e sacrifícios, a briga por espaços para a convivência pacífica, as interações com a cultura, política, religião e estruturas de poder formam a urbanidade humana. Ela hospeda o belo e o feio, o certo e errado, o grande e pequeno, o forte e fraco, o justo e o pecado, a harmonia e a desigualdade, a comunhão e a brutalidade, o indivíduo e a multidão, que se misturam e tornam-se simultâneos ao ponto de fundirem. Aí está a Igreja de Jesus Cristo invisível, em forma de comunidade humana visível, chamada para servir na missão de Deus.  
No território da cidade a comunidade cristã se toma viva. Ao invés de contribuir somente para a cidade ideal, humanamente sustentável, ela é também chamada para anunciar e, simultaneamente viver, a plenitude da vida que transcende, no limite da condição humana. Tal como o indivíduo na multidão a comunidade cristã interage com a urbanidade e nela sinaliza a novidade, o que há de vir.
Destacamos, em tempo, que a comunidade cristã na cidade não pode ter as características de um espaço para abrigar fugitivos da realidade, da urbanidade. Lembramos aqui da cena bíblica que retrata os discípulos, amedrontados, escondidos em uma casa após o sepultamento de Jesus. A cena é interrompida por Jesus ao entrar naquela casa e anunciar aos escondidos a sua paz. E a paz do ressurreto colocou todos em movimento. A comunidade cristã na cidade tem a vocação de Jesus, a sua paz, para movimentar-se e interagir, sem medo na realidade da simultaneidade, e ali anunciar a presença do Deus Cruz e Ressurreição.

8 de outubro de 2012


João 6.56-69 - Estudo / Exegese


“Ao dar-nos sua vida, Deus não apenas se sacrifica por nós, se faz vulnerável à nossa sorte e à nossa história, mas antes nos dá de verdade sua vida divina” (Juan Luiz Segundo)

Introdução:
Vivemos num tempo em que as pessoas têm acesso a várias propostas de salvação. Geralmente a escolha de uma delas restringe-se a uma tentativa, ao provisório. Perdeu-se o controle social, moral, que fomenta opção por uma identidade permanente. Dissolveu-se a necessidade de clareza religiosa.
Esse estudo propõe o tema da confissão de fé. João apresenta Jesus, o pão que desceu do céu, o Santo de Deus, como o alimento para a vida plena. Trata-se de um tema atualíssimo. A pluralidade religiosa e a tendência de encontrar o que há de vir no presente induzem a relativização da opção e da definição histórica do sagrado. A confissão de fé permanece como um desafio. Muitos preferem a generalização e resistem ao convite para fazer a opção e declarar a sua fidelidade ao Deus que tirou o povo da escravidão e que, em Jesus, tornou-se alimento, o Filho do Homem, o Santo de Deus.

Divórcio e Adultério - Mc 10.2-12

Divorcio
Marcos 10. 2-12
E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher?
Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés?
E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar.
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Pela dureza dos vossos corações vos deixou ele escrito esse mandamento;
Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea.
Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher,
E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo.
E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra, adultera contra ela.
E, se a mulher deixar a seu marido, e casar com outro, adultera. 
Através deste texto do Evangelho de Marcos somos confrontados  com o tema matrimônio. As alegrias e desgraças da união da mulher com o homem foi motivo de debate de Jesus com os fariseus e com os discípulos. Também naquele tempo o tema era desafiador, controvertido. As dificuldades do homem e da mulher de repartirem a vida como uma só pessoa, uma só carne, fez surgir a LEI já no tempo de Moisés. Por causa do pecado, da dureza dos corações era preciso separar os casais. O regime Patriarcado, pela lei, deu direito ao homem declarar a separação. Mesmo contra a vontade de Deus.

