A violência é uma ameaça real. Está intensamente disseminada em nosso meio. É raro encontrar alguém que nunca foi vítima de violência ou que não conheça alguém próximo que tenha sido. A violência agora é um fenômeno da terceira pessoa do plural. Quem é ela? De onde ela vem? Que poderes ela tem? Ela tem o poder de nos vender e de nos comprar, de invadir o nosso corpo e de nos matar. Adentra em nossas casas, em nossas escolas, em nossas ruas e em nossas vidas.
Violência, o que ouvir e o que falar?
“Eles querem te vender, eles querem te comprar.
Querem te matar a sede, eles querem te sedar.
Quem são eles? Quem eles pensam que são?
Vender...comprar...vedar os olhos, Jogar a rede contra a parede.
Querem te deixar com sede. Não querem nos deixar pensar.
Quem são eles? Quem eles pensam que são?”
(3ª Pessoa - Engenheiros do Hawaii)
A violência é uma ameaça real. Está intensamente disseminada em nosso meio. É raro encontrar alguém que nunca foi vítima de violência ou que não conheça alguém próximo que tenha sido. A violência agora é um fenômeno da terceira pessoa do plural. Quem é ela? De onde ela vem? Que poderes ela tem? Ela tem o poder de nos vender e de nos comprar, de invadir o nosso corpo e de nos matar. Adentra em nossas casas, em nossas escolas, em nossas ruas e em nossas vidas. Conseqüentemente, um grande segmento da população, na falta de espiritualidade, vazio de valores e de objetivos para a vida, feridos usa a violência como meio de expressão, como um estilo de vida. Como resistir? O que fazer e como ajudar? O que ouvir e o que falar sobre a violência?
As imagens e informações sobre a violência em nossas cidades se repetem diariamente. Na mídia a violência já atingiu o ápice da vulgarização, passando a sugerir a própria violência como solução para os conflitos. O poder e o impacto da violência e a forma como ela é apresentada para a população interfere diretamente no quotidiano das pessoas e comunidades, determinando comportamentos, questionando conceitos antes de consenso e, entre outros danos, gerando o medo obsessivo que legitima a fuga, a omissão e a indiferença.
Estamos entre a guerra e a morte, entre a polícia e o bandido, entre a agressão e o medo. Convivemos com os abusos em vários níveis, com a injustiça institucionalizada, com as desigualdades cruéis e injustificadas. Trabalhamos e descansamos em meio aos poderes da morte. Aceitamos a violência contra as crianças, contra as mulheres, contra os jovens, contra os idosos, contra as instituições que salvam vidas, contra a natureza e o meio ambiente. Em meio aos medos e angústias, clamores e prantos, aprendemos a conviver com a violência como um fenômeno invencível. Desta forma, aos poucos tudo em volta vai se deteriorando, também os nossos valores, nossas verdades, nossas heranças culturais e espirituais. Perigosamente somos educados e nos educamos para conviver com a violência e suas conseqüências, incorporamos o medo, o sofrimento e a morte.
A sensação de insegurança é plena. O medo é, na mesma proporção da violência, brutal. Amputa a vida comunitária, a construção de horizontes e de esperança. Impede o controle da própria vida. A violência e a forma como ela é divulgada, experimentada e assimilada cria e difunde o medo exacerbado, que toma proporção de doença mental, que vai de neurose e paranóia a síndrome do pânico, causando transtornos físicos (úlcera, taquicardia, hipertensão e tensão muscular).
Atingidos pela violência, acometidos do medo somos chamados para ouvir e falar sobre a violência como pessoas que confiam no poder do Espírito Santo, aquele que sopra vida para além dos nossos limites, que tem o poder de criar a vida a partir da morte, de perdoar, sarar e reconciliar. O Espírito Santo proclama que a violência será vencida pelo caminho da reconciliação. Ouvimos da Palavra de Deus que a solução não é fugir e construir “ilhas”, não é imitar a maioria, distanciar-se do problema, fugir da realidade e da cruz, silenciar-se, ficar indiferente e fechar os vidros do carro, aumentar as grades e os muros, atualizar os alarmes e as armas. Como parte da comunidade cristã falamos que a cura e a reconciliação com a vida e com Deus não serão atingidas através da força e de leis mais rígidas e vingativas. A nossa espiritualidade que brota da Palavra e da ação de Deus, vivida em comunidade,
alimentada pelo Espírito Santo subverte os poderes da violência. Com ela exercemos cidadania como agentes de paz e reconciliação.
O que ouvir e o que falar em meio à violência e seus poderes? Não podemos mentir, muito menos imitar os que brincam, simplificam e usam a violência para lucrar, sedar e confundir. Não temos o poder de transformar o mundo, mas confiamos na graça de Deus, na sua presença salvadora e transformadora em nossa realidade de cruz, de violência. Cremos que esta presença de Deus entre nós, através do Cristo que venceu a morte e ressuscitou desperta esperança, vocaciona as Igrejas, as comunidades, as pessoas e as instituições para resistirem à violência, criando espaços para a paz, para a esperança, para a solidariedade, para a educação, para a dignidade, para o consolo e a fraternidade.
(Guilherme Lieven)