7 de setembro de 2020

Buscar a Paz, acabar com a festa da morte

Vivemos num tempo que precisamos buscar a paz. Percebemos um vazio. Parece que está faltando o principal mesmo quando temos muitas coisas. Essa situação é semelhante aquele momento quando cozinhamos e, ao provar o alimento que estamos preparando constatamos que falta alguma coisa. A panela está cheia mas não tem gosto. A impressão é que a panela está vazia.


Temos muitas coisas para viver. Pessoas amigas e confiáveis estão ao nosso lado. Até as flores resistem, também o sol, a lua, as chuvas, o frio e o calor. Mas, e a paz? Falta a paz.


Refiro-me a paz como um invisível volume de afago, um enorme manto de proteção e consolo. Um tesouro maravilhoso composto de esperança e certezas que preenchem a nossa vida e nos tornam maiores do que a dor, o medo, a angústia, o mal. Algo de fora de nós que ocupa o enorme vazio em nosso corpo, mente e espírito. É mais do que uma sede ou fome. Porque mesmo saciados necessitamos dela.


Os discípulos de Jesus, logo depois da crucificação se esconderam em uma casa. Estavam assustados, com medo, feridos pela perda do Mestre, o Filho de Deus. A morte de Jesus criou um buraco em suas vidas. Naquela situação a morte encontrou espaço e dançou uma valsa no corpo, na mente e no espírito dos discípulos. Porém, a ressurreição de Jesus acabou com a festa da morte. O Evangelho de João relata: “… Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: Paz seja convosco!” (Jo 20.20-21). Os discípulos imediatamente ficaram alegres. A ressurreição de Jesus e a sua paz despertaram neles a vida. O tesouro da esperança, certezas de vida os envolveram. Jesus disse-lhes outra vez: A Paz seja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também lhes envio. Recebei o Espírito Santo. Que cenas maravilhosas. Interpreto que Jesus disse assim: Vamos, levantem. Saiam dessa casa. Comecem a viver. Recebam a paz. Eu estarei com vocês. Não tenham medo. Levantem o rosto e vejam à frente o caminho da vida. Vamos semear. A morte está vencida. Pois é! Talvez não foi bem assim… Mas eu consigo imaginar uma cena semelhante a esta.


Com a paz de Cristo os discípulos foram ao mundo. Proclamaram o amor de Deus e deram testemunho da ressurreição, da vitória da vida. Encorajados e santificados com o Espírito Santo que Jesus soprou sobre eles semearam a paz e criaram comunidades cristãs que partilhavam as cargas uns dos outros, que se alegravam e choravam juntos, repartiam o pão e praticavam o amor, os mandamentos de Deus. Faziam boas obras, eram do bem. Comunidades sinais de vida entre os destroços da morte.


Vivemos um tempo em que as pessoas estão vazias. Não só os outros, nós mesmos estamos com um enorme buraco em nossas vidas. O ódio está perto de nós. Aquela morte vencida, mesmo derrotada está sendo cultivada. Parece que deu cacho e sementes. Não veio de Deus. Mas, encontrou lugar no coração, na mente e no espírito das pessoas, também em nossas vidas. O fantasma da morte está bem perto, na rua, nas casas, na escola, nas igrejas. Em algumas cidades ela é tão forte que exala odores que se confundem com perfumes sedutores.


Por quê tantos conflitos, falta de compreensão e de diálogo, violência, fome, separações e perseguições? Em casa, na família, nas escolas, no trabalho e no lazer não mais é possível falar livremente da realidade e da situação injusta e pecadora, do cenário vazio  em que vivemos. Há divisões e opiniões contraditórias. O herói de cada um é diferente e divergente. E o teor da conversa, das reflexões derrapam para o julgamento, para o dualismo do certo e do errado, feio e bonito, branco e vermelho. O tribunal humano encarnado nas mentes e espírito das pessoas ganha honra de condenar os errados e limpar o mundo. Confunde o comportamento dos simples, das pessoas de bem, daquelas e daqueles que buscam a paz. E passa longe das descobertas bíblicas de Martim Lutero no século dezesseis (Estamos no século vinte e um).