 Sabemos que a união matrimonial, a união e o amor entre a mulher e o homem participam da criação e da missão de Deus. A Bênção Matrimonial torna público a vontade e o compromisso do homem e da mulher em repartir a vida, sob a santificação do trino Deus. De joelhos, diante da família, amigos e de Deus, tornam-se parceiros e assumem um projeto de vida marcado pelo amor e pela fé. Edificam uma relação de reciprocidade, de complementaridade do homem e da mulher que se transforma, a partir dali, em unidade de vida.

Mas, ... Esse projeto de vida não é fácil de ser vivido e mantido. O lar é o palco do amor, onde se constrói sonhos e reparte os desafios e os sofrimentos, mas ao mesmo tempo, é o palco da violência, da loucura humana, seja ela silenciosa ou ruidosa. Conhecemos os índices de violência, de mortes que acontecem nos lares. Conhecemos os índices de separação e divórcios.

27 de julho de 2012

É preciso nascer de novo

Para a minha vida, nas diversas situações, a dádiva do Sacramento do Batismo é fundamental. Aprendo diariamente da explicação de Martim Lutero sobre a dinâmica salvadora de Deus revelada no batismo, essa que nos permite morrer e nascer diariamente para viver dignamente em comunhão com Deus. Lutero ancora sua explicação na palavra bíblica de Tito 3: “... ele nos salvou porque teve compaixão de nós, e não porque nós tivéssemos feito alguma coisa boa. Ele nos salvou por meio do Espírito Santo, que nos lavou, fazendo com que nascêssemos de novo e dando-nos uma nova vida. Deus derramou com generosidade o seu Espírito Santo sobre nós, por meio de Jesus Cristo, o nosso Salvador. E fez isso para que, pela sua graça, nós sejamos aceitos por Deus e recebamos a vida eterna que esperamos.”
Viver diariamente, certos da graça de Deus, com fé, esperança e dignidade, nos aproxima da realidade onde Deus, na cruz, revelou o seu amor e ação salvadora. A graça de Deus nos move em direção a realidade onde as forças e os sinais de vida e morte, beleza e brutalidade humanas estão em movimento. Ali, todos os dias, pelo poder do Espírito Santo, ganhamos novos olhos para ver e novos ouvidos para ouvir. É assim que nos apropriamos do nascer de novo diariamente, que sustenta nossa dignidade, esperança e paixão pela vida. E afasta de nós a indiferença em relação aos perigos e ameaças da morte. Como brisa que chega e alenta, nos dá discernimento para escolher valores, atitudes, caminhos, gestos e espaços que nos aproximam da presença de Deus.
Convido você para continua essa reflexão. Desculpa-me o simplismo, mas assim como precisamos tomar banho todos os dias para nos limpar da poluição e das sujeiras, a ação do Espírito Santo em nos conceder um novo nascimento diariamente indica um limpar-se de contaminações impostas pela mesma realidade de cruz e brutalidade humana. Quais as “sujeiras” que o Espírito Santo lava?
Ontem ao ir ao mercadinho, próximo da minha casa, por volta das 18h30, num momento de chuva e temperatura de 9 graus deparei-me com mais de 20 pessoas de rua mal agasalhadas, algumas usando drogas, outras encostadas nas soleiras das portas de lojas fechadas. Como não esquivar-se desse cenário? Como interagir com dignidade numa cidade em movimento brutal que não cuida da sua gente caída, excluída e exposta a agudo sofrimento?
Assim como eu, centenas de pessoas transeuntes foram contaminadas pelo pecado do descaso, da omissão diretos e indiretos. Comportaram-se com passividade. Demonstraram conivencia com o consenso de que esse problema é social e a solução está nas mãos de outros. Eu e milhões de outros convivem passivamente com modelos de governos municipais, aqui em São Paulo e em outras metrópoles e cidades, que investem recursos financeiros em maior monta para limpar a cidade do lixo comum, construir viadutos e patrocinar eventos do que para cuidar das pessoas ameaçadas e privadas de condições mínimas para viver.
Solitários, em família ou em comunidades permitimos o avanço da brutalidade humana e omitimos apoio e compromisso com as iniciativas que nos aproximam do Deus da justiça e da graça.

