11 de dezembro de 2019

Papai Noel é mensagem de natal?

O conteúdo da fé cristã, suas tradições e simbologias geralmente são adaptados para “enfeitar” e fomentar outras propostas. Quase sempre essas outras propostas contradizem ou são opostas à mensagem do nascimento de Deus no mundo. Cito, em especial, o uso dos conteúdos do Natal, da beleza e riqueza dos seus símbolos para seduzirem as crianças e adultos ao consumo de mercadorias. 
Convenceram a sociedade e o povo em geral de que o principal personagem do Natal é o Papai Noel. Fico decepcionado quando vejo as vitrines dos centros de compras. Já vi calendários de Advento, aquele que contém uma mensagem para cada um dos vinte quatro dias que antecedem o natal, finalizando com a imagem do papai Noel.
As igrejas e os cristãos importaram do hemisfério norte a árvore de natal, o presépio, os símbolos da neve, das estrelas e das velas. E no mesmo pacote veio também o velhinho Noel.
Porque o presépio com a cena do nascimento de Jesus, com a visita dos pastores e dos reis magos perderam o lugar para o Noel? Mesmo que o velhinho Noel tem o seu mérito em seu contexto histórico, não é legítimo que ele hoje comprometa a mensagem do Natal. Com o Noel no papel principal, as crianças são desviadas do conteúdo de fé do amor e da salvação de Deus e encantadas com a expectativa do presente a ser trazido por um misterioso velhinho, chamado Noel.
Retiram das nossas casas a simbologia do Natal e adulteraram a sua mensagem principal. Queremos mesmo que o Deus criança, que nasceu no mundo seja identificado com o velhinho do polo norte? Porque evitar que as crianças vejam o rosto de Deus na criança que nasceu no mundo em Belém e, assim percebam um Deus criança tal como elas? No ano que vem precisamos rever a nossa preparação da festa do Natal. 

viajar para a vida plena

Muitos viajam de ônibus ou de carro para destinos longos se esquecem de prestar atenção no caminho. Ficam impacientes e querem  chegar o quanto antes. A viagem torna-se cansativa, tensa e a chegada ao destino parece tardar cada vez mais.
Outros viajam mais devagar, com paciência fazem do caminho parte do objetivo da viagem e da chegada. Na verdade se preparam para chegar bem e satisfeitos ao destino. Tal como se a viagem já fizesse parte daquilo que iria chegar.
Nós cristãos esperamos a chegada da vida plena. Deus prometeu a vida eterna. Na palavra de Deus está o anúncio de que o Cristo de Deus, aquele que nasceu no mundo voltará na plenitude dos tempos e nos dará o seu reino de paz e justiça de forma plena. Na verdade, viajamos para esse destino. Muitos são impacientes, se perdem pelo caminho e até deixam de acreditar no destino da viagem e na sua validade. Demonstram dificuldades para viver o provisório e insistem em antecipar para logo aquilo que ainda virá.  
Outros estão pelo caminho com paciência, com amor, ajudam, servem, participam das coisas boas, são solidárias, socorrem umas às outras, acreditam no destino para onde estão indo e trazem para o caminho um pouco daquilo que virá. Acreditam nas promessas de Deus e colocam em suas mãos a sua viagem, certos de que o que virá será belo, completo e pleno.

Que no seu dia-a-dia você tenha paciência para viver e confiar no novo que virá. O novo virá das mãos de Deus e esse Deus de bondade nasceu no mundo e está aí, ele nos carrega para a plenitude. Paz pra você. Tenha fé e esperança nessa viagem para o novo que virá.

19 de novembro de 2019

Na história Deus revela salvação


Prédica: Jr 31.1-6
(01/09/2019)

O profeta Jeremias fala ao Povo de Deus que volta para casa. Os moradores de Jerusalém estavam no Exílio, as novas gerações voltam para casa. Inicia a vida novamente na terra dos seus antepassados. O Deus de Jacó, o Deus do deserto, que tirou o povo da escravidão do Egito acompanha o seu povo nessa jornada, no retorno do exílio. Ele se mostra presente na história e age com amor, poder e bênçãos… As tristezas, decepções e desafios para começar tudo de novo e sem nada, transforma-se em júbilo ao ouvirem sobre a salvação de Deus, ao celebrarem a presença de Deus na história que reinicia.

Naquele contexto o profeta anuncia um novo período de salvação. Anuncia o eterno amor de Deus. Aqueles que sobreviveram à guerra e ao exílio recebem o anúncio da promessa de que Deus de renovar a sua aliança, a sua amizade com o seu povo. O Profeta Jeremias anuncia as promessas de Deus nesse novo tempo, nessa nova etapa da vida do povo de Deus .

O povo terá colheitas, poderão se alegrar e celebrar a Deus ação de graças. Chegou um novo tempo de paz e fartura, de fé e esperança, de gratidão e alegrias.

Essa palavra, esse anuncio do Profeta Jeremias ilumina a interpretação da nossa história, da história da cidade de Blumenau, do seu fundador Dr. Blumenau e de suas lideranças. Esse texto de Jeremias e o seu contexto anunciam a presença de Deus na realidade humana, nos projetos e ações humanas que misturam perdas, tristezas, decepções com perseverança, bênção, aprendizado, fidelidade, espiritualidade e júbilo.

O início da história de Blumenau, não foi uma volta do Exílio, tal como o contexto do Profeta Jeremias, mas é uma história marcada, em seu início, por um projeto de colônia que garantiria espaço para viver, terra para se sustentar, plantar e colher, de trabalho para sobreviver… de começar de novo em nova terra, que incluiria beleza, desafios, natureza, clima adverso, desconhecimento do lugar, dos povos que habitavam a terra. Contexto com traços semelhantes ao retorno do povo de Deus para Jerusalém. 

Naquele tempo, no início da história de Blumenau, também se fez necessário anunciar o Deus de Jacó, o Deus de Mirian e Rute, de Ana, Rebeca e Maria, o Deus do Profeta Jeremias; O Deus Jesus Cristo, Senhor e salvador, que acompanha o seu povo e se faz presente na busca pela vida, pela dignidade, pela sobrevivência; o Cristo de Deus que participa da reconstrução de uma nova vida, de uma nova cidade, de uma nova história em que Deus se faz presente com suas dádivas, sacramentos e evangelho.

Marcado pela perda do pai, da noiva, do sócio, com poucos imigrantes Dr. Blumenau permanece fiel ao plano e projeto de construir a nova colônia, hoje a nossa cidade.

Dr Blumenau, com sua visão, proposta e determinação incluiu, conjugou, a necessidade de construir um templo, reivindicar do Império empréstimo e o direito de cultivar e cuidar da espiritualidade da religiosidade dos imigrantes que abraçaram o projeto de tornar realidade a nova colônia.