Aprendemos dos debates da Reforma que todas as pessoas justas são também pecadoras e todas as pessoas pecadoras, pela fé, recebem a graça de Deus e podem ser justas. Recebem a justificação de Deus e nascem de novo. No catecismo menor, Martim Lutero ensina "que no batismo ganhamos um banho de novo nascimento no Espírito Santo”.  Não somos pessoas perdidas. Deus nos adotou para uma nova vida. Mesmo errados somos resgatados. Portanto, nós não conseguimos ser deuses de nós mesmos, muito menos deuses das outras pessoas. Nos relatos do evangelho Jesus conta a história do Joio e do trigo. O dono da plantação proíbe aos seus empregados  separarem o joio do trigo antes da colheita ( Mt 13.24-30). No sermão da montanha Jesus afirmou: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados" (Mt 7.1s). A palavra do apóstolo Paulo também é contundente: “… Você que julga os outros é indesculpável…” (Rm 2.1-3). O caminho para o tribunal humano é tortuoso e cultiva os fantasmas da morte.


Neste triste cenário do nosso tempo as pessoas estão confusas. Na confusão, nós e elas, gostamos de verdades humanas e não damos muita atenção às verdades de Deus. Criamos os nossos mandamentos e esquecemos os mandamentos  de Deus. Para ilustrar essa confusão perigosa descrevo uma história antiga, certamente você já a ouviu. Mas, parece ser um conto pós moderno. Um casal saiu para a vila. Foram comprar algumas coisas para a casa. Levaram o burrinho. O caminho era longo. No início da viagem o homem montou no burrinho e a mulher foi caminhando ao lado. As primeiras pessoas que cruzaram por eles comentaram: porque você não deixa a mulher ir montada no burro e você vai caminhando? Tímidos, nem responderam. Depois de uns 50 metros trocaram de posição. Novos transeuntes comentaram: Que homem burro. Ele deveria estar montado no burrinho e não a sua mulher. Esses comentários confundiram o casal. Em seguida os dois montaram no burro. E novos caminhantes, já próximos da vila gritaram: Vocês dois não tem dó do burrinho? Indignados o casal desceu e passou a caminhar ao lado do burrinho. Mais alguns metros depois outros comentaram: esses dois não estão bem da cabeça, porque pelo menos um deles deveria estar montado no burro. Chegaram na vila cansados, aborrecidos e confusos. Aqui não posso relatar, mas afetados pela situação, irritados, participaram de discussões perigosas no armazém da vila. Outros contam que, com ódio, voltaram para casa sem comprar nada.


Desorientados, confusos, vazios e prontos para a briga precisamos dar passos em caminhos que nos levam para a paz. A nossa saída nesse tempo ruim é buscar a paz. Somente a paz que vem de Jesus Cristo tem o poder de preencher o nosso vazio e afastar de nós os fantasmas da morte. Buscar a paz de Cristo para a nossa casa, corpo, mente e espírito. Precisamos da verdadeira alegria para viver. Assim como aconteceu com os discípulos, ao receberem a paz, nós também precisamos levantar as cabeças, sair das nossas tocas e com liberdade ir ao mundo e fazer o bem. Revestidos da paz, certos da graça, do amor e misericórdia de Deus, cheios de esperança, precisamos criar comunidades. Se já a temos, precisamos nos envolver na vida comunitária de fé e nos encantar e encantar aos outros da comunidade com a paz de Cristo.


Em nosso tempo, no cenário do vazio, a Igreja e nós estamos chamados para buscar e semear a paz, para participar em comunhão com Deus dos sinais da ressurreição de Jesus Cristo, da vida que venceu a morte. A ação salvadora de Deus e o Espírito Santo nos empurra para viver e semear a paz, falar da vontade, da liberdade e da justiça de Deus.


Convido você leitor, vamos fazer alguma coisa, buscar a paz e no caminho viver com os pedaços da paz que vem chegando, ocupando o nosso vazio e nos tornando mais fortes para construir entre os destroços da morte espaços de graça, de esperança, de cuidados e de comunhão. Permita que a paz de Cristo transforme você em uma pessoa livre da morte. Vamos juntos perguntar para a morte, tal como o profeta Oseias pergunto e foi citado pelo apóstolo Paulo: E aí ó morte, onde está o teu aguilhão, a tua vitória? (Oseias 13.14). A morte foi vencida (1 Co 15.54ss).


Escrevi tanto, contei história e fiz comparações para ajudar você, leitor, a se convencer que o caminho mais precioso é aquele que te conduz à paz. Esse é o caminho de Jesus Cristo. Nele encontramos a alegria para viver. Porque nele a morte não dança, nem valsa e nem hip hop. Nesse caminho da paz a vida faz a festa e prepara todas as pessoas, filhas e filhos de Deus, para participarem da missão de construir nesse mundo sinais concretos, vivos e maravilhosos, do novo que virá das mãos de Deus e será pleno.


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