27 de agosto de 2015

O valor do perdão para os cristãos


Todos praticam o perdão no dia a dia. As relações humanas construídas com os valores da dignidade, respeito e amor incluem a prática do perdão.  A vida sem o perdão é limitada e doente. O perdão cria uma dinâmica de vida movida por relações humanas que acontecem entre semelhantes imperfeitos. A violência, as injustiças, desigualdades e boa parte do sofrimento humano têm origem na imperfeição, nos comportamentos do ser humano que dependem de superação.



Para os cristãos o perdão é fundamental. Ele integra a vida de fé, a relação de comunhão com Deus e com os outros. Quando conversamos sobre o perdão com as pessoas que partilham do nosso quotidiano, percebemos as diversas facetas desta prática e do seu valor.  Alguns dizem que diariamente necessitam de ser perdoados. Outros respondem que já estão no limite e não conseguem mais perdoar. E há aquelas pessoas que já duvidam do perdão, devido o seu desgaste, por ter tornado uma pratica corriqueira, ao ponto de não gerar arrependimento, ou mudanças no comportamento e na vida das pessoas.

 

Os cristãos incorporaram, com a prática comunitária da fé, o entendimento de que ainda vivem numa condição de imperfeitos e, na linguagem da fé, na condição de pecadores. Creem que dependem do perdão de Deus, da sua ação salvadora, pois não conseguem salvar a si mesmos. Conforme a Bíblia na carta aos Romanos 7.15: Fazem o mal que não querem, e deixam de fazer o bem que tanto almejam. Estão certos de que o perdão de Deus resulta em liberdade para viver e em capacitação para servir e fazer o bem que advogam. É assim que o perdão adquire esse valor especial. Ele passa a ser a porta de entrada para uma dinâmica de vida livre de culpa, de condenação e de indiferença. Torna-se a porta que se abre para o caminho da ação solidária, transformadora, acolhedora, onde os valores da dignidade, da justiça e da paz assumem o lugar de sinais, de luzes que apontam para horizontes novos, onde a vida se renova e torna-se eterna.



As pessoas que integram as comunidades de fé em Jesus Cristo aprendem que a sua própria prática do perdão e o perdão de Deus não os retiram da realidade, da condição humana frágil e imperfeita. Ao contrário, os comprometem com a missão de incidir na realidade, interagindo com as iniciativas comunitárias e civis que transformam vidas, que resgatam condições justas para viver.  Além disso, descobrem que a liberdade, que surge da comunhão com o Deus da reconciliação e perdão facilita a vida, dá sentido, abre horizontes, vence medos e cura angústias.  A vida fica mais bela. Aguça o discernimento e dificulta o assédio do mal.



Sabemos, no entanto, que nem todos e todas que si dizem cristãos têm medo da separação vivencial de Deus. Não sentem a necessidade de salvação. Não se sentem perdidas. É comum nas igrejas modernas, por exemplo, a omissão da confissão de pecados. Toda a revelação na Bíblia da imperfeição humana e da dependência da ação salvadora de Deus é substituída por uma interpretação que destaca a busca humana das dádivas e benefícios de Deus. A ação protagonista de Deus é transferida para a dimensão humana. Certamente essa mudança resultou da paulatina sistematização das reações das novas gerações contra o uso da situação de dependência do ser humano de Deus como meio para oprimir, manipular, julgar, excluir e criminalizar.



Uma vez a transferência da ação salvadora para o ser humano, sem a participação reconciliadora de Deus. Outra vez a reação contra a violenta apropriação da ação de Deus para justificar atrocidades. São dois extremos que dificultam, nos dias de hoje, a leitura do lugar do perdão na vida de fé e o seu valor para a liberdade do ser humano. Este é um desafio enorme depositado no colo das comunidades cristãs. O Espírito Santo sopra o clamor para que o valor do perdão seja resgatado. A sua prática liberta e cria caminhos de paz.



Jesus incluiu o perdão na sua oração, denominada por nós de Pai Nosso. O pedido de perdão – “perdoe as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” - foi incluído entre as poucas petições. A oração que Jesus ensinou continua despertando os cristãos para a prática do perdão. E associa a sua prática no quotidiano, com o recebimento do perdão por parte de Deus, a dádiva da liberdade.

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