31 de agosto de 2019

Buscar a paz - João 20

 Buscar a Paz, acabar com a festa da morte (P. Guilherme Lieven)
Vivemos num tempo que precisamos buscar a paz. Percebemos um vazio. Parece que está faltando o principal mesmo quando temos muitas coisas. Essa situação é semelhante aquele momento quando cozinhamos e, ao provar o alimento que estamos preparando constatamos que falta alguma coisa. A panela está cheia mas não tem gosto. A impressão é que a panela está vazia.
Temos muitas coisas para viver. Pessoas amigas e confiáveis estão ao nosso lado. Até as flores resistem, também o sol, a lua, as chuvas, o frio e o calor. Mas, e a paz? Falta a paz.
Refiro-me a paz como um invisível volume de afago, um enorme manto de proteção e consolo. Um tesouro maravilhoso composto de esperança e certezas que preenchem a nossa vida e nos tornam maiores do que a dor, o medo, a angústia, o mal. Algo de fora de nós que ocupa o enorme vazio em nosso corpo, mente e espírito. É mais do que uma sede ou fome. Porque mesmo saciados necessitamos dela.
Os discípulos de Jesus, logo depois da crucificação se esconderam em uma casa. Estavam assustados, com medo, feridos pela perda do Mestre, o Filho de Deus. A morte de Jesus criou um buraco em suas vidas. Naquela situação a morte encontrou espaço e dançou uma valsa no corpo, na mente e no espírito dos discípulos. Porém, a ressurreição de Jesus acabou com a festa da morte. O Evangelho de João relata: “... Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: Paz seja convosco!” (Jo 20.20-21). Os discípulos imediatamente ficaram alegres. A ressurreição de Jesus e a sua paz despertaram neles a vida. O tesouro da esperança, certezas de vida os envolveram. Jesus disse-lhes outra vez: A Paz seja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também lhes envio. Recebei o Espírito Santo. Que cenas maravilhosas. Interpreto que Jesus disse assim: Vamos, levantem. Saiam dessa casa. Comecem a viver. Recebam a paz. Eu estarei com vocês. Não tenham medo. Levantem o rosto e vejam à frente o caminho da vida. Vamos semear. A morte está vencida. Pois é! Talvez não foi bem assim... Mas eu consigo imaginar uma cena semelhante a esta.
Com a paz de Cristo os discípulos foram ao mundo. Proclamaram o amor de Deus e deram testemunho da ressurreição, da vitória da vida. Encorajados e santificados com o Espírito Santo que Jesus soprou sobre eles semearam a paz e criaram comunidades cristãs que partilhavam as cargas uns dos outros, que se alegravam e choravam juntos, repartiam o pão e praticavam o amor, os mandamentos de Deus. Faziam boas obras, eram do bem. Comunidades sinais de vida entre os destroços da morte.
Vivemos um tempo em que as pessoas estão vazias. Não só os outros, nós mesmos estamos com um enorme buraco em nossas vidas. O ódio está perto de nós. Aquela morte vencida, mesmo derrotada está sendo cultivada. Parece que deu cacho e sementes. Não veio de Deus. Mas, encontrou lugar no coração, na mente e no espírito das pessoas, também em nossas vidas. O fantasma da morte está bem perto, na rua, nas casas, na escola, nas igrejas. Em algumas cidades ela é tão forte que exala odores que se confundem com perfumes sedutores.
Por quê tantos conflitos, falta de compreensão e de diálogo, violência, fome, separações e perseguições? Em casa, na família, nas escolas, no trabalho e no lazer não mais é possível falar livremente da realidade e da situação injusta e pecadora, do cenário vazio em que vivemos. Há divisões e opiniões contraditórias. O herói de cada um é diferente e

