A nossa Igreja, a IECLB,
em 2018 definiu o tema: Igreja, Economia e Política. A escolha foi motivada
pela comemoração dos 500 anos da Reforma, que apontou novamente para a
importância dos conteúdos de fé da tradição evangélico-luterana. Estas três
palavras definem as três dimensões fundamentais da existência humana. Para
Martim Lutero, por exemplo, a igreja vem em primeiro lugar na organização
humana. Refletimos, nesse texto, sobre a igreja, a sua vocação, tarefa e carisma.
Somos uma igreja de
comunidades, onde a Palavra de Deus é anunciada, praticada e vivenciada. As
comunidades cristãs surgiram da Palavra de Deus, da proclamação do evangelho,
da administração dos sacramentos, do ensino, do testemunho e da vivência da fé.
A Confissão de Augsburgo,
que observamos como documento confessional ensina que a igreja cristã é a congregação
de todos os crentes e santos (art.8), chamada para construir a unidade. Como
diz o apóstolo Paulo: “Há somente um
corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa
vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4).
A comunidade é o corpo visível e invisível de Jesus Cristo. Na primeira carta
aos Coríntios (12) lemos que nesse corpo todos são importantes. Mesmo
diferentes, fortes ou fracos, em movimento mostram os sinais da presença de
Cristo nos contextos e no mundo.
A igreja de comunidades, que
somos hoje, herdou as comunidades que se formaram no Brasil desde o século 19
com a imigração. Primeiro surgiram as comunidades, escolas e cemitérios; depois
vieram os pastores e missionários. E mais tarde, com muitos esforços
organizaram as comunidades em Sínodos. Nesse processo e caminhada com muita
poeira, surge a IECLB do desafio de constituir uma igreja evangélica de
confissão luterana em nível de Brasil.
A constituição da IECLB definiu que
somos uma igreja de Jesus Cristo no País, formada por Comunidades e pelos
membros a elas filiados. Conforme esse documento, ela tem a tarefa de propagar
o Evangelho de Jesus Cristo; estimular
a vivência evangélica pessoal, familiar e comunitária; promover a paz, a
justiça e o amor na sociedade; participar do testemunho do Evangelho no País e
no mundo. Estas proposições estão fundamentadas na Palavra que comunica a
vontade de Deus, qual seja, que todos os seres humanos sejam salvos (1Tm 2.4) e
conheçam a verdade e vivam com dignidade.
As comunidades cristãs, organizadas em igreja, pela
graça e ação do Espírito Santo, recebem a vocação de apresentar Deus ao mundo e
às pessoas. Anunciar a sua vontade, o seu amor. E Deus mesmo afirmou: Eu sou o SENHOR, teu Deus (Ex.20.2ª)! O Deus que tirou o povo da escravidão
no Egito. Aquele que doou a vida ao ser humano e o tornou livre para amar e
anunciar a paz, a justiça, a vida no mundo.
A igreja de comunidades, com esse talento de Deus em
suas mãos organiza, apoia, assessora, cultiva a unidade. Movimenta o testemunho
e as ações do único Deus salvador. Proclama o verdadeiro Deus que veio ao mundo
em Jesus Cristo e trouxe a reconciliação, o amor sem fim, os sinais da
plenitude que virá, tornando a Criação e os seres humanos herdeiros da
eternidade, livres do pecado e da morte.
A igreja das comunidades cristãs aceita a voz e o
chamado de Deus para louvar, partilhar, semear o amor, a justiça, a paz e
participar dos sinais da presença do Cristo de Deus no mundo. Celebra a vida. Assume
o compromisso de criar espaços novos para a vivência da fé que denuncia os
poderes da morte (Mt 10.28) e estabelece sinais de liberdade, diálogo,
solidariedade, partilha, consolo, cuidado e de paz.
Podemos comparar a igreja com um livro de cantos
permanentemente aberto. As comunidades são os hinos. Cada hino tem a sua
partitura, pauta, compasso, melodia, ritmo, identidade, conteúdo e poesia.
Assim como cada comunidade tem a sua forma, seu ritmo de vivência de fé, seu
contexto, história, tradições, desafios, talentos e vocação. O livro de cantos
é o ajuntamento de todos esses hinos. O livro organiza e apresenta os hinos.
Facilita o manuseio. Explica as diversas partes e motiva as cantoras e cantores
a cantar com ritmo, devoção e alegria. A igreja, por sua vez, também apresenta
a Palavra de Deus e organiza a sua proclamação. Chama para a gratidão e ao
louvor. Movimenta as comunidades para servir e testemunhar em unidade nos diferentes
contextos, em meio a diversidade, diante de múltiplos desafios, e as aprontam
para viver em comunhão com Deus e anunciar a boa notícia da salvação.
O livro de cantos da nossa igreja é pesado. Se cair no
pé machuca. Também a igreja pode ser avaliada como pesada. Porém a tarefa da igreja não é só bonita e confortável.
No movimento do corpo de Cristo visível inclui a perseguição e a cruz. A tarefa
é leve como ensinou Jesus (Mt 11.30), mas também pode ser pesada. Exige planejamento
(Lc 14.28) e fidelidade (Lc 9.62). Por isso a igreja ao cumprir a sua tarefa
gera muitas reuniões, encontros de formação, reunião de conselhos, assembleias,
concilio, sustentação de centros de formação teológica. A organização e os
compromissos da igreja demandam secretarias e departamentos. Há uma tarefa a
ser cumprida. A igreja é de Deus, por ele entregue aos seus filhos e filhas
pecadoras e limitadas, que sob a sua graça e sua justificação abriga a sua
presença e suas ações transformadoras.
A igreja reúne as comunidades cheias de crianças,
adolescentes, jovens, adultos, idosos, indivíduos e famílias. São pequenos e
fortes, alegres e tristes, também cansados, doentes e angustiados. Com elas a
igreja se coloca em movimento. Alimenta o diálogo dos seres humanos com Deus e
a sua Palavra. Com fé, esperança, com a palavra
que liberta e salva, sob a graça e a santificação celebra as dádivas e ações
maravilhosas de Deus, na realidade violenta, manchada pela morte.
Esta é a igreja que
chegou ao mundo a partir da ação criadora, salvadora e santificadora de Deus. Tornou-se
a dimensão fundamental da existência humana, que corajosamente interage com a
economia e a política, dimensões fundamentais da existência humano no mundo.