Naquele tempo ele mesmo, Dr. Blumenau assumiu a vocação de anunciar a presença e a salvação aos imigrantes, parceiros e parceiras na nova terra, Proclamar o Deus do profeta Jeremias, o Cristo de Deus, aproximando todos às ações de Deus, de suas bênçãos e salvação, na cruz e na ressureição, na morte e na vida, na tempestade e na colheita, na tristeza e na alegria.

Herdamos essa história da construção da cidade de Blumenau. Herdamos a visão, a consciência, o entendimento, a fé no Deus que participa e faz história. Nessa história Deus participou, vocacionou e despertou, abraçou e amou, mostrou o seu rosto na tristeza, nas derrotas, na morte, mas também nas alegrias, nos novos passos, nos processos de sobrevivência.

A Paróquia Centro, este templo, a comunidade, os grupos, pastorais, o ministério da música, a liderança ministerial da pastora e dos 2 pastores, somando-se as instituições, Fundação Luterana de Comunicação, Hospital Santa Catarina, Escola Barão, a inserção ecumênica cultural e social na cidade… TRADUZEM o compromisso com a herança da história da colônia Blumenau, a herança do testemunho e da visão do Dr Blumenau de conjugar a presença de Deus com o projeto humano de construir uma colônia, uma cidade.

Assim como no início, hoje as crianças, adolescentes, jovens, homens, mulheres e idosos tem espaço legítimo e digno para viver a sua fé, louvar a Deus, e celebrar a presença de Deus em suas vidas e na história.

Deus continua edificando, participando da história, revelando a salvação. Esses são os motivos para subir o morro até a Igreja Espírito Santo e louvar a Deus, ouvir a sua palavra, estar em comunhão uns com os outros e com o Deus que em Cristo nos doou a vida eterna.

Que Deus continue conosco, participando da nossa história. E que todos nós, e mais aqueles e aquelas que aqui não estão, fortalecemos os nossos compromissos, a nossa fidelidade, a nossa visão de que a vida é um milagroso movimento que inclui a salvação de Deus.

6 de novembro de 2019

A vida é maior do que nós mesmos

Romanos 5. 1-11
Somos vidas resgatadas por Deus em Jesus Cristo. Deus nos reconciliou com Ele. Somos vidas amadas por Deus. Somos filhos e filhas Dele, herdeiros da sua misericórdia e graça, herdeiros da salvação. Não morremos, com Cristo vivemos.
Para Deus somos vidas especiais. A sua salvação nos incluiu em seu reino, mesmo pecadoras e pecadores. Esse ato milagroso e grandioso anunciamos e por causa deles servimos comunidades de filhas e filhos de Deus que nesse mundo participam da revelação e da missão de Deus.
Isso é motivo de alegria, de louvor e glória a Deus, Isso cria em nós, pela fé, a vontade de cantar, a vontade de viver, de servir e amar. Essa ação de Deus cria em nós esperança, coragem, dignidade e confiança.
Por isso estão adoecidas as pessoas que hoje avaliam e julgam uns aos outros, as outras pessoas pela sua opinião. O palestrante é avaliado pela sua palestra ou opinião. Quem escreveu um livro é o livro... Os participantes das redes sociais são julgados pelas frases e figuras que publicam. Tal como no futebol, o jogador é igual a um ou cinco gols, um time é a derrota ou a vitória. A pessoa humana vale o que fala e o que comentam sobre ela. A opinião do indivíduo o define. Como se fosse verdadeira a ideia de que somos aquilo que comemos, talvez estão comunicando que as nossas doenças originam-se daquilo que comemos e bebemos, mas somos mais do que as doenças, mais do que a comida e a bebida que ingerimos.
As pessoas perderam a sua história, a sua identidade, a sua dignidade. Nada vale: o seu batismo, a sua adoção por Deus, o seu corpo – casa do Espírito Santo, sua infância, sua vida, sua mãe, seu pai, irmãos, irmãs, primos e amigos, sua adolescência, os conteúdos da sua fé, seus dons, vocação, carismas. Nada da sua juventude teve sentido, se foi padrinho ou madrinha, se amou e confiou a sua vida a Deus, nada importa. A pessoa humana resumiu-se ao que ela fala e publica. Se ela está doente ela é a doença, se ela trabalha ela é o trabalho... Se tem funções ministeriais na igreja ela é a igreja... 
Que horror, que terror!!!
Conforme a Palavra de Deus, cada um de nós recebeu o Espírito de Deus. A nossa vida é maior do que nós mesmos, e muito maior do que as nossas opiniões. Deus nos chama para a reconciliação que passa pela comunhão com Ele e que cria comunhão uns com os outros, que inclui diálogo, respeito, amor, dedicação a dignidade das pessoas humanas. Essas vidas são sacerdócio geral, elas creem, chamadas e vocacionadas para o testemunho, para praticarem a fé e edificarem comunidades de Jesus cristo no mundo. Se as pessoas estão quebradas, esvaziadas, adoecidas estão fora da comunhão com Deus, não conhecem a salvação que Deus concedeu a elas, não conhecem o milagre do nascer de novo, não conhecem o evangelho. E a nossa vocação é a de proclamar o evangelho até o fim. 

Confundir a pessoa com a sua opinião é um caminho desastroso. Que o Espírito de Deus abra os nossos olhos e mentes e nos preparem sempre para proclamar o seu amor e salvação, o Deus da vida que conhece nossa história, nosso corpo e espírito, tudo que somos, de onde viemos e para onde iremos, sob o seu cuidado e poder. Paz e graça da parte de nosso bom Deus, que em Cristo nos adotou e nos reconciliou com a vida eterna. Amém.

1 de novembro de 2019

Torcer pela paz

Hoje eu vou torcer pela paz, pelas coisas bonitas e alegres. Hoje eu vou torcer pelo amor. Convido você para fazer o mesmo. Vamos torcer pela chuva, pelo inverno, pelo verão e pelo sol. Vamos torcer pelas flores que resistem ao frio, pelos jardins, pelos rios e florestas. Vamos torcer pelas coisas bonitas, pela vida, pela paz.
Vamos torcer pela nossa cidade, pelos médicos, as médicas, enfermeiros, enfermeiras e hospitais.
Vamos torcer pelo correio, pelos que recebem e entregam encomendas, cartazes e mensagens de paz.
Vamos torcer pelas escolas, pelas crianças e suas mães e seus pais. Vamos torcer pelas professoras e professores, pelo ensino que nos despertam para o sustento, a dignidade, a sabedoria e a paz.

Hoje eu vou torcer pela paz, pelas coisas bonitas, por aquilo que nos faz dignos, livres, cheios de esperança. Vamos torcer pela vida e viver conforme a vontade de Deus Ele diz: Deixo com vocês a paz, a minha paz lhes dou.

