Deus está entre nós e na Criação
IntroduçãoNum contexto de dúvidas e desconfianças sobre o poder e a salvação de Deus, que não se podem ver, os textos indicados para o 7º Domingo após Pentecostes, em destaque Romanos 8.12-25, presenteiam a revelação do Deus que nos adotam como filhos e filhas. Quando quase todas e todos experimentam uma certa “tonteira”, um vazio, a falta de clareza sobre a presença de Deus e da sua ação salvadora, chega uma mensagem de confiança e esperança no Deus único, o Princípio e o Fim, que revela o que há de vir e cumpre as suas promessas. Aquele Deus que, através do Espírito Santo, sustenta o viver na provisoriedade neste mundo, no limite da natureza humana, imperfeita. Ainda não podemos ver a plenitude, a glória que virá. Conforme a Parábola do texto de Mateus 13, o “joio e o trigo” crescem juntos, e é preciso esperar com paciência a chegada da liberdade completa.
IntroduçãoNum contexto de dúvidas e desconfianças sobre o poder e a salvação de Deus, que não se podem ver, os textos indicados para o 7º Domingo após Pentecostes, em destaque Romanos 8.12-25, presenteiam a revelação do Deus que nos adotam como filhos e filhas. Quando quase todas e todos experimentam uma certa “tonteira”, um vazio, a falta de clareza sobre a presença de Deus e da sua ação salvadora, chega uma mensagem de confiança e esperança no Deus único, o Princípio e o Fim, que revela o que há de vir e cumpre as suas promessas. Aquele Deus que, através do Espírito Santo, sustenta o viver na provisoriedade neste mundo, no limite da natureza humana, imperfeita. Ainda não podemos ver a plenitude, a glória que virá. Conforme a Parábola do texto de Mateus 13, o “joio e o trigo” crescem juntos, e é preciso esperar com paciência a chegada da liberdade completa.
O universo e a vida humana gemem,
padecem. Em nossas cidades e comunidades convivemos com um vazio da fé, da
esperança e do sentido maior da vida, a liberdade doada pelo Espírito Santo
para participar na missão de Deus e na sua glória, plenitude de vida. Nesses
contextos, ao mesmo tempo, subsiste a cultura religiosa desestabilizadora,
despida de escatologia e da esperança na chegada da glória de Deus, a plenitude
da vida que há de vir.
Os textos do 7º Domingo após Pentecostes
revelam a vontade de Deus de nos acompanhar e de nos cuidar, concedendo-nos
dignidade para viver neste mundo com esperança. Essa mensagem é preciosa.
Exegese:
O Apóstolo Paulo responde perguntas
existenciais complexas e o seu fazer teológico edifica comunidades e aponta
para o quérigma do evangelho. Denuncia o limite da natureza humana, o pecado.
Posiciona-se sobre o limite da lei e anuncia a nova vida com o Espírito Santo e
a doção de Deus, a ação salvadora realizada em Cristo na cruz e na ressurreição.
Com a carta aos romanos, Paulo se dirige
às pessoas batizadas na cidade de Roma, tanto das comunidades judaicas como
gregas. Os batizados, agora, estão com Deus, pela presença do Espírito Santo,
através da obra salvadora realizada em Jesus Cristo. Não mais no seguimento a
lei (baseada na aliança, no povo eleito) e na espera de uma intervenção
messiânica de Deus. A lei foi substituída pela presença do Espírito Santo nas
pessoas e pela adoção do Pai, tornando todas herdeiras da glória.
Para alguns exegetas, Romanos 8 é o
centro da carta de Paulo, não por que ela foi estruturada em 16 capítulos, mas
pelo seu conteúdo teológico. O texto, indicado para a mensagem, Rm 8.12-25
reúne os posicionamentos do apóstolo sobre a ação do Espírito Santo na vida das
pessoas, superação da natureza humana, a consequente adoção de Deus; também a
dimensão do Universo, a esperança e a gloriosa liberdade que virá, ou seja, a
dimensão escatológica da ação salvadora de Deus.
Os versículos 12 e 13 apresentam o
Espírito Santo como uma novidade - Deus habita nas pessoas. Ele substitui a
lei. Uma dádiva que supera a imperfeita e pecadora natureza humana e torna as
pessoas vivas.