 divergente. E o teor da conversa, das reflexões derrapam para o julgamento, para o dualismo do certo e do errado, feio e bonito, branco e vermelho. O tribunal humano encarnado nas mentes e espírito das pessoas ganha honra de condenar os errados e limpar o mundo. Confunde o comportamento dos simples, das pessoas de bem, daquelas e daqueles que buscam a paz. E passa longe das descobertas bíblicas de Martim Lutero no século dezesseis (Estamos no século vinte e um).
Aprendemos dos debates da Reforma que todas as pessoas justas são também pecadoras e todas as pessoas pecadoras, pela fé, recebem a graça de Deus e podem ser justas. Recebem a justificação de Deus e nascem de novo. No catecismo menor, Martim Lutero ensina "que no batismo ganhamos um banho de novo nascimento no Espírito Santo”. Não somos pessoas perdidas. Deus nos adotou para uma nova vida. Mesmo errados somos resgatados. Portanto, nós não conseguimos ser deuses de nós mesmos, muito menos deuses das outras pessoas. Nos relatos do evangelho Jesus conta a história do Joio e do trigo. O dono da plantação proíbe aos seus empregados separarem o joio do trigo antes da colheita ( Mt 13.24-30). No sermão da montanha Jesus afirmou: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados" (Mt 7.1s). A palavra do apóstolo Paulo também é contundente: “... Você que julga os outros é
indesculpável...” (Rm 2.1-3). O caminho para o tribunal humano é tortuoso e cultiva os fantasmas da morte.
Neste triste cenário do nosso tempo as pessoas estão confusas. Na confusão, nós e elas, gostamos de verdades humanas e não damos muita atenção às verdades de Deus. Criamos os nossos mandamentos e esquecemos os mandamentos de Deus. Para ilustrar essa confusão perigosa descrevo uma história antiga, certamente você já a ouviu. Mas, parece ser um conto pós moderno. Um casal saiu para a vila. Foram comprar algumas coisas para a casa. Levaram o burrinho. O caminho era longo. No início da viagem o homem montou no burrinho e a mulher foi caminhando ao lado. As primeiras pessoas que cruzaram por eles comentaram: porque você não deixa a mulher ir montada no burro e você vai caminhando? Tímidos, nem responderam. Depois de uns 50 metros trocaram de posição. Novos transeuntes comentaram: Que homem burro. Ele deveria estar montado no burrinho e não a sua mulher. Esses comentários confundiram o casal. Em seguida os dois montaram no burro. E novos caminhantes, já próximos da vila gritaram: Vocês dois não tem dó do burrinho? Indignados o casal desceu e passou a caminhar ao lado do burrinho. Mais alguns metros depois outros comentaram: esses dois não estão bem da cabeça, porque pelo menos um deles deveria estar montado no burro. Chegaram na vila cansados, aborrecidos e confusos. Aqui não posso relatar, mas afetados pela situação, irritados, participaram de discussões perigosas no armazém da vila. Outros contam que, com ódio, voltaram para casa sem comprar nada.
Desorientados, confusos, vazios e prontos para a briga precisamos dar passos em caminhos que nos levam para a paz. A nossa saída nesse tempo ruim é buscar a paz. Somente a paz que vem de Jesus Cristo tem o poder de preencher o nosso vazio e afastar de nós os fantasmas da morte. Buscar a paz de Cristo para a nossa casa, corpo, mente e espírito. Precisamos da verdadeira alegria para viver. Assim como aconteceu com os discípulos, ao receberem a paz, nós também precisamos levantar as cabeças, sair das nossas tocas e com liberdade ir ao mundo e fazer o bem. Revestidos da paz, certos da graça, do amor e misericórdia de Deus, cheios de esperança, precisamos criar comunidades. Se já a temos, precisamos nos envolver na vida comunitária de fé e nos encantar e encantar aos outros da comunidade com a paz de Cristo.

