1 de novembro de 2019

Quem é Igreja?

Neste final de outubro muitas atividades e o tema da Reforma marcam a nossa agenda. Um tempo para refletir sobre Igreja.
Precisamos perguntar em qual dimensão ministros e ministras, ordenados para o ministério eclesiástico são igreja. Quando estão reunidos com a comunidade, na comunhão dos santos pela ação do Espírito Santo? E nas vezes em que atuam como líderes, assessoras, coordenadores, ouvintes e mediadores de diálogos, também ali são igreja?
É complexa a conjugação da dimensão da comunhão dos santos, da comunidade-igreja com a dimensão da ação e vivencia individual da fé por todas as pessoas batizadas e/ou ordenadas para tarefas e missão da igreja. Com facilidade desviamos dos limites destas duas dimensões  e responsabilizamos somente uma delas pelos desvios e pecados. Ainda outro aspecto: Poderia a igreja ser somente doutrina e conteúdos de fé? Sabemos que não. Essas grandezas racionais e reveladas, que resultam do movimento da prática da fé, fermentada pela pregação do evangelho e pela participação nos sacramentos não são pessoas, vidas, filhas ou filhos de Deus. O Espírito Santo na comunhão dos santos (conforme Martim Lutero, catecismo menor) chama pessoas pelo Evangelho, ilumina os dons, santifica e conserva a verdadeira fé, na dimensão individual e comunitária.
Até onde vai a responsabilidade somente de lideranças, ordenadas ou não, pela contínua reforma, ou pelo impedimento desse processo libertador? Como identificamos o chamado e a preparação de protagonistas para anunciar a presença da justiça salvadora de Deus no mundo. Seriam eles as comunidades com as  pessoas ordenadas para o ministério? Ou somente pessoas da Igreja de Jesus Cristo chamadas para tarefas extraordinárias?
Essa reflexão exige considerar que não podemos transportar o movimento da reforma do século XVI para os dias de hoje. O Império Romano, a Igreja Romana, o Imperador, o Papa, as universidades, os conteúdos religiosos, o analfabetismo, a Bíblia em latim, os Príncipes, os camponeses, os templos e palácios, as superstições e indulgências… Se não, quais os critérios hermenêuticos que podemos usar para atualizar essa ação, agora histórica, de Deus no movimento da reforma? A nossa tarefa de sistematizar e identificar, nos dias de hoje, o inimigo, ou os inimigos do evangelho de Jesus cristo não alcança consenso ou legitimidade fácil (O “diábolos" vencido por Cristo parece ainda gemer e espernear.)… Mesmo com essa dificuldade, não podemos fugir do desafio de vigiar, orar e denunciar a idolatria e o pecado constante de atacar o evangelho, como se pudesse ele ser somente uma opinião ou sabedoria humana.
No inconsciente dos ocidentais apresenta-se ainda outra alternativa para resolver esse complexo impasse de transferir essa árdua tarefa: a escolha de heróis. 
Desde criança ouvimos as história, hoje magníficos vídeos, filmes e games, dos heróis humanos que salvam, resgatam, matam o inimigo com magia e poder. Somos traídos por uma expectativa desastrosa que remete para os heróis as tarefas de participar na transformação de realidades mortíferas do nosso mundo. Lembro da canção do meu tempo de pastor da juventude que denunciava a mesma expectativa em relação a Jesus, o Filho de Deus:”Eles queriam um grande rei, que fosse forte e dominador…”
O Verbo sempre foi aviltado. E o Verbo que se tornou carne recebeu o mesmo ataque.
O Deus da graça, da justiça pela fé, da paz, da cruz e da ressurreição continua sendo negado, ou maquiado e apresentado como objeto de mercado.
São Igreja todas as pessoas que exercem o ministério eclesiásticos com todas as pessoas batizadas são filhas e filhos de Deus, inseridas na dinamicidade da vivência da fé, resgatadas pela justiça amorosa de Deus e conduzidas pelo Espírito Santo. Em meio aos perigos, tentações, provocações, atentados a dignidade a Igreja é viva e livre através das pessoas amadas, chamadas para proclamar  a notícia do Cristo de Deus, a paz, o amor diaconia, o Deus da cruz que nos inclui na sua ressurreição.
Precisamos de paciência e de sem medos confiar no caminho em que Deus, o Cristo e o Espírito Santo é o guia, o conteúdo, o protagonista da constante reforma e transformação. Ação sagrada e salvadora de Deus que nos inclui, que permite nossa completa participação.

E para motivar a constante reflexão sobre igreja afirmo ainda, conteúdos e verdades não são igreja. Instituições não são igreja. Grupos e pessoas que se intitulam defensores de verdades, de conteúdos, de ações históricas não são igreja. A Igreja, pela graça de Deus, ação  salvadora de Jesus Cristo e do Espírito Santo é a comunhão dos santos, as comunidades - igreja de Jesus Cristo, onde a presença real de Cristo é proclamada e vivida, pela fé, por todas a pessoas batizadas, membros, lideranças, ministras e ministros com ordenação.

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