Quando
Jesus disse: Eu sou o Caminho e a verdade e a vida; Eu sou a luz do mundo, o
pão vivo que desceu do céu, a água que mata a sede para sempre, não tenham medo
dos que matam o corpo, felizes os misericordiosos, felizes os que tem fome e
sede de justiça, onde estiver o seu tesouro, aí estará o seu coração. Quando
Ele afirmou: Eu venci a morte; eu lhes dou a paz! Muitos que ouviam jesus devem ter cochichado
assim: “Agora são outros 500!”
Quando
o Apóstolo Paulo escreveu para a comunidade em Roma: ... o mundo inteiro ouve
falar sobre a fé que vocês têm...; ... o evangelho é poder de Deus para salvar
todos os que creem...; ... o evangelho mostra que Deus nos aceita por meio da
fé – O justo viverá por fé! Nós que somos fortes devemos ajudar os fracos a
carregarem as suas cargas e não devemos agradar a nós mesmos. Não há nenhuma
condenação para as pessoas que estão unidas em Cristo.... Certamente alguns da
comunidade, depois de ouvirem a leitura e os comentários sobre a carta que
receberam de Paulo comentaram assim: “Agora
são outros 500! ”
Se
uma criança tinha uma mochila velha, já rasgada, e ganhou uma nova. Ela, depois
de olhar e usar a nova mochila, surpresa, vai dizer: que mochila bonita, boa...
“Agora são outros 500! ” Se uma pessoa
ganhou no dia do seu aniversário uma camisa nova, ao vesti-la, olha no espelho,
se ajeita e, com graça, afirma: “Agora
são outros 500! ”
Afirmamos
que Jesus trouxe a salvação ao mundo, e agora são outros 500. As pessoas viram
e ouviram coisas extraordinárias. As
primeiras comunidades cristãs, numa realidade injusta e ameaçadora, adversa à
vontade de Deus, ouviram a proclamação do amor de Deus, revelado em Jesus
Cristo. Pessoas foram transformadas, comunidades cristãs nasceram, vidas foram
salvas. Tudo isso foi “outros 500. ” Algo novo e maravilhoso
passou a acontecer em vilas e cidades. E
os ouvintes do evangelho que praticavam a fé percebiam: “Agora são outros 500! ”
Parece
estranho, mas com liberdade podemos anexar mais esse significado à frase que desperta compromisso nas
celebrações e reflexões dos 500 anos da reforma: “agora são outros 500”.
A
nossa história está marcada, moldada e colorida, com os sinais do novo e
extraordinário que veio ao mundo pela ação salvadora de Deus, realizada em
Jesus Cristo.
Há
500 anos atrás, algo novo e surpreendente também aconteceu. Martim Lutero e a
reforma varreram e lavaram muitas coisas velhas da Igreja. Novidades boas surgiram.
Num mundo e numa realidade sedentas de mudanças, ávidas pela ação misericordiosa
e da bênção de Deus, as lideranças do império, da igreja e o povo conheceram as
95 teses de Martim Lutero. Ele anunciou que 95 coisas precisavam mudar na
Igreja. Denunciou o clero e as lideranças que comercializavam a graça e o amor
de Deus. A igreja precisava de uma reforma. A firmeza de Martim Lutero, as
dúvidas e o sofrimento do povo, somadas à situação da igreja cheia de divisões
e de erros, perdida e afastada da sua missão de anunciar o evangelho de Jesus
Cristo fez surgir um novo movimento com novidade de vida. A ação nova de Martim
Lutero chamou para o retorno à obra salvadora de Deus, realizada em Jesus Cristo.
Fundamentou o grito por mudança na necessidade da igreja grudar somente em
Cristo, na Escritura Sagrada, na Bíblia, na Fé e na Graça.
Em
poucos anos muitas coisas mudaram. A Bíblia foi traduzida para a língua alemã.
Tornou-se conhecida pelo povo de Deus. As famílias receberam o catecismo,
escrito por Lutero, para ensinar os conteúdos da fé aos filhos e às famílias.