Viver a fé nas três Ordens da Criação

Viver a fé nas três Ordens da Criação
(Guilherme Lieven)
Herdamos da Reforma a concepção de Martim Lutero sobre as ordens da organização humana e social. Ele defendeu que Deus está presente e interfere na sua Criação e na organização da vida humana no âmbito da economia, da política e da igreja. Lutero compreendeu que as filhas e filhos de Deus são chamadas para participar da sua missão de transformar, proteger e salvar a vida a partir destas três ordens.
Em sua época Lutero baseou-se num antigo conceito grego das ordens essenciais da sociedade. A economia era definida como a base do sustento da vida humana. Essa era a ordem da casa, da oikos, a base e o espaço da produção de alimentos e bens, desenvolvida por parentes e empregados através do cultivo, da criação de animais e propriedades.
A compreensão de política da época referia-se  às organizações humanas públicas desenvolvidas nas pequenas cidades. Era a ordem da polis, de onde veio o conceito política. Por isso política tem a ver com a organização pública e individual das pessoas, realizada para proteger, organizar e garantir convívio humano justo.
Mais tarde, com a formação das comunidades cristãs surgiu a ordem, o espaço e meio de proclamar o evangelho, interpretar a Palavra de Deus, administrar os sacramentos, ensinar, sustentar e articular valores essenciais e absolutos da vida humana e da comunhão das pessoas umas com as outras e com Deus, a Igreja. 
O Tema do Ano resgatou essa visão de Martim Lutero sobre a atuação de Deus na história, na sua Criação e na organização humana. A proposta veio para um tempo de crise política, econômica e social. Causou surpresas e interpretações contraditórias. O Tema do Ano tornou-se polêmico. Muitos não compreenderam a sua dimensão teológica, profética e sacerdotal, certamente devido a descontinuação na história dos conceitos Economia, Política e Igreja. Para outros veio ser uma oportunidade para manifestar posicionamentos contrários aos conteúdos de fé da Reforma e de Matim Lutero e a visão de que igreja deve passar ao largo da economia e política. A novidade instalada permitiu, por sua vez, conclusões de que está vivo o posicionamento que defende o afastamento de Deus e da sua igreja da ordem pública, da economia e da organização humana. Tornou público o constrangimento a pessoas que se reúnem em comunidades cristãs para viver a fé em Jesus Cristo e falar, proclamar o Evangelho e a vontade amorosa de Deus. A situação criada revelou traços de uma forma incipiente de defender o silêncio da Igreja de Jesus Cristo na Criação e no mundo.

Apesar das polêmicas, incompreensões e contradições o Tema do Ano cumpre o objetivo de trazer para hoje , para os novos 500 anos, a concepção de Martim Lutero sobre a ação e presença de Deus na realidade humana. Chama as comunidades da IECLB para falar da presença de Deus no mundo, da missão de Deus em relações humanas de produção do sustento e da distribuição justa dos meios de vida, nas relações politicas humanas que devem promover proteção social e convivência justa, E, através da igreja revelar e proclamar a ação salvadora de Deus, sua vontade, que torna real, através do serviço de amor, oração, louvor e compromissos, verdadeiros sinais de graça e da paz, de comunhão e da plenitude da vida, a vida gostosa de viver.
Está colocado o desafio às comunidades, lideranças, ministros e ministras do labor teológico pastoral, catequéti

Buscar a paz

Buscar a Paz, acabar com a festa da morte
(P. Guilherme Lieven)

Vivemos num tempo que precisamos buscar a paz. Percebemos um vazio. Parece que está faltando o principal mesmo quando temos muitas coisas. Essa situação é semelhante aquele momento quando cozinhamos e, ao provar o alimento que estamos preparando constatamos que falta alguma coisa. A panela está cheia mas não tem gosto. A impressão é que a panela está vazia.

Temos muitas coisas para viver. Pessoas amigas e confiáveis estão ao nosso lado. Até as flores resistem, também o sol, a lua, as chuvas, o frio e o calor. Mas, e a paz? Falta a paz.

Refiro-me a paz como um invisível volume de afago, um enorme manto de proteção e consolo. Um tesouro maravilhoso composto de esperança e certezas que preenchem a nossa vida e nos tornam maiores do que a dor, o medo, a angústia, o mal. Algo de fora de nós que ocupa o enorme vazio em nosso corpo, mente e espírito. É mais do que uma sede ou fome. Porque mesmo saciados necessitamos dela.

Os discípulos de Jesus, logo depois da crucificação se esconderam em uma casa. Estavam assustados, com medo, feridos pela perda do Mestre, o Filho de Deus. A morte de Jesus criou um buraco em suas vidas. Naquela situação a morte encontrou espaço e dançou uma valsa no corpo, na mente e no espírito dos discípulos. Porém, a ressurreição de Jesus acabou com a festa da morte. O Evangelho de João relata: “… Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: Paz seja convosco!” (Jo 20.20-21). Os discípulos imediatamente ficaram alegres. A ressurreição de Jesus e a sua paz despertaram neles a vida. O tesouro da esperança, certezas de vida os envolveram. Jesus disse-lhes outra vez: A Paz seja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também lhes envio. Recebei o Espírito Santo. Que cenas maravilhosas. Interpreto que Jesus disse assim: Vamos, levantem. Saiam dessa casa. Comecem a viver. Recebam a paz. Eu estarei com vocês. Não tenham medo. Levantem o rosto e vejam à frente o caminho da vida. Vamos semear. A morte está vencida. Pois é! Talvez não foi bem assim… Mas eu consigo imaginar uma cena semelhante a esta.

Com a paz de Cristo os discípulos foram ao mundo. Proclamaram o amor de Deus e deram testemunho da ressurreição, da vitória da vida. Encorajados e santificados com o Espírito Santo que Jesus soprou sobre eles semearam a paz e criaram comunidades cristãs que partilhavam as cargas uns dos outros, que se alegravam e choravam juntos, repartiam o pão e praticavam o amor, os mandamentos de Deus. Faziam boas obras, eram do bem. Comunidades sinais de vida entre os destroços da morte.