 Em nosso tempo, no cenário do vazio, a Igreja e nós estamos chamados para buscar e semear a paz, para participar em comunhão com Deus dos sinais da ressurreição de Jesus Cristo, da vida que venceu a morte. A ação salvadora de Deus e o Espírito Santo nos empurra para viver e semear a paz, falar da vontade, da liberdade e da justiça de Deus.
Convido você leitor, vamos fazer alguma coisa, buscar a paz e no caminho viver com os pedaços da paz que vem chegando, ocupando o nosso vazio e nos tornando mais fortes para construir entre os destroços da morte espaços de graça, de esperança, de cuidados e de comunhão. Permita que a paz de Cristo transforme você em uma pessoa livre da morte. Vamos juntos perguntar para a morte, tal como o profeta Oseias pergunto e foi citado pelo apóstolo Paulo: E aí ó morte, onde está o teu aguilhão, a tua vitória? (Oseias 13.14). A morte foi vencida (1 Co 15.54ss).
Escrevi tanto, contei história e fiz comparações para ajudar você, leitor, a se convencer que o caminho mais precioso é aquele que te conduz à paz. Esse é o caminho de Jesus Cristo. Nele encontramos a alegria para viver. Porque nele a morte não dança, nem valsa e nem hip hop. Nesse caminho da paz a vida faz a festa e prepara todas as pessoas, filhas e filhos de Deus, para participarem da missão de construir nesse mundo sinais concretos, vivos e maravilhosos, do novo que virá das mãos de Deus e será pleno.

Provérbios 16.7


A nossa maneira de viver define muitas coisas em nossa vida e na vida dos outros. A nossa maneira de viver interfere na vida das pessoas que convivem conosco, ou que trabalham, ou estudam conosco. Os antigos sabiam disso há três mil anos atrás. Está escrito na Bíblia, em Provérbios: Se a nossa maneira de viver agrada a Deus, ele transforma os nossos inimigos em amigos (Pv 16.7). Se a nossa vida agrada a Deus estamos em paz. Deixamos de ter inimigos. Se vivemos com honestidade, sem truculências, se não queremos ser sempre o melhor, se não difamamos as outras pessoas, ou mentimos, se cultivamos o diálogo, então não temos inimigos pessoais. Podemos ter inimigos estruturais, institucionais, essas pessoas que representam ou ostentam poderes. Elas podem ser perigosas  e se tornar inimigas. Nesse caso, tal como Jesus ensinou precisamos orar por elas.
Vamos cuidar bem, dar atenção, a nossa maneira de viver. Sejamos cuidadosos, solidários, amigos, dispostos a construir comunhão com os outros. Podemos evitar o comportamento de aproveitadores e oportunistas.

Nossa maneira de viver define a graça de viver. A nossa maneira de viver faz o dia melhor ou pior. Escolhamos o melhor. Vamos perceber melhor a beleza, a dádiva da vida, sintamos-nos sintonizados com os sinais maravilhosos da vida abençoada e santificada, que está conosco e nos horizontes. 

Deuteronômio 16.18-20

Prédica Abertura da Semana de Oração pela unidade Cristã
Blumenau, 02/06/2019

Dt.16.18-20

A graça o amor e a comunhão que procedem do Deus Pai e do Filho e do Espírito Santo seja com todos nós. Amém

Desde há muitos séculos as pessoas humanas, a humanidade, o povo de Deus, necessitam da palavra, do mandamento, da voz de Deus, da proclamação do evangelho.

Nós hoje necessitamos da revelação de Deus, através da Palavra e dos seus sinais. Precisamos estar perto do Cristo ressuscitado, para praticarmos a justiça, a misericórdia, a solidariedade, e para ter forças, coragem e fé na construção da paz e no grito por justiça.

Cremos, vemos e sabemos que as pessoas longe de Deus são perigosas.  São poderosas para maquinar e construir os poderes que matam, separam, dividem, criam ódio, violência, desigualdades, sofrimentos e abandono. Somos vítimas da injustiça e dos poderes do mal, e ao mesmo tempo, estamos também comprometidos direta ou indiretamente com essa máquina da morte, porque o nosso comportamento, as nossas escolhas, as nossas verdades SEM DEUS, são imperfeitas e injustas e participam dos poderes que negam o amor e a vontade salvadora de Deus.

O livro de Deuteronômio resgata, reedita, as leis antigas,  e publica as tradições para serem vividas, ouvidas e ensinadas. Chama as novas gerações para viver em comunhão com Deus.

 Este resgate foi direcionado para os que viviam dispersos, fora da sua terra natal, desmotivados, adaptados aos sistemas violentos e injustos da época. O capítulo 16 de Dt ensina sobre as festas, apresenta o modelo de organização humana, os deveres dos juízes de praticar a justiça, seguir a justiça e somente a justiça, não torcer, não adulterar a justiça, não aceitar suborno, não ser tendenciosos… proteger o direito de todos e não só de uma minoria.

