O tema liberdade nos envolve intensamente. Ao resistirem à submissão e às formas de dominação, nossas escolhas e opiniões, nossas forças e articulações têm como pano de fundo a busca por liberdade.
Em todos os tempos tentou-se definir e explicar a liberdade. Ao se referirem à liberdade, grandes filósofos usaram a maneira negativa da definição: ausência de determinação, submissão, servidão e dominação. Emanuel Kant defendeu que o ser livre é autônomo para usar os seus conhecimentos e definir as suas regras. Jean-Paul Sartre propôs uma definição ontológica, ou seja, o ser humano originalmente é livre, busca ser livre e ele mesmo pode desenvolver sua liberdade.
Em todos os tempos tentou-se definir e explicar a liberdade. Ao se referirem à liberdade, grandes filósofos usaram a maneira negativa da definição: ausência de determinação, submissão, servidão e dominação. Emanuel Kant defendeu que o ser livre é autônomo para usar os seus conhecimentos e definir as suas regras. Jean-Paul Sartre propôs uma definição ontológica, ou seja, o ser humano originalmente é livre, busca ser livre e ele mesmo pode desenvolver sua liberdade.
A liberdade é um tema vivo, que aguça debates, críticas e opiniões. A poetisa, professora e jornalista Cecília Meireles destacou com beleza: “'Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda!” (Romanceiro da Inconfidência).
O desafio não é menor quando a referência do debate e aprendizado é a fé cristã. Já em 1520, Martim Lutero afirmou enfaticamente que "um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém - pela fé. O cristão é servidor de todas as coisas e submisso a todos - pelo amor" (Livro: Da Liberdade Cristã). Lutero rompeu com o regime de leis e hierarquias religiosas, apresentadas como mediadoras para a salvação. Através de uma consistente elaboração teológica, apresentou e anunciou a liberdade como dádiva da fé na graça de Deus; liberdade que provém da justiça e do amor incondicional de Deus. Sua teologia questionou doutrinas e poderes eclesiásticos que exerciam submissão e promoviam dependência. Ela desenvolveu a espiritualidade cristã que aproxima a pessoa humana diretamente de Deus, o Deus da liberdade e da vida.
A partir da teologia e da espiritualidade luteranas, o encontro do ser humano com a liberdade pressupõe a compreensão de que ele nasce dependente de uma ação externa para alcançar a sua libertação da morte. A vitória sobre a morte é a primeira liberdade a ser alcançada pelo ser humano. Não é suficiente nascer, respirar e ser saudável, a liberdade vem com a certeza de que a vida é maior do que a morte. A vida plena, a eternidade, que é criada por Deus em Jesus Cristo, é a condição primária e singular que remete o ser humano a resistir contra os poderes da escravidão e a construir espaços de dignidade, justiça, igualdade e paz, onde a liberdade é visível e real.
Afirmamos que a liberdade vem da fé na vitória de Jesus sobre a morte. A vida livre é uma dádiva de Deus. Todos os nossos esforços para nos salvar a nós mesmos nos escravizam e matam. Concluímos que, pela fé, somos livres de todas as coisas. Não precisamos fabricar ou comprar a liberdade. Deus já no-la presenteou. A fé e a liberdade disponibilizam a nossa vida para participar do movimento humano que respira e gera vida através do amor. Conforme Martim Lutero, a única força que pode nos escravizar é o amor.
Numa sociedade em movimento, dividida em tempo de trabalho e tempo de consumo e lazer, a liberdade cristã anuncia e constrói espaços alternativos que preparam e sustentam o ser humano na sua constante busca por liberdade. Nos limites da humanidade é possível ser e interagir com a missão sagrada de anunciar a vitória sobre a morte e de se movimentar livremente na realidade em que a eternidade da vida se antecipa e manifesta.
Guilherme Lieven