Ó vento de Deus

Encontro de Trombonistas – João 20.19-23a
Culto de encerramento do VIII Encontro nacional de Coros de Trombones em Pomerode, SC
Que a graça e a Paz do Deus da ressurreição, Jesus Cristo, seja com todos nós.
Jesus entrou na casa onde estavam escondidos os discípulos e disse: Que a Paz esteja com vocês. Enviou os discípulos para a missão e soprou sobre eles o Espírito Santo - e disse: Recebam o Espírito santo.
O texto do evangelho de João, relata um momento da  aparição de Jesus aos discípulos após a sua ressurreição.  Jesus acalma, proclama a paz, retira o medo deles e os envia para a missão de anunciar o amor de Deus, o perdão a liberdade de vida, a vitória sobre a morte, o reino de Deus.
As primeiras comunidades cristãs, o testemunho sobre a salvação de Deus iniciam na presença de Jesus, no momento de paz. E tudo começa com o Espírito, com o novo sopro de vida. 
Conforme Gênesis 2.7, a nossa vida humana vem do sopro de Deus. Vem do Espírito Santo a vida nova reconciliada com Deus, a vida que ressuscita. Do sopro de Jesus nasce as comunidades, os sinais da paz e do reino de Deus no mundo. Obras do Espírito Santo.
Naquele momento em que Jesus apareceu para encontrar os discípulos, eles estavam com medo, não entendiam o seu assassinato na cruz, tinham medo das autoridades, não sabiam o que ia acontecer e onde estava o amigo, o Cristo, o filho de Deus. A confusão, a angústia, a falta de visão do que ia acontecer no futuro estavam instalada.
Nos dias de hoje Vivemos situações muito semelhantes à situação dos discípulos antes da chegada de Jesus na casa onde se escondiam. Vivemos situação de medo, de angústia, de dúvidas sobre o valor maior da vida, sobre o que é justo e bom. Também hoje vivemos crises de fé, crise com a vocação de amar e servir, crise na hora de caminhar juntos para servir e acolher uns aos outros - poucos querem ser irmãos e irmãs de fato.
Para complicar a nossa situação ainda mais, tem gente feliz por aí, que torcem e até participam das obras da morte. Gostam de um sopro de veneno,.. Adoram o fogo e a destruição. Novamente é tempo de seca em grande parte da Amazônia e tudo pega fogo, a destruição é o espetáculo da morte. 
Entre nós tem gente feliz quando é valente, quando está armado, gente feliz que pensa que consegue cuidar sozinho da sua vida. Que pensa que esse negócio de Deus, é um negócio pra mim, nada de comunidade, contribuir, participar, cantar, ajudar… sozinho estou melhor. O meu plano, o meu sentido é EU e EU, passado não existe e futuro também não. Sobrando EU, que o mal tome conta de tudo.
Tem muita gente feliz com a morte, semelhantes a aquela gente que gritaram crucifica-o! Que fizeram a festa da morte, a festa da crucificação dos três naquele ano da páscoa em Jerusalém - e  um dos crucificados: Jesus, plantado no meio. 
Três dias depois daquela tragédia, naquela situação, no meio dos discípulos, onde estavam escondidos, Jesus soprou o Espírito Santo… Ali nasceram novas vidas. Vida nova que escapa da morte, que é maior do que a morte - Vida de Deus, que ressuscita, ETERNA.
Hoje, amanhã e sempre precisamos do sopro de Jesus, precisamos do Espírito Santo. Porque Ele é paz, forças e coragem para viver, Ele é doador da fé para viver e proclamar a salvação de Deus, de fé para amar e esperar o reino.
O mundo está cheio de obras que não procedem do sopro de Jesus, do Espírito Santo. Essas obras que não são de Deus alegram muita gente. Violência e morte nas famílias, no trânsito, no trabalho, a fome, a destruição da Criação de Deus, a migração, as riquezas roubadas e ilícitas. Poderes e políticas perigosas. 
No tempo de Jesus e hoje estaremos em meio ao perigo, escondendo-nos das obras da morte.

Por isso precisamos de Jesus, do sopro de Jesus. Precisamos do Espírito Santo, precisamos do vento que anima e faz viver. Precisamos viver em comunidade, criar comunhão uns com os outros, viver em comunhão com Deus, participar das obras de Deus, das obras da paz, do novo, da plenitude, das obras que mostram, sinalizam a eternidade, precisamos participar das obras de Deus, dos sopros de Deus que tem melodia, ritmos, notas musicais transformadas em melodias de fé, de esperança, de consolo e de fortalecimento, sons que nos encantam com a vida, com a bondade, com a solidariedade, com a comunhão, com a paz, com a eternidade.

Os corais de Metais participam dessas obras de Deus que nos tiram do esconderijo da morte, que  retira de nós a angústia e o medo. Os corais de metais, todos vocês sopram melodias, interpretam notas que dão ritmo ao movimento nas comunidades, nos cultos e celebrações que nos envolvem com as obras do sopro de Jesus Cristo, com o vento do Espírito de Deus. Os coros de metais estão sempre embalando cultos, celebrações,, confraternizações que fortalecem a fé, que aproximam as pessoas da Palavra e do amor de Deus, das obras da vida.
Que Jesus sopre sempre o Espírito Santo em vocês, que tenham fôlego inesgotável para criar sons que dão vida a melodias, ritmos e palavras que entoam a graça, o amor, a esperança e a fé.

Com alegria, com essa determinação, humildade e comunhão vivida e testemunhada nesse VIII encontro de corais de metais, esforços, ensaios, viagem, bagagem, sejam fortes e livres! Sejam fortes, humildes e livres para soprar e embalar pessoas para fugir das obras da morte e fazer a festa com as obras do sopro de Deus, com as obras do sopro de Jesus, com as obras que o vento Espírito Santo santifica, dá sentido, alimenta e santifica.

Ó Vento de Deus
santifica-nos, lava e seca o mal que nos mata
Retira de nós os medos, as dúvidas, as decepções.
Abra nossos ouvidos para ouvir as melodias, sopradas por nós com fé e coragem.
Abra os nossos lábios para cantar e louvar as tuas obras, semeadas nesse mundo, que floresce, dá frutas, faz viver, que tornam estúpidas as obras da morte, e nos encantam com a vida que há de vir.
Graça e paz! 

Onde está o rosto de Deus?

Mateus 9.36-38
Em Jesus Cristo, Deus se encontra com uma multidão sem guia, sem rumo, sem caminho. Certamente os integrantes da multidão conheciam muitas verdades e propostas para a vida.
Para ser multidão não tinham identidades fortes, tradições e passados, histórias que valesse a pena contar. Da mesma forma, não ouviam falar de nenhuma proposta consistente para o futuro. O que restava era viver cada dia, não esperar muito,  não confiar e nem crer muito.
Uma multidão formada pela falta de condições para trabalhar, para se sustentar, para buscar algo novo que desse sentido para a vida, para ser e receber dignidade, solidariedade, cuidado, cura e amor.
No êxodo, antes de entrar na terra prometida uma crise levou Moisés a subir ao monte e buscar os mandamentos. Na ausência de Deus a multidão criou o seu próprio Deus, o bezerro de ouro. Era preciso de algo para acreditar e de quem buscar poder.
Na crise, as 12 tribos, antes do Estado de Israel, optaram pelo exército, pelo reinado, mesmo sem a autorização de Samuel, mesmo que sabiam que os governantes originavam-se dos espinheiros (Jz 9), porque as outras árvores tinham muito para fazer.
No exílio se dispersaram, transformaram-se em multidão. Perderam suas tradições e o projeto para voltar para casa; viveram sem o Messias; sentiam a ausência de Deus e da vida digna, segura, com fundamento, ancorada na ação salvadora de Deus. Foram alertados pelos profetas, que não conseguiram efeito. Foram negados e martirizados. 
Quando Deus veio ao mundo em Jesus Cristo, quando o Verbo se fez carne, o mundo era plural, politicamente controlado. Uns tornaram-se indiferentes, outros formaram grupos, outros tornaram-se messiânicos, e outros aceitaram a proposta de viver em comunidades.
Em nosso tempo, em nossas vilas e cidades, nas comunidades estamos dispersos e fragilizados, expostos aos perigos. Sedentos e famintos de explicações e de propostas para a vida. Ao ponto de topar qualquer coisa que traga prazer, alegria, sensação de vitória.
Nessa situação dominadora anulam o passado como referência e não se arriscam a construir esperança, esperar algo novo, esperar para depois receber. A sede é imediata, a sensação é que nada poderá ficar para amanhã.