Conheceram os mandamentos de Deus, as orações da Igreja, os sacramentos do
batismo e da Santa Ceia e a importância da confissão dos pecados. Aos poucos os
cultos ganharam uma nova liturgia e novos hinos, e a Bíblia passou a ser
estudada. Aprenderam sobre a liberdade, sobre a comunhão com Deus, através de
Jesus Cristo. As lideranças da Reforma prepararam uma nova Confissão – A
Confissão de Augsburgo. Tornou-se necessário esclarecer os motivos das mudanças
e a nova vida das comunidades de fé.
As
comunidades que aderiram as mudanças da Reforma viveram e testemunharam coisas
novas e surpreendentes. Certamente alguns comentavam: “Agora são outros 500! ”
Os
fatos da história revelam momentos extraordinários que são verdadeiramente “outros 500”. Quando os primeiros imigrantes Evangélicos
luteranos chegaram ao Brasil trouxeram consigo o seu jeito de viver a fé em
Jesus Cristo: Bíblia, hinário, catecismo, tradições, conhecimentos sobre o
culto, o entendimento e a prática dos sacramentos e ofícios da Igreja. A realidade
brasileira era perversa. Não encontraram recursos para sobreviverem com
dignidade. E, ainda, a sua identidade cristã não foi considerada. A religião
oficial da nova terra era a Católica Romana. As suas formas, liturgias e
tradições de fé não podiam ser praticadas. Igrejas não podiam ser construídas. Nessa
nova realidade os imigrantes começaram a se organizar e resistir. Construíram
escolas, nas suas casas reuniram-se para orar, cantar, ler e estudar a Bíblia. Sabiam
que era preciso somente a escritura sagrada, Jesus Cristo, a fé e a graça de
Deus.
Em
meio aos medos, contradições e perigos, doenças e fatalidades, saudade de
parentes e da terra natal resistiram e organizaram comunidades de fé. Logo
descobriram que com a fé e esperança, unidos em comunidades, em comunhão uns
com os outros e com Deus, educando os filhos e filhas, cuidando dos valores da
justiça e da paz a novidade de vida poderia ser vista. Tempos depois certamente
alguns já afirmavam: “Agora são outros
500!”.
Hoje
vivemos num mundo ruim e ameaçador, onde vale a esperteza, o lucro, a louca
beleza, a vaidade, o sucesso, a corrupção, o roubo, a mentira, a violência, o
ódio e a discriminação de pessoas, onde a maioria está possuída por valores e
interesses brutais e cruéis, que matam, que intoxicam, que separam comunidade e
famílias... completem essa frase. Está faltando mais palavras para descrever o
que se passa em nosso contexto, no país e no mundo.
Nesta
realidade, nós cristãos evangélicos luteranos, guiados por Cristo que apostou
no amor mesmo na cruz, orientados pela Palavra de Deus, com fé e libertados,
sob a graça de Deus somos chamados para testemunhar a novidade de vida, fazer a
diferença, participar do movimento de mudanças e transformação. “Agora são outros 500! ”.
Apostamos
na misericórdia e na bênção de Deus. Construímos comunidades, vivemos em fé e
esperança, praticamos os sacramentos, cuidamos das nossas crianças, cantamos
com instrumentos e em coro, louvamos a Deus, ensinamos os conteúdos da fé aos
nossos adolescentes e jovens, criamos grupos de mulheres e homens, acompanhamos
os doentes e enlutados, agimos e incidimos na realidade através de
instituições, fundações e por meio de ações simples de Diaconia, que têm o
poder da profecia e o gosto da novidade de vida. Nessa realidade vemos e
percebemos que a nossa participação na comunidade, a nossa fidelidade, como
filhos e filhas de Deus são outros 500.
Esta
é a nossa vocação, aceitos por Deus pela fé somos colocados na missão de Deus
nesse mundo para fazer a diferença, criar sinais de vida e anunciar a vontade
de Deus de transformar os seus inimigos em seus amigos. Nossa vida, nossa vida
comunitária de fé, tudo o que fazemos em nome de Deus é para chamar mais pessoas
para viverem em liberdade. Podemos proclamar a elas o evangelho e clamar para
pararem de cultuar a morte, de manipular a palavra de Deus, de acreditar em
valores e poderes escravizam e matam.
Nos
próximos 500 anos buscaremos, com a ação do Espírito Santo, pela proclamação do
evangelho encantar pessoas com a vida, com o amor, com a dignidade e a
liberdade, com a comunhão com Deus em simplicidade. Isso é algo extraordinário,
“são outros 500!”