Esta ação do Espírito Santo cria no ser
humano o compromisso de negar a natureza humana e de não se submeter a ela.
Antes separado de Deus, agora o Espírito Santo o une com Ele. (v.14) Guia e
substitui a Aliança e a lei, e o torna filho de Deus. (v.15) Cria a passagem de
escravo do pecado para livre em comunhão com Deus. Certamente Paulo faz uso
dessa metáfora, escravo, remetendo à escravidão do Egito e ao contexto local
ligado ao mercado de escravos existente em Roma. O Espírito Santo revela para o
ser humano a saída da escravidão e a paternidade carinhosa e bondosa de Deus. Esta
ação de Deus torna-se real no sacramento do Batismo, que anuncia o surgimento da nova pessoa humana,
agora guiada pelo Espírito Santo – a morte da velha pessoa humana e o novo
nascimento dela com o Espírito Santo, concretizam e revelam a adoção de Deus.
(v.16) O Espírito Santo se une ao espírito da natureza humana, sem destruí-lo,
para superar a relatividade humana, a escravidão, e torna-la filha de Deus. O
Espírito Santo incorporado ao ser humano é o Deus presente na criatura humana,
que devolve para ele a dignidade perdida. A dimensão “espiritual” humana
(natureza, mente, corpo, espírito e alma) recebe o Espírito de Deus. Deus amou
a sua criatura humana e veio estar com em sua realidade histórica e real. Esta presença
do Espírito Santo não pode ser diminuída ao entendimento fantasmagórico do que
é espírito, nem se restringir ao sentido platônica, onde o espírito comunica o
reino das ideias ou o “mundo espiritual atingido pelo ser humano”. A presença
de Deus é real e salvadora, compromete e impulsiona.
O versículo 17 aprofunda a adoção de
Deus, referindo a herança que decorre dessa adoção ligada à obra salvífica de
Jesus. Ressalta o vínculo do filho e da filha de Deus com o seu sofrimento e
com a sua glória, ou seja, participam da morte, ressurreição e glorificação de
Cristo (Ap 21.7).
O apóstolo Paulo alerta que a glória que
virá não se limita à libertação só dos sofrimentos que o ser humano conhece e
vive. Ele surpreende, quando nos versículos 18 a 23 vincula a salvação do ser
humano com a libertação de toda a Criação. Se refere a Criação como viva,
também escrava, que geme, sofre e aguarda o parto, o seu novo nascimento. A
glória terá a proporção e manifestará a redenção de tudo, da Criação e dos
seres humanos.
Esperar a glória. Os versículos 24 e 25
apontam para o tempo de espera. Definem a esperança. Uma esperança não
controlada pelos que esperam. A plenitude do novo ser humano e de uma nova
Criação, ainda não revelada completamente, por isso, a glória de Deus. Porém
vinculada ao Redentor, ao seu ato salvífico, ao Espírito Santo presente no ser
humano, à adoção e à herança, também à libertação da Criação. Trata-se da
esperança que se “espera” pela fé, com perseverança e paciência (Hb 11.1; 2 Co
5.7). Esperar uma nova realidade eterna, antecipada em Cristo na história e na
Criação, sem as armadilhas da reduplicação da vida realizada dentro da atual
história. Esperar sem conhecer o que virá, levando em conta o fim da história e
de tudo, e o surgimento do Eterno.
O Eterno que o ser humano não conhece
está, por sua vez, antecipado em fragmentos. Deus veio morar na criação e o
Espírito Santo habita, desde o batismo, no ser humano. O Espírito Santo
antecipa a presença real de Deus no ser humano, como também a dádiva de viver a
história atual na condição de filho ou filha de Deus, herdeiro ou herdeira da
libertação do pecado e da morte, portanto da glória. Em Jesus Cristo e na
presença do Espírito Santo a presença real de Deus no ser humano e na Criação
está antecipada. O ser humano não a conhece completamente, mas participa da sua
concretização histórica nesse mundo e na Criação.
O texto de Paulo, Rm 8.12-25, contém a
mensagem do evangelho de Jesus Cristo, que leva à fé (Rm 10.17). O texto
permite a leitura do Deus salvador e Pai que ama as suas criaturas, e vem para
elas com o Espírito Santo. Ama a sua Criação e a inclui na glória que virá.