Onde está o rosto de Deus ?

Quem é Igreja?

Neste final de outubro muitas atividades e o tema da Reforma marcam a nossa agenda. Um tempo para refletir sobre Igreja.
Precisamos perguntar em qual dimensão ministros e ministras, ordenados para o ministério eclesiástico são igreja. Quando estão reunidos com a comunidade, na comunhão dos santos pela ação do Espírito Santo? E nas vezes em que atuam como líderes, assessoras, coordenadores, ouvintes e mediadores de diálogos, também ali são igreja?
É complexa a conjugação da dimensão da comunhão dos santos, da comunidade-igreja com a dimensão da ação e vivencia individual da fé por todas as pessoas batizadas e/ou ordenadas para tarefas e missão da igreja. Com facilidade desviamos dos limites destas duas dimensões  e responsabilizamos somente uma delas pelos desvios e pecados. Ainda outro aspecto: Poderia a igreja ser somente doutrina e conteúdos de fé? Sabemos que não. Essas grandezas racionais e reveladas, que resultam do movimento da prática da fé, fermentada pela pregação do evangelho e pela participação nos sacramentos não são pessoas, vidas, filhas ou filhos de Deus. O Espírito Santo na comunhão dos santos (conforme Martim Lutero, catecismo menor) chama pessoas pelo Evangelho, ilumina os dons, santifica e conserva a verdadeira fé, na dimensão individual e comunitária.
Até onde vai a responsabilidade somente de lideranças, ordenadas ou não, pela contínua reforma, ou pelo impedimento desse processo libertador? Como identificamos o chamado e a preparação de protagonistas para anunciar a presença da justiça salvadora de Deus no mundo. Seriam eles as comunidades com as  pessoas ordenadas para o ministério? Ou somente pessoas da Igreja de Jesus Cristo chamadas para tarefas extraordinárias?
Essa reflexão exige considerar que não podemos transportar o movimento da reforma do século XVI para os dias de hoje. O Império Romano, a Igreja Romana, o Imperador, o Papa, as universidades, os conteúdos religiosos, o analfabetismo, a Bíblia em latim, os Príncipes, os camponeses, os templos e palácios, as superstições e indulgências… Se não, quais os critérios hermenêuticos que podemos usar para atualizar essa ação, agora histórica, de Deus no movimento da reforma? A nossa tarefa de sistematizar e identificar, nos dias de hoje, o inimigo, ou os inimigos do evangelho de Jesus cristo não alcança consenso ou legitimidade fácil (O “diábolos" vencido por Cristo parece ainda gemer e espernear.)… Mesmo com essa dificuldade, não podemos fugir do desafio de vigiar, orar e denunciar a idolatria e o pecado constante de atacar o evangelho, como se pudesse ele ser somente uma opinião ou sabedoria humana.
No inconsciente dos ocidentais apresenta-se ainda outra alternativa para resolver esse complexo impasse de transferir essa árdua tarefa: a escolha de heróis. 
Desde criança ouvimos as história, hoje magníficos vídeos, filmes e games, dos heróis humanos que salvam, resgatam, matam o inimigo com magia e poder. Somos traídos por uma expectativa desastrosa que remete para os heróis as tarefas de participar na transformação de realidades mortíferas do nosso mundo. Lembro da canção do meu tempo de pastor da juventude que denunciava a mesma expectativa em relação a Jesus, o Filho de Deus:”Eles queriam um grande rei, que fosse forte e dominador…”
O Verbo sempre foi aviltado. E o Verbo que se tornou carne recebeu o mesmo ataque.
O Deus da graça, da justiça pela fé, da paz, da cruz e da ressurreição continua sendo negado, ou maquiado e apresentado como objeto de mercado.
São Igreja todas as pessoas que exercem o ministério eclesiásticos com todas as pessoas batizadas são filhas e filhos de Deus, inseridas na dinamicidade da vivência da fé, resgatadas pela justiça amorosa de Deus e conduzidas pelo Espírito Santo. Em meio aos perigos, tentações, provocações, atentados a dignidade a Igreja é viva e livre através das pessoas amadas, chamadas para proclamar  a notícia do Cristo de Deus, a paz, o amor diaconia, o Deus da cruz que nos inclui na sua ressurreição.
Precisamos de paciência e de sem medos confiar no caminho em que Deus, o Cristo e o Espírito Santo é o guia, o conteúdo, o protagonista da constante reforma e transformação. Ação sagrada e salvadora de Deus que nos inclui, que permite nossa completa participação.

E para motivar a constante reflexão sobre igreja afirmo ainda, conteúdos e verdades não são igreja. Instituições não são igreja. Grupos e pessoas que se intitulam defensores de verdades, de conteúdos, de ações históricas não são igreja. A Igreja, pela graça de Deus, ação  salvadora de Jesus Cristo e do Espírito Santo é a comunhão dos santos, as comunidades - igreja de Jesus Cristo, onde a presença real de Cristo é proclamada e vivida, pela fé, por todas a pessoas batizadas, membros, lideranças, ministras e ministros com ordenação.