Naquele tempo fortalecer as tradições, unir o povo dividido e disperso, ensinar a praticar a justiça, a temer a Deus, seguir e viver nos caminhos de Deus tornou-se libertador, transformador, banho de esperança, remédio fortificante, água refrescante no deserto…

Os cristãos da Indonésia, 10 % da população, uma minoria, num país com centenas de grupos étnicos, com 740 línguas, um país plural, marcado pela diversidade, as comunidades cristãs buscam a solidariedade e a colaboração, a solidariedade. Vivem num país rico, mas onde também há injustiças, corrupção destruição do meio ambiente. Mesmo sendo ricos , muitos vivem na pobreza e as desigualdades geram violência, conflitos, medos, angústias e injustiça. 

Nessa realidade a minoria cristã aprende o valor, a grandeza, a bênção da UNIDADE. Busca a unidade e se volta a Deus para pedir perdão por serem omissos às injustiças e cúmplices com a desigualdade. Os cristãos da Indonesia encontraram no Livro de Deuteronômio o chamado para a unidade e para praticar a justiça: Procurarás a justiça, nada além da justiça”…

Inspirados pela Palavra e por esse povo A SEMANA DE ORAÇAO PELA UNIDADE CRISTÃ,  chama para a unidade. A prática da justiça é o alvo. 

Nessa semana clamamos a Deus para nos unir, e unidos praticar a justiça, viver a justiça. Somos tocados pela realidade e testemunho de um povo e pela Palavra de Deus, pela ação salvadora de Jesus Cristo da Cruz e da ressurreição. Juntos, mesmo diferentes, com diferentes tradições, falando muitas línguas, oramos para Deus no unir, na pratica da justiça, na participação na missão de Deus de transformar as pessoas e a realidade com ações de justiça, de unidade…  

Deus espera isso de nós!!!
 O profeta Miquéias 6.8 perguntou ao povo: O que Deus espera de nós? Ele mesmo respondeu: Que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus…

A nossa oração e movimento ecumênico necessitam de ações e práticas que testemunham justiça e misericórdia. Mesmo na condição de minoria, tais como os cristãos da Indonésia podemos anunciar a vontade de Deus, a justiça. Precisamos quebrar o silêncio e dar testemunho de que a justiça coloca todas e todos no caminho da vida em condições iguais. 

Em unidade, sob o fundamento da palavra de Deus, do evangelho de Jesus cristo, somos chamados para buscar a paz, os direitos, a comida, a saúde, a educação, a dignidade, o direito ao sustento…

Nosso sonho, nossa esperança, baseadas nas promessas de Deus, é participar do banquete de Deus (Isaias), do reino de Deus, do novo que virá sem injustiça, lágrimas, sofrimentos e morte.

Mas, como querer comida se eu não estou disposto a semear, como querer o peixe se eu não gosto de pescar. Como esperar um reino de justiça e plenitude se eu odeio a justiça e pratico o mal, como esperar a vida se me arrisco com os fantasmas da morte?

Queremos a unidade, oramos a Deus pela unidade. Deus, com a sua misericórdia veio ao mundo salvar a todas e todos. Ele não quer perder nenhuma filha ou filho seu. Nós também, filhas e filhos de Deus , membros do seu corpo vivo, não podemos ficar divididos e perder uns aos outros, acusar, enganar, profanar e odiar uns aos outros. Fugir da cruz e da ressurreição.

Vamos escolher gestos, ações de justiça. Praticar a justiça, nada mais do que a justiça, amar a misericórdia e com humildade viver com fé em comunhão, em unidade, perto, bem perto de Deus.


Ó Deus da justiça, ouça o nosso clamor pela unidade e nos incluam nela. Que o Santo Espírito de Deus nos envolva com coragem e fé, com as dádivas de Deus e com a esperança. Busquemos a unidade e façamos ações de justiça. Amém

Gálatas 5.25-6.10 - Plantar e colher o bem

Gálatas 5.25-6.10 Conforme João 6.68, Pedro diz a Jesus que Ele tem a palavra da vida eterna. Não tem outro a ser seguido. Pedro pergunta a...