Ambas são abraçadas pelo ato salvador realizado na cruz e ressurreição de Jesus
Cristo. E elas participarão da sua glória. Este é o Deus da salvação. Esta é a
mensagem do evangelho de Jesus Cristo que fascina, edifica e transforma.
Meditação
Mais de 20 anos após a morte e
ressurreição de Jesus Cristo, Paulo dá testemunho do ato salvador de Deus, que
torna o ser humano filho, herdeiro da liberdade, da dignidade, da justiça e da
glória, mesmo condicionado à provisoriedade da natureza humana. Anuncia aos
cristãos romanos que, com o Espírito Santo em suas vidas, eles recebem a graça
de participar, já agora, no futuro que virá, quando na chegada da eternidade
cairão, junto com a Criação, no colo do Deus Pai – ABA.Meditação
Paulo responde perguntas e dialoga com dúvidas
e suspeitas diferentes das atuais. Os judeus cristãos tinham medo de se
despirem das leis. Duvidavam se conseguiriam a salvação sem o seguimento a
elas. Os cristãos gregos, pressionados pelos judeus, não confiavam que a fé em
Jesus e na sua ação salvadora seriam suficientes para a liberdade e para
herdarem a eternidade. O fazer teológico de Paulo, naquele contexto edificou as
comunidades e comprometeu os cristãos judeus e gregos com a presença de Deus no
mundo e com a esperança na glória que virá.
O fazer teológico de Paulo também hoje
nos impulsiona. Somos chamadas para dialogar, em nosso contexto, com a mensagem
do evangelho, a partir das nossas dúvidas, suspeitas, levando em conta a crise
religiosa, ética, de fé, por onde circulam propostas de vida e sentido que anulam
a esperança e negam a ação incondicional e salvadora de Deus.
A ação salvadora de Deus nos compromete.
Não podemos fechar os olhos e ouvidos diante da busca das pessoas pela
dignidade, confiança, sentido, justiça e paz. Diariamente trombamos com a sede
por salvação. Lemos os efeitos escravizantes da natureza humana sem a presença
do Espírito Santo, presa ao pecado, que relativiza os valores vitais e expõe a
todas e todos aos modelos e propostas de prazer e felicidade falsos ou
transitórios. Nesse contexto, nesse momento histórico, como filhos e filhas de
Deus, herdeiros da sua glória, pela fé estamos comprometidos com o dom de
anunciar o amor de Deus, a salvação que aconteceu em Jesus Cristo na cruz e na
ressurreição. A nossa tarefa envolve o diálogo com a presença real de Deus em
nós, entre nós, nos eventos humanos e na Criação.
Hoje, milhões de pessoas, também em
nossas comunidades de fé, vivem angustiadas e assustadas. Conhecem o vazio
existencial e lidam com a ausência de horizonte e de esperança. Duvidam da
presença de Deus em suas vidas, no contexto e na história. Trata-se de uma escravidão
quase invisível que as afasta do bem como alvo, e as anulam como participante
na missão salvadora de Deus, presente nas comunidades, na história e na Criação.
Outros seres humanos, que não se encontraram na vida comunitária de fé,
perderam seus referenciais, valores e tradições. Por vezes negaram sua
história, abandonaram identidade cultural e religiosa. Destribalizaram-se! E
vagueam entre as propostas humanas e religiosas à busca por sentido, refratários
a promessas e ao futuro. Adaptam-se ao modo solitário de viver e cultuam a
força e as possibilidades humanas como instância última. Outras milhões de
pessoas ouvem a mensagem do evangelho e, mesmo com dúvidas constantes, creem na
cruz e na ressurreição. Seguem com fé nos altos e baixos da vida, em meio as
contradições, na perda e no sofrimento.
A vida humana e o universo gemem,
padecem. Os seres humanos e a Criação, sem a presença e o rosto de Deus,
caminham para a destruição completa, e não para a plenitude e a glória. Em
nossas cidades e comunidades a desorientação, as multiformes maneiras e
projetos humanos de salvação formam um vulto, uma espécie de dinamicidade da
desgraça, que cegam e surdam as multidões.
Recebemos a vocação, os dons e a
Ordenação para anunciar a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, a partir do
texto de Rm 8.12-25. Dialogar e dar testemunho da presença real de Deus, o Pai
Nosso, na vida dos seres humanos e na Criação.
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