2 de setembro de 2019

Viver comunidade nas cidades

Viver Comunidade na Cidade
(Guilherme Lieven)

Viver a fé cristã em comunidade nas cidades é um bem precioso e ao mesmo tempo um desafio. A fé cristã, a comunhão com Deus, o chamado para amar a Deus e uns aos outros movem as pessoas para a vivência da fé em comunidade. Na cidade, no quotidiano, impactado pelo movimento urbano enfrenta-se a dificuldade para administrar as prioridades. Pode-se afirmar que nesse contexto as pessoas são agendadas ao ponto de comprometer suas opções. E a vida comunitária de fé exige opção, comprometimento, participação. A fé cristã não é uma mercadoria, um bem material a ser adquirido, tal como um objeto pessoal de uso privado. A vivência da fé cristã cria a interação com Deus e com o outro. E, por isso, se faz necessário comprometimento, fidelidades e identificação. O ganho não é episódico. Ele se substancializa na interação com a presença de Deus, que comunitariamente torna-se percebida e alcançada quando há comunhão, diálogo, doação, serviço e amor, quando a comunidade cuida uns dos outros e é conduzida pela ação salvadora de Deus. 
As comunidades luteranas nas metrópoles do sudeste brasileiro nasceram com a influência do modo comunitário de ser Igreja. O templo e a estrutura física, o espaço comunitário foi construído depois. Os cultos, os estudos bíblicos e a articulação de tarefas comunitárias e de serviço aos outros, a diaconia e a evangelização aconteceram primeiro, nas casas, ou em espaços pequenos e improvisados. Com doação e espírito de corpo construíram seus espaços para a vida comunitária e testemunho da fé em Jesus cristo. Foram preparados e construídos a partir da visão e da dimensão comunitária da fé.
Em épocas diferentes as comunidades luteranas correram o risco de contradizer o conteúdo da fé, ao permitirem que a vida comunitária recebesse influência e motivações de forças de proteção interna, exclusão do outro, do desconhecido, do necessitado, dos que viviam à margem ou perseguidos na sociedade desigual e injusta.
Hoje essas mesmas características e forças comunitárias, pela graça de Deus, tal como no passado, voltaram a servir e a se inserir no contexto e na realidade urbana como sinais de paz, porta vozes da esperança e da dignidade de vida, que questiona o comercio da fé, a manipulação do sagrado, também os valores, poderes e estruturas da sociedade que instrumentalizam a Criação, os seres humanos e a vida em peças de um grande mercado.
O jeito luterano de viver a fé cristã se apresenta no labirinto das cidades como um espaço alternativo e singular para as pessoas buscarem a Deus. Oferece o caminho da vivência da fé a partir da comunhão uns com os outros e desenvolve uma rede de interações e compromissos. Por exemplo, práticas e ações comunitárias que promovem atividades, tais como, encontros, atividades litúrgicas e de formação, envolvimento em projetos públicos e diaconais. Esse modelo de vivência da fé pressupõe a partilha, participação e doação despidas de interesses e satisfações pessoais, e as motivações relacionadas ao chamado, a vocação e a missão de Deus a partir da proclamação das Sagradas Escrituras, da administração dos sacramentos e da construção de sinais da vida plena que há de vir.
As metrópoles estão repletas de sinais. Nelas a vida não seria possível sem eles. Indicam e revelam caminhos, endereços, também onde há perigo, ameaças, violência, da mesma forma, onde encontrar-se com o outro, espaços para trabalhar, passear e descansar. O contexto urbano é formado por sinais e espaços que são essenciais para a existência humana. 
A comunidade cristã, preparada para oferecer a vivência comunitária da fé apresenta-se nesse contexto como um precioso espaço de cuidado com a vida, embebido de amor, alegria, gratidão, liberdade e paz. Hospeda a presença de Jesus Cristo, a sua paz, o evangelho. Reúne e acolhe pessoas, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos para naturalmente resistir aos meios da morte, às propostas hedonistas de vida e, assim, interagir na realidade urbana de forma profética e propositiva, com coragem e esperança.
Não é o único e o mais popular. Com as dificuldades de fazer escolhas e definir prioridades, as pessoas nas cidades geralmente não qualificam o espaço comunitário da fé cristã como primeira necessidade. Além do primeiro espaço da casa, movimentam-se nos espaços públicos e privados de trabalho, educação e lazer.  O espaço comunitário religioso da comunidade cristã, quase sempre é o penúltimo.
Na sombra das prioridades urbanas permanece o desafio de garantir ao espaço da comunidade cristã o carisma, a força e o dom de incidir em diferentes contextos das metrópoles com a mensagem, espaço e sinal, que cria dignidade e novidade de vida, o bem precioso que em plenitude há de vir.


31 de agosto de 2019

Buscar a paz - João 20

 Buscar a Paz, acabar com a festa da morte (P. Guilherme Lieven)
Vivemos num tempo que precisamos buscar a paz. Percebemos um vazio. Parece que está faltando o principal mesmo quando temos muitas coisas. Essa situação é semelhante aquele momento quando cozinhamos e, ao provar o alimento que estamos preparando constatamos que falta alguma coisa. A panela está cheia mas não tem gosto. A impressão é que a panela está vazia.
Temos muitas coisas para viver. Pessoas amigas e confiáveis estão ao nosso lado. Até as flores resistem, também o sol, a lua, as chuvas, o frio e o calor. Mas, e a paz? Falta a paz.
Refiro-me a paz como um invisível volume de afago, um enorme manto de proteção e consolo. Um tesouro maravilhoso composto de esperança e certezas que preenchem a nossa vida e nos tornam maiores do que a dor, o medo, a angústia, o mal. Algo de fora de nós que ocupa o enorme vazio em nosso corpo, mente e espírito. É mais do que uma sede ou fome. Porque mesmo saciados necessitamos dela.
Os discípulos de Jesus, logo depois da crucificação se esconderam em uma casa. Estavam assustados, com medo, feridos pela perda do Mestre, o Filho de Deus. A morte de Jesus criou um buraco em suas vidas. Naquela situação a morte encontrou espaço e dançou uma valsa no corpo, na mente e no espírito dos discípulos. Porém, a ressurreição de Jesus acabou com a festa da morte. O Evangelho de João relata: “... Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: Paz seja convosco!” (Jo 20.20-21). Os discípulos imediatamente ficaram alegres. A ressurreição de Jesus e a sua paz despertaram neles a vida. O tesouro da esperança, certezas de vida os envolveram. Jesus disse-lhes outra vez: A Paz seja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também lhes envio. Recebei o Espírito Santo. Que cenas maravilhosas. Interpreto que Jesus disse assim: Vamos, levantem. Saiam dessa casa. Comecem a viver. Recebam a paz. Eu estarei com vocês. Não tenham medo. Levantem o rosto e vejam à frente o caminho da vida. Vamos semear. A morte está vencida. Pois é! Talvez não foi bem assim... Mas eu consigo imaginar uma cena semelhante a esta.
Com a paz de Cristo os discípulos foram ao mundo. Proclamaram o amor de Deus e deram testemunho da ressurreição, da vitória da vida. Encorajados e santificados com o Espírito Santo que Jesus soprou sobre eles semearam a paz e criaram comunidades cristãs que partilhavam as cargas uns dos outros, que se alegravam e choravam juntos, repartiam o pão e praticavam o amor, os mandamentos de Deus. Faziam boas obras, eram do bem. Comunidades sinais de vida entre os destroços da morte.
Vivemos um tempo em que as pessoas estão vazias. Não só os outros, nós mesmos estamos com um enorme buraco em nossas vidas. O ódio está perto de nós. Aquela morte vencida, mesmo derrotada está sendo cultivada. Parece que deu cacho e sementes. Não veio de Deus. Mas, encontrou lugar no coração, na mente e no espírito das pessoas, também em nossas vidas. O fantasma da morte está bem perto, na rua, nas casas, na escola, nas igrejas. Em algumas cidades ela é tão forte que exala odores que se confundem com perfumes sedutores.
Por quê tantos conflitos, falta de compreensão e de diálogo, violência, fome, separações e perseguições? Em casa, na família, nas escolas, no trabalho e no lazer não mais é possível falar livremente da realidade e da situação injusta e pecadora, do cenário vazio em que vivemos. Há divisões e opiniões contraditórias. O herói de cada um é diferente e