À noite, naquele momento que antecede a chegada do sono, ainda sob o impacto do cenário das ruas por onde passei para ir ao mercadinho, pensei: Daqui há dois anos vou morar em uma cidade que não tem pessoas morando nas ruas... Perguntei: A fuga é o único caminho?
Ontem fui dormir enlameado e com vergonha.... Preciso nascer de novo! Quero abraçar a dádiva do Batismo e a apropriar-me da novidade de vida.
Não estou seguro, nunca estamos, nesse processo. Estou certo de que não poderei fugir da realidade. É nela que devo nascer de novo. 
Será que eu sou o único a passar por essa situação?
 

15 de julho de 2012



O mais importante é aquele que serve

A Palavra orientadora de Jesus Cristo, “Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros” (Mt 23.11) convida todos, especialmente as lideranças e os obreiros pastores/as da Igreja, para servirem uns aos outros.Numa sociedade injusta e hierarquizada como a nossa, onde uns valem mais do que os outros, seja pelo dinheiro, pelo poder, pela força, pela cor ou pela violência, é importante deixar-nos tocar pela palavra de Jesus: “Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros” (Mt 23.11). Conforme o Evangelho de Mateus, ela foi dirigida à multidão e aos discípulos. Pelo poder do Espírito e pela fé esta palavra é uma pérola de grande valor nos dias de hoje. Ela denuncia a nossa nefasta escala de valores e propõe uma transformação de comportamento. Convido você para refletir sobre o brilho desta palavra, especialmente para o contexto e ambiente das Igrejas cristãs. Também nas Igrejas, nas relações eclesiásticas e na vida comunitária de fé, esta Palavra de Jesus tem autoridade. Há igrejas cristãs que adotam modelos eclesiológicos verticais, fundamentados na hierarquia e em estratificação estrutural, despidos dos valores do evangelho de Jesus. Há outras Igrejas, no entanto, estruturadas em modelos horizontais, participativos e comunitários. Apesar das diferenças e do avanço de umas em relações a outras, todas necessitam de ouvir e de colocar em prática a orientação de Jesus:“Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros”.

11 de julho de 2012

VOU SAIR POR AÍ 


Vou sair por aí. Vou pro meio da multidão. Estou cansado daqui. Eu quero fugir, viver melhor. Eu preciso de paz. Estou cercado aqui, eu quero viver, as minhas portas só são virtuais.Estou cansado daqui. Eu quero sair. É sede de vida. É fome de paz.Vou sair por aí. Vou pro meio da multidão. Se junto com os outros posso ser menos, um entre todos, quem sabe sou muito mais. Lá nas ruas e praças, becos e parques,  no trem,  no metrô vou viver melhor. Com a multidão que passa e fala, canta e chora  no nosso mundo real.Não sei se vou pra perto ou pra longe de Deus.Onde todos vão juntos, sem rumo, sem nome, com fome de pão e de paz.Não sei se vou pra perto ou pra longe de Deus.Vou pro vale das sombras, das sobras e restos, dos vivos, pro mundo real.Talvez  lá encontro paz. Aprenda um pouco mais. Encontre o pão da  paz. Viva muito mais. 

18 de maio de 2012



Cremos no Deus que caminha ao nosso lado, o Deus conosco - Emanuel. 



Jesus Cristo diz: Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês.”  João 14.18


       Ao lermos todo o evangelho de João, em que se encontra essa Palavra da semana, verificamos que Jesus promete a sua presença para quem ama e crê. A morte de Jesus na cruz não significou o abandono de Deus a seu Filho, muito menos que Ele morreu e nos deixou no mundo sem rumo, proteção, orientação, consolo, afastados da comunhão com a vida sagrada e eterna. Ele não nos deixou órfãos. Na cruz Jesus se encontra com a nossa crueldade e vence a morte. E é ressuscitado para permanecer vivo no mundo presente em nossa realidade e em nossa vida.

     Podemos afirmar que Jesus coloca-se ao nosso lado para nos guiar pelos caminhos de todos os dias. Também para nos ajudar a suportar as limitações e celebrar as graças, as bênçãos, as dádivas de vida. Não estamos órfãos. Com Ele descobrimos dons, possibilidades e espaços para experimentar a reconciliação, a paz, um espírito bom, a dignidade de vida.
    Se não estamos abandonados, se a graça de Deus é maior do que os nossos limites e erros, então nos é possível ser fraternos, justos, testemunhas do amor e participantes dos sinais de transformação. Com fé na presença de Jesus entre nós encontramos coragem para servir e viver com esperança e dignidade.
Guilherme Lieven

4 de maio de 2012


Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”  João 14.6


É difícil conviver com o que é transitório. Pior ainda é descobrir-se provisório. Como ser e viver sempre dependendo, sem o controle de tudo e dos próprios passos? Como ser livre e feliz nessa condição, semelhante a uma eterna criança? Será que a vida é um brinquedo?
Devido os limites da provisoriedade humana, percebida cognitivamente, é comum encontrarmos pessoas que já fizeram muitas experiências religiosas e, por isso, interagiram com uma diversidade de propostas e filosofias também espirituais. Mesmo assim percebe-se nestas pessoas, que vagaram por muitos caminhos, uma sensação de vazio. Onde está o tesouro?
Caminhos são muitos, mas é preciso um para viver - Um caminho que preenche o vazio criado pela transitoriedade. Quem não sabe para onde vai e não acredita que o caminho pode ser uma grandeza que escapa ao seu controle, tal como uma dádiva, mesmo caminhando está perdido.

No vazio somos tentados a ser o caminho em vez do caminhante. O caminho não é nosso, a verdade e a vida também não são. O mapa do tesouro está na escolha de um caminho e caminhar despido de seus próprios, interesses, doenças e poderes. Para isso precisamos da fé. Optar por um caminho que, a princípio, por não ser nosso, pode nos levar a um destino bem diferente daquele que imaginamos.
   As comunidades da IECLB, e as Igrejas cristãs que confessam Jesus Cristo como Senhor e Salvador, anunciam o CAMINHO da vida, O Cristo de Deus, a verdade e a vida. Insistem em denunciar as tentativas dos caminhantes apossarem-se do caminho e, assim, caminharem nos limites dos seus próprios horizontes na tentativa de superar sua dependência. Indubitavelmente ali se encontra o vazio, a arte da loucura humana.
O caminho que Jesus abriu no mundo cria espaço para o “caminhar juntos”; partilhar os fardos; fazer paradas para celebrar e dialogar na “mesa da comunhão”; receber novos caminhantes; chorar e estender o abraço, o ombro, a mão; ajudar e permitir que seja ajudado; despir-se do controle de tudo e interagir com o outro; perdoar e começar de novo; cair e levantar; alegrar-se e não ter medo do novo que está à frente; afinal, o destino é a eternidade que não conhecemos.

Testemunhamos a respeito de um caminhar permanente, em que os traços do final da caminhada já se encontram pelo caminho. A provisoriedade e a dependência da plenitude imprimem liberdade, sentido e alegria. O tempo de caminhada e o próprio caminho escapam do controle humano. Um caminho invisível, visível em toda a Criação por aqueles e aquelas que aceitam o chamado para a peregrinação.  O tesouro de vida sem fim daquele que veio ao mundo da parte de Deus e tornou-se peregrino entre nós e permanece conosco a caminho: Jesus Cristo.
 Guilherme Lieven

17 de abril de 2012

canções


Do tamanho do Céu  
Sempre cantarei a respeito do teu amor
Sempre falarei a tua fidelidade, SenhorSempre guardarei o teu mandamento maiorSempre amarei para viver contigo e melhor.Sei que a tua paz é luz no mundo. A tua fidelidade é do tamanho do céu.Sei que o teu amor durará pra sempre. A tua  misericórdia é pão, vinho e mel.
Sempre chamarei por tua ajuda, SenhorSempre clamarei por tua força, justiça e pazSempre seguirei os teus passos,  Senhor.Sempre louvarei, o meu Deus, o meu bom pastor.Sei que a tua paz é luz no mundo. A tua fidelidade é do tamanho do céu.
 
Sei que o teu amor durará pra sempre. A tua  misericórdia é pão,vinho e mel.


SOCORRO  
/:Ó Deus Eterno, eu te chamo vem me ajudar, todas as manhãs eu chamo por ti.:/
Por que te escondes de mim?  Te escondes de mim?  Te escondes de mim?Será que não sei orar, que não sei olhar, que não sei amar.
/:  Ó Deus meu salvador, eu grito socorro.:/
/: Ouve, Senhor, minha oração, vem me ajudar,  estou sozinho, eu clamo por ti.:/
Será o meu sofrimento, os meus lamentos, que me afastam de ti?Porque eu estou magoado e desesperado eu clamo por ti.
/:  Ó Deus meu salvador, eu grito socorro.:/

12 de abril de 2012

Crer para ver ou ver para crer?


“Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!”  (João 20.29)
 
Crer para ver ou ver para crer? Tomé disse que só acreditaria em Jesus ressurreto se visse os sinais dos cravos em suas mãos, e se pudesse tocar no seu lado que fora ferido.  A Palavra bíblica da semana apresenta o desafiou feito por Jesus a Tomé: “Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!”
 A misericórdia de Deus é estendida a nós quando cremos, quando experimentamos a paz e a comunhão com Deus. Podemos ter certeza mesmo quando não vemos. O Espírito Santo nos ajuda a crer, mesmo quando não tocamos ou participamos dos sinais do reino de Cristo ressurreto entre nós.
A misericórdia, a graça e o amor de Deus nos são estendidos mesmo quando  estamos fracos e em crise. Nesses momentos o Espírito Santo, nos restabelece e sustenta a nossa fé.

A dúvida de Tomé foi honesta. Nós também duvidamos. A crise da fé é uma realidade. Nem todas as pessoas crêem sem ver, poucas experimentam sua espiritualidade em paz de espírito.
     Moisés também duvidou da revelação de Deus e do seu chamado para libertar o povo da escravidão no Egito. As profetisas e os profetas também viveram momentos difíceis e necessitaram de revelações concretas para renovarem os compromissos da vocação. Pedro também duvidou ao ser chamado por Jesus para caminhar sobre o mar.
     Crer para ver ou ver para crer? A nossa fé, doada pelo Espírito Santo, abre os nossos olhos para verem a presença da ação salvadora de Jesus Cristo na vida quotidiana e no mundo. Por graça, a comunidade de fé é o espaço privilegiado, onde acontece a partilha dessa experiência da fé, onde são proclamadas as ações maravilhosas de Deus, que reconciliam a Criação, a vida no mundo, com a plenitude da vida sem fim.
     Muitos, no entanto, crêem depois de ver a ação salvífica de Jesus. O apóstolo Paulo, por exemplo, se transformou somente depois de defrontar-se com a revelação de Deus.  Podemos crer para então conseguir ver. Mas também podemos ver primeiro para depois crer. A vontade de Deus é que vivamos reconciliados e em comunhão com ele.
Guilherme Lieven

27 de fevereiro de 2012

Comunhão dos Diferentes


Conhecer melhor um ao outro se tornou fundamental para o relacionamento interpessoal, para a convivência, para realização de projetos em comum, também para viver a fé em comunidade.
                Reunir jovens e apresentar a eles uma dinâmica de vida com os valores da fé, incluindo desafios da vida pessoal e do contexto social exige a visão e a valorização das diferenças. A identidade e o perfil pessoal estão cada vez mais no primeiro plano.
                Atualmente os jovens apropriam-se de interesses, planos, sonhos e esperanças diferenciados, determinados por situações específicas diversas.  Por exemplo, a abordagem de um tema pode ser deslumbrante para um jovem, mas totalmente frustrante para o outro.

3 de janeiro de 2012

Fé e Liberdade

O tema liberdade nos envolve intensamente. Ao resistirem à submissão e às formas de dominação, nossas escolhas e opiniões, nossas forças e articulações têm como pano de fundo a busca por liberdade.
Em todos os tempos tentou-se definir e explicar a liberdade. Ao se referirem à liberdade, grandes filósofos usaram a maneira negativa da definição: ausência de determinação, submissão, servidão e dominação. Emanuel Kant defendeu que o ser livre é autônomo para usar os seus conhecimentos e definir as suas regras. Jean-Paul Sartre propôs uma definição ontológica, ou seja, o ser humano originalmente é livre, busca ser livre e ele mesmo pode desenvolver sua liberdade.

A liberdade é um tema vivo, que aguça debates, críticas e opiniões. A poetisa, professora e jornalista Cecília Meireles destacou com beleza: “'Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda!” (Romanceiro da Inconfidência).

 O desafio não é menor quando a referência do debate e aprendizado é a fé cristã. Já em 1520, Martim Lutero afirmou enfaticamente que "um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém - pela fé. O cristão é servidor de todas as coisas e submisso a todos - pelo amor" (Livro: Da Liberdade Cristã). Lutero rompeu com o regime de leis e hierarquias religiosas, apresentadas como mediadoras para a salvação. Através de uma consistente elaboração teológica, apresentou e anunciou a liberdade como dádiva da fé na graça de Deus; liberdade que provém da justiça e do amor incondicional de Deus. Sua teologia questionou doutrinas e poderes eclesiásticos que exerciam submissão e promoviam dependência. Ela desenvolveu a espiritualidade cristã que aproxima a pessoa humana diretamente de Deus, o Deus da liberdade e da vida. 

A partir da teologia e da espiritualidade luteranas, o encontro do ser humano com a liberdade pressupõe a compreensão de que ele nasce dependente de uma ação externa para alcançar a sua libertação da morte. A vitória sobre a morte é a primeira liberdade a ser alcançada pelo ser humano. Não é suficiente nascer, respirar e ser saudável, a liberdade vem com a certeza de que a vida é maior do que a morte.  A vida plena, a eternidade, que é criada por Deus em Jesus Cristo, é a condição primária e singular que remete o ser humano a resistir contra os poderes da escravidão e a construir espaços de dignidade, justiça, igualdade e paz, onde a liberdade é visível e real.

Afirmamos que a liberdade vem da fé na vitória de Jesus sobre a morte. A vida livre é uma dádiva de Deus. Todos os nossos esforços para nos salvar a nós mesmos nos escravizam e matam. Concluímos que, pela fé, somos livres de todas as coisas. Não precisamos fabricar ou comprar a liberdade. Deus já no-la presenteou. A fé e a liberdade disponibilizam a nossa vida para participar do movimento humano que respira e gera vida através do amor. Conforme Martim Lutero, a única força que pode nos escravizar é o amor.

Numa sociedade em movimento, dividida em tempo de trabalho e tempo de consumo e lazer, a liberdade cristã anuncia e constrói espaços alternativos que preparam e sustentam o ser humano na sua constante busca por liberdade. Nos limites da humanidade é possível ser e interagir com a missão sagrada de anunciar a vitória sobre a morte e de se movimentar livremente na realidade em que a eternidade da vida se antecipa e manifesta.
 Guilherme Lieven

Gálatas 5.25-6.10 - Plantar e colher o bem

Gálatas 5.25-6.10 Conforme João 6.68, Pedro diz a Jesus que Ele tem a palavra da vida eterna. Não tem outro a ser seguido. Pedro pergunta a...