8 de outubro de 2012

Divórcio e Adultério - Mc 10.2-12

Divorcio
Marcos 10. 2-12
E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher?
Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés?
E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar.
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Pela dureza dos vossos corações vos deixou ele escrito esse mandamento;
Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea.
Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher,
E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
E em casa tornaram os discípulos a interrogá-lo acerca disto mesmo.
E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra, adultera contra ela.
E, se a mulher deixar a seu marido, e casar com outro, adultera. 
Através deste texto do Evangelho de Marcos somos confrontados  com o tema matrimônio. As alegrias e desgraças da união da mulher com o homem foi motivo de debate de Jesus com os fariseus e com os discípulos. Também naquele tempo o tema era desafiador, controvertido. As dificuldades do homem e da mulher de repartirem a vida como uma só pessoa, uma só carne, fez surgir a LEI já no tempo de Moisés. Por causa do pecado, da dureza dos corações era preciso separar os casais. O regime Patriarcado, pela lei, deu direito ao homem declarar a separação. Mesmo contra a vontade de Deus.

 Sabemos que a união matrimonial, a união e o amor entre a mulher e o homem participam da criação e da missão de Deus. A Bênção Matrimonial torna público a vontade e o compromisso do homem e da mulher em repartir a vida, sob a santificação do trino Deus. De joelhos, diante da família, amigos e de Deus, tornam-se parceiros e assumem um projeto de vida marcado pelo amor e pela fé. Edificam uma relação de reciprocidade, de complementaridade do homem e da mulher que se transforma, a partir dali, em unidade de vida.

Mas, ... Esse projeto de vida não é fácil de ser vivido e mantido. O lar é o palco do amor, onde se constrói sonhos e reparte os desafios e os sofrimentos, mas ao mesmo tempo, é o palco da violência, da loucura humana, seja ela silenciosa ou ruidosa. Conhecemos os índices de violência, de mortes que acontecem nos lares. Conhecemos os índices de separação e divórcios.

Aprendemos de Martin Lutero, que os seres humanos são santos, livres por causa de Deus e da sua ação pelo Espírito Santo. Mas, ao mesmo tempo, são pecadores, limitados, escravos por causa da sua condição humana. Tudo que construímos hospeda essa simultaneidade: o sim e o ainda não. Por isso o Reino de Deus está entre nós através da antecipação de sinais, provisórios. O mundo não é só mundo. Ele é de Deus e contem a presença de Deus. O ser humano não é só carne, ele hospeda o Espírito Santo de Deus, desde o batismo. Não encontramos uma pessoa totalmente pura e outra totalmente má. Essa simultaneidade nos ajuda entender, receber a revelação do  texto do evangelho de Marcos. O texto aponta para os limites da LEI e para a vontade de Deus revelada desde a Criação.

A pergunta principal do texto é: É lícito ao marido repudiar, manda embora, a sua mulher? Os fariseus perguntaram a Jesus se ele concordava com a lei de Moisés que permite ao homem expedir a carta de divorcio. Jesus responde e interpreta a lei de Moisés, dizendo que ela foi feita por causa da dureza dos corações das pessoas humanas. O limite, a fraqueza, o pecado humano, a violência corrompem a união matrimonial, levam ao divórcio e comprometem a vontade inicial de Deus.

Jesus vai além, aprofunda o debate e acrescenta o segundo argumento, aponta para a Criação, conforme o livro de Gênesis: desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
Com esse argumento  criacional, Jesus retoma a união originária entre o homem e a mulher, cria uma nova unidade familiar para tornarem-se uma só carne. Jesus reafirma a utopia da vontade de Deus, da vida paradisíaca, da reciprocidade do amor, prevista na Criação. Esta vida comum e plena da mulher e do homem, cujo fundamento é o amor, como era no princípio, não precisa de divórcio, de separação. Ela deve ser um pedaço do céu na terra.

Porém, Jesus conhecia a realidade onde homens e mulheres se divorciavam. No texto Jesus sugere que as pessoas divorciadas devem permanecer sem casar novamente, e se casarem, precisam admitir a condição humana de pecado, de imperfeição, de desobediência ao mandamento do adultério.  Jesus debate a questão do divórcio e do adultério nos primeiros anos do primeiro século.

Assim como no tempo de Jesus, hoje o divórcio e o novo casamento fazem parte da nossa realidade. A nossa Igreja acolhe as pessoas divorciadas, as ajudam a compreender e buscar reconciliação com Deus e com a vida após a falência do primeiro matrimônio. Faz isso tocada pela esperança e pela fé no amor sem fim de Deus.
O mesmo Filho de Deus que revelou a vontade inicial de Deus em sua Criação, uma união matrimonial perfeita, onde o homem e a mulher tornam-se uma só carne, também revelou o amor incondicional, que na cruz venceu a morte e, por conseguinte,  também o pecado da separação matrimonial.
Deus não separa aquilo que ele criou com amor. Mas, ele vem ao nosso encontro quando falhamos, quando caímos, quando separamos, quando pecamos. Toda a parcialidade dos seres humanos está sob o poder de Deus, revelado em Jesus Cristo, que nos tornar santos por graça, misericórdia e amor.

Martim Lutero nos ensina no catecismo menor, que pelo batismo podemos todos os dias nascer de novo. Os casais separados, mesmo tendo errado, podem nascer de novo.

Cito outros exemplos da realidade de hoje:
A vontade de Deus é que toda a sua Criação seja cuidada e preservada. Mas os seres humanos continuam destruindo. Mesmo em pecado somos chamados, pela graça, para nos voltarmos em direção a vontade de Deus. É preciso começar de novo, reparar os danos, interromper a destruição.

A vontade de Deus, no princípio, é que as cidades, as comunidades humanas, sejam conduzidas pela dinâmica da paz e da justiça. Sabemos que nem todos os que exercem esse poder em nossas cidades e vilas tem esse compromisso com a vontade de Deus. Porém, não podemos desistir! Em nossa missão está incluída a tarefa de escolher pessoas e acompanhá-las, pessoalmente ou através de movimentos coletivos, capazes de começarem de novo e de respeitar a vontade de Deus.

A Palavra do Evangelho Marcos nos encoraja a olhar para a vontade criacional de Deus em relação a união matrimonial. Convida a todos nós para viver com coragem e fé o matrimônio, buscando a fidelidade com a vontade de Deus, prontos para começar de novo caso a queda tenha tornado inevitável.
(Guilherme Lieven)

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