 divergente. E o teor da conversa, das reflexões derrapam para o julgamento, para o dualismo do certo e do errado, feio e bonito, branco e vermelho. O tribunal humano encarnado nas mentes e espírito das pessoas ganha honra de condenar os errados e limpar o mundo. Confunde o comportamento dos simples, das pessoas de bem, daquelas e daqueles que buscam a paz. E passa longe das descobertas bíblicas de Martim Lutero no século dezesseis (Estamos no século vinte e um).
Aprendemos dos debates da Reforma que todas as pessoas justas são também pecadoras e todas as pessoas pecadoras, pela fé, recebem a graça de Deus e podem ser justas. Recebem a justificação de Deus e nascem de novo. No catecismo menor, Martim Lutero ensina "que no batismo ganhamos um banho de novo nascimento no Espírito Santo”. Não somos pessoas perdidas. Deus nos adotou para uma nova vida. Mesmo errados somos resgatados. Portanto, nós não conseguimos ser deuses de nós mesmos, muito menos deuses das outras pessoas. Nos relatos do evangelho Jesus conta a história do Joio e do trigo. O dono da plantação proíbe aos seus empregados separarem o joio do trigo antes da colheita ( Mt 13.24-30). No sermão da montanha Jesus afirmou: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados" (Mt 7.1s). A palavra do apóstolo Paulo também é contundente: “... Você que julga os outros é
indesculpável...” (Rm 2.1-3). O caminho para o tribunal humano é tortuoso e cultiva os fantasmas da morte.
Neste triste cenário do nosso tempo as pessoas estão confusas. Na confusão, nós e elas, gostamos de verdades humanas e não damos muita atenção às verdades de Deus. Criamos os nossos mandamentos e esquecemos os mandamentos de Deus. Para ilustrar essa confusão perigosa descrevo uma história antiga, certamente você já a ouviu. Mas, parece ser um conto pós moderno. Um casal saiu para a vila. Foram comprar algumas coisas para a casa. Levaram o burrinho. O caminho era longo. No início da viagem o homem montou no burrinho e a mulher foi caminhando ao lado. As primeiras pessoas que cruzaram por eles comentaram: porque você não deixa a mulher ir montada no burro e você vai caminhando? Tímidos, nem responderam. Depois de uns 50 metros trocaram de posição. Novos transeuntes comentaram: Que homem burro. Ele deveria estar montado no burrinho e não a sua mulher. Esses comentários confundiram o casal. Em seguida os dois montaram no burro. E novos caminhantes, já próximos da vila gritaram: Vocês dois não tem dó do burrinho? Indignados o casal desceu e passou a caminhar ao lado do burrinho. Mais alguns metros depois outros comentaram: esses dois não estão bem da cabeça, porque pelo menos um deles deveria estar montado no burro. Chegaram na vila cansados, aborrecidos e confusos. Aqui não posso relatar, mas afetados pela situação, irritados, participaram de discussões perigosas no armazém da vila. Outros contam que, com ódio, voltaram para casa sem comprar nada.
Desorientados, confusos, vazios e prontos para a briga precisamos dar passos em caminhos que nos levam para a paz. A nossa saída nesse tempo ruim é buscar a paz. Somente a paz que vem de Jesus Cristo tem o poder de preencher o nosso vazio e afastar de nós os fantasmas da morte. Buscar a paz de Cristo para a nossa casa, corpo, mente e espírito. Precisamos da verdadeira alegria para viver. Assim como aconteceu com os discípulos, ao receberem a paz, nós também precisamos levantar as cabeças, sair das nossas tocas e com liberdade ir ao mundo e fazer o bem. Revestidos da paz, certos da graça, do amor e misericórdia de Deus, cheios de esperança, precisamos criar comunidades. Se já a temos, precisamos nos envolver na vida comunitária de fé e nos encantar e encantar aos outros da comunidade com a paz de Cristo.

 Em nosso tempo, no cenário do vazio, a Igreja e nós estamos chamados para buscar e semear a paz, para participar em comunhão com Deus dos sinais da ressurreição de Jesus Cristo, da vida que venceu a morte. A ação salvadora de Deus e o Espírito Santo nos empurra para viver e semear a paz, falar da vontade, da liberdade e da justiça de Deus.
Convido você leitor, vamos fazer alguma coisa, buscar a paz e no caminho viver com os pedaços da paz que vem chegando, ocupando o nosso vazio e nos tornando mais fortes para construir entre os destroços da morte espaços de graça, de esperança, de cuidados e de comunhão. Permita que a paz de Cristo transforme você em uma pessoa livre da morte. Vamos juntos perguntar para a morte, tal como o profeta Oseias pergunto e foi citado pelo apóstolo Paulo: E aí ó morte, onde está o teu aguilhão, a tua vitória? (Oseias 13.14). A morte foi vencida (1 Co 15.54ss).
Escrevi tanto, contei história e fiz comparações para ajudar você, leitor, a se convencer que o caminho mais precioso é aquele que te conduz à paz. Esse é o caminho de Jesus Cristo. Nele encontramos a alegria para viver. Porque nele a morte não dança, nem valsa e nem hip hop. Nesse caminho da paz a vida faz a festa e prepara todas as pessoas, filhas e filhos de Deus, para participarem da missão de construir nesse mundo sinais concretos, vivos e maravilhosos, do novo que virá das mãos de Deus e será pleno.

Provérbios 16.7


A nossa maneira de viver define muitas coisas em nossa vida e na vida dos outros. A nossa maneira de viver interfere na vida das pessoas que convivem conosco, ou que trabalham, ou estudam conosco. Os antigos sabiam disso há três mil anos atrás. Está escrito na Bíblia, em Provérbios: Se a nossa maneira de viver agrada a Deus, ele transforma os nossos inimigos em amigos (Pv 16.7). Se a nossa vida agrada a Deus estamos em paz. Deixamos de ter inimigos. Se vivemos com honestidade, sem truculências, se não queremos ser sempre o melhor, se não difamamos as outras pessoas, ou mentimos, se cultivamos o diálogo, então não temos inimigos pessoais. Podemos ter inimigos estruturais, institucionais, essas pessoas que representam ou ostentam poderes. Elas podem ser perigosas  e se tornar inimigas. Nesse caso, tal como Jesus ensinou precisamos orar por elas.
Vamos cuidar bem, dar atenção, a nossa maneira de viver. Sejamos cuidadosos, solidários, amigos, dispostos a construir comunhão com os outros. Podemos evitar o comportamento de aproveitadores e oportunistas.

Nossa maneira de viver define a graça de viver. A nossa maneira de viver faz o dia melhor ou pior. Escolhamos o melhor. Vamos perceber melhor a beleza, a dádiva da vida, sintamos-nos sintonizados com os sinais maravilhosos da vida abençoada e santificada, que está conosco e nos horizontes. 

Deuteronômio 16.18-20

Prédica Abertura da Semana de Oração pela unidade Cristã
Blumenau, 02/06/2019

Dt.16.18-20

A graça o amor e a comunhão que procedem do Deus Pai e do Filho e do Espírito Santo seja com todos nós. Amém

Desde há muitos séculos as pessoas humanas, a humanidade, o povo de Deus, necessitam da palavra, do mandamento, da voz de Deus, da proclamação do evangelho.

Nós hoje necessitamos da revelação de Deus, através da Palavra e dos seus sinais. Precisamos estar perto do Cristo ressuscitado, para praticarmos a justiça, a misericórdia, a solidariedade, e para ter forças, coragem e fé na construção da paz e no grito por justiça.

Cremos, vemos e sabemos que as pessoas longe de Deus são perigosas.  São poderosas para maquinar e construir os poderes que matam, separam, dividem, criam ódio, violência, desigualdades, sofrimentos e abandono. Somos vítimas da injustiça e dos poderes do mal, e ao mesmo tempo, estamos também comprometidos direta ou indiretamente com essa máquina da morte, porque o nosso comportamento, as nossas escolhas, as nossas verdades SEM DEUS, são imperfeitas e injustas e participam dos poderes que negam o amor e a vontade salvadora de Deus.

O livro de Deuteronômio resgata, reedita, as leis antigas,  e publica as tradições para serem vividas, ouvidas e ensinadas. Chama as novas gerações para viver em comunhão com Deus.

 Este resgate foi direcionado para os que viviam dispersos, fora da sua terra natal, desmotivados, adaptados aos sistemas violentos e injustos da época. O capítulo 16 de Dt ensina sobre as festas, apresenta o modelo de organização humana, os deveres dos juízes de praticar a justiça, seguir a justiça e somente a justiça, não torcer, não adulterar a justiça, não aceitar suborno, não ser tendenciosos… proteger o direito de todos e não só de uma minoria.

Naquele tempo fortalecer as tradições, unir o povo dividido e disperso, ensinar a praticar a justiça, a temer a Deus, seguir e viver nos caminhos de Deus tornou-se libertador, transformador, banho de esperança, remédio fortificante, água refrescante no deserto…

Os cristãos da Indonésia, 10 % da população, uma minoria, num país com centenas de grupos étnicos, com 740 línguas, um país plural, marcado pela diversidade, as comunidades cristãs buscam a solidariedade e a colaboração, a solidariedade. Vivem num país rico, mas onde também há injustiças, corrupção destruição do meio ambiente. Mesmo sendo ricos , muitos vivem na pobreza e as desigualdades geram violência, conflitos, medos, angústias e injustiça. 

Nessa realidade a minoria cristã aprende o valor, a grandeza, a bênção da UNIDADE. Busca a unidade e se volta a Deus para pedir perdão por serem omissos às injustiças e cúmplices com a desigualdade. Os cristãos da Indonesia encontraram no Livro de Deuteronômio o chamado para a unidade e para praticar a justiça: Procurarás a justiça, nada além da justiça”…

Inspirados pela Palavra e por esse povo A SEMANA DE ORAÇAO PELA UNIDADE CRISTÃ,  chama para a unidade. A prática da justiça é o alvo. 

Nessa semana clamamos a Deus para nos unir, e unidos praticar a justiça, viver a justiça. Somos tocados pela realidade e testemunho de um povo e pela Palavra de Deus, pela ação salvadora de Jesus Cristo da Cruz e da ressurreição. Juntos, mesmo diferentes, com diferentes tradições, falando muitas línguas, oramos para Deus no unir, na pratica da justiça, na participação na missão de Deus de transformar as pessoas e a realidade com ações de justiça, de unidade…  

Deus espera isso de nós!!!
 O profeta Miquéias 6.8 perguntou ao povo: O que Deus espera de nós? Ele mesmo respondeu: Que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus…

A nossa oração e movimento ecumênico necessitam de ações e práticas que testemunham justiça e misericórdia. Mesmo na condição de minoria, tais como os cristãos da Indonésia podemos anunciar a vontade de Deus, a justiça. Precisamos quebrar o silêncio e dar testemunho de que a justiça coloca todas e todos no caminho da vida em condições iguais. 

Em unidade, sob o fundamento da palavra de Deus, do evangelho de Jesus cristo, somos chamados para buscar a paz, os direitos, a comida, a saúde, a educação, a dignidade, o direito ao sustento…

Nosso sonho, nossa esperança, baseadas nas promessas de Deus, é participar do banquete de Deus (Isaias), do reino de Deus, do novo que virá sem injustiça, lágrimas, sofrimentos e morte.

Mas, como querer comida se eu não estou disposto a semear, como querer o peixe se eu não gosto de pescar. Como esperar um reino de justiça e plenitude se eu odeio a justiça e pratico o mal, como esperar a vida se me arrisco com os fantasmas da morte?

Queremos a unidade, oramos a Deus pela unidade. Deus, com a sua misericórdia veio ao mundo salvar a todas e todos. Ele não quer perder nenhuma filha ou filho seu. Nós também, filhas e filhos de Deus , membros do seu corpo vivo, não podemos ficar divididos e perder uns aos outros, acusar, enganar, profanar e odiar uns aos outros. Fugir da cruz e da ressurreição.

Vamos escolher gestos, ações de justiça. Praticar a justiça, nada mais do que a justiça, amar a misericórdia e com humildade viver com fé em comunhão, em unidade, perto, bem perto de Deus.


Ó Deus da justiça, ouça o nosso clamor pela unidade e nos incluam nela. Que o Santo Espírito de Deus nos envolva com coragem e fé, com as dádivas de Deus e com a esperança. Busquemos a unidade e façamos ações de justiça. Amém

Gálatas 5.25-6.10 - Plantar e colher o bem

Gálatas 5.25-6.10 Conforme João 6.68, Pedro diz a Jesus que Ele tem a palavra da vida eterna. Não tem outro a ser seguido. Pedro